45. Verdades Óbvias

4.4K 359 92
                                    

A porta da sala se abre novamente. Marcos está de volta, com um habeas corpus e um policial com as chaves de minhas algemas.

Sou liberto do metal frio e parece que uma tonelada é tirada de mim.

Marcos faz um gesto:

— Vamos para casa — meus ombros finalmente cedem à gravidade. Luto para que todo o resto também não ceda. Estou cansado e muito abatido.

Caminho com Marcos pelos corredores da delegacia, em direção à saída, espero. Ter que dar outro depoimento ou ir em outro departamento ali é demais para mim. O Delegado nos acompanha durante todo o trajeto e antes de finalmente estar livre daquele lugar, o baixinho diz em alto e bom tom:

— Não comemore muito. Você pode voltar bem antes do que imagina.

A tonelada a mais volta, me deixando mais cansado que antes, lento. É aterrorizante ser acusado de algo que não fez, e se ver atrás das grades a qualquer momento por isso.

— Está intimidando meu cliente? — pergunta Marcos, claramente irritado.

— Não. Apenas alertando.

— Garanto que na frente de um juíz não vai parecer um alerta — retruca, e logo começo a gostar do garoto da pele bronzeada e sorriso perfeito. Mas só um pouquinho — o que vocês fizeram aqui, é crime. Prenderam meu cliente sem nenhuma prova concreta. Vão responder por isso.

— O que fizemos, Sr. Dutra, foi controlar uma pessoa que estava totalmente desestabilizada em uma cena de crime.

— E tentaram uma confissão forçada — completa ele.

O Delegado ri, como se aquilo não fosse tão grave assim.

— Ossos do ofício.

Marcos não acha graça, nem eu. Não há nada de engraçado naquilo. O Delegado tentou tirar uma confissão forçada. Isso é grave, tanto eu, quanto Marcos sabemos disso.

Do lado de fora, sinto o calor da manhã atravessar minha pele e tocar meus ossos. Nunca pensei que sentiria tanta falta do sol escaldante de Fortaleza. Anna e Evan estão lá, para minha surpresa. Controlo para segurar o choro, muitas lágrimas foram derramadas essa noite e minha cota está esgotada para os próximos mil anos. Só quero abraçá-los e me convencer de que tudo ficará bem, mesmo não sendo verdade. Algumas mentiras são mais que uma alternativa, são uma necessidade. E contá-las a si mesmo é uma forma de se auto consolar.

— Que loucura foi essa? — pergunta Anna, mas eu sei que ela já sabe de tudo, só quer ouvir de mim.

Balanço a cabeça, ainda seguro o choro. Mergulhado em seu abraço apenas balanço a cabeça. Não estou preparado para falar ainda. É muita coisa para processar e o sono parece começar a fazer efeito em minha mente.

— Só quero ir para a casa.

— Vamos, ele precisa descansar — diz meu primo.

Antes de irmos, me viro para Marcos.

— Obrigado.

— Não agradeça a mim — diz ele, em um tom de compaixão — Júnior me ligou.

— Vamos — interrompe meu primo, claramente irritado e com um pouco de ciúmes. Não o culpo, minha reação não foi das melhores aquela notícia.

Como assim Júnior Louis ligou para ele? Porque?

Os olhos pesam, mas insisto em querer saber, mas antes que eu pergunte, Marcos diz para irmos antes que eu desmaie.

Evan quer me carregar, mas insisto que posso ir andando tranquilamente. Graças aos céus é verdade, então apenas os sigo. Durmo no ombro de Evan dentro do táxi. Depois flutuo por todo o resto do trajeto até o apartamento. Tomo um banho e apesar de na delegacia terem me dado roupas novas por causa do sangue ter sujado minhas vestes antigas, em alguns lugares sobre minha pele ainda posso ver pequenas manchas vermelhas. Me lavo uma, duas, três vezes. Esfrego a bucha até não restar nada, nem sangue, nem pele, nem ossos.... Quero lavar as lembranças da mente também, mas essas eu sei que é impossível.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora