44. Ultimato

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Por Júnior

Sabe aquela droga de pesadelo que nunca acaba e não importa a porcaria que você esteja disposto fazer, nada vai fazer aquilo passar? Você luta, suas entranhas se movem, presas a essa realidade e o horror grita em sua mente o tempo todo fazendo do pânico e desespero suas únicas amigas.

É, saquei que ficou até meio poético a porra toda, mas é assim que me sinto. Aprisionado. O tempo todo.

No escritório. Nas malditas festas que nunca acabam do psicopata do meu pai. Em casa. Até quando tento bater uma quando a coisa não dá mais eu me lembro de minha total falta de liberdade e brocho. Porque até isso aquele mané tirou de mim.

Tenho dois objetivos hoje: não fazer merda durante a festa para que o velho possa me exibir com a loira louca e me dopar o resto da noite. Alguns objetivos são mais difíceis que outros, e nem preciso dizer quais. A surpresa foi Carla saindo entre os portões do palácio, terminando minha noite um pouco mais cedo e tirando uma grande satisfação ao ver o Sr. Louis ficar vermelho igual um pimentão de raiva, disparando atrás daquela na qual caiu depois daquele gesto, no ranking de pessoas mais odiadas por mim.

Dou um beijo em minha mãe rapidamente. Ela me segura, pedindo para que eu fique mais. Cada vez mais me nego a acreditar que minha mãe está por dentro de tudo. Ela sempre foi uma mulher dócil e amorosa, apoiou algumas maluquices do meu pai, é verdade, mas não seria capaz de consentir com tudo que o tirano está fazendo.

Me estremeço em seu abraço e seu pedido.

— Chega de festas para mim hoje — digo no mesmo tom doce e calmo de minha mãe enquanto tento responder ao seu abraço o mais naturalmente possível.

Tudo que vejo depois é um sorriso em seu rosto de compreensão. Ela também está farta daquelas festas e sei que quer ir para casa.

— Quer que eu te leve?

Mais um sorriso antes de falar:

— Acho que vou esperar seu pai — mas eu sei o que ela quer realmente.

— Ele foi atrás da Carla furioso — digo, insinuando que ele não voltará mais.

Sempre foi assim. Desde que me lembro, quando estávamos nessas festas chatas e surgia alguma emergência no trabalho, o velho sumia. Minha mãe e eu sempre íamos com o motorista para casa, sozinhos. Vejo a cena se repetir, e vejo também minha mãe negar o inevitável mais uma vez.

Ela suspira alto enquanto espero.

— Tudo bem, vamos — ela cede para meu alívio.

Não quero deixá-lá ali, no meio de tantos bajuladores. Um mar de pessoas superficiais que só querem uma fatia do que se tornou a família Louis: poder.

— Só me diga que está de carro, porque aquela sua moto eu.... — continua ela, em um tom de humor incomum.

Sorrio enquanto descemos as escadas, porque queremos evitar os elevadores principais e a saída de emergência é nossa melhor opção.

— Não se preocupe, mãe. Estou de carro hoje — mostro as chaves à ela enquanto a ajudo descer o último lance de escadas.

Abro a porta para ela, como um perfeito cavalheiro que sempre fui para a única mulher que realmente importou para mim. Ligo o carro e saio do estacionamento em silêncio. Não consigo evitar de olhá-la. Não acredito que minha própria mãe está sendo cúmplice de tudo, que sou refém dela também. Isso seria muito para suportar, até mesmo para mim.

— Você é que deveria ter ido atrás dela — a frase me pega desprevenido em milhões de pensamentos em relação às probabilidades de minha própria mãe ser uma psicopata também.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora