5. O Filho Do Patrão

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Eram seis e meia da manhã de sábado quando recebi um email do meu chefe me mandando encontrá-lo em sua casa às oito. Afundei a cabeça no travesseiro, ainda exausto de ontem. Aqueles olhos verdes ainda não tinham saído da minha mente e até tinha sonhado com o desconhecido que quebrou meu celular.

Levantei me arrastando da cama e dei de cara com Anna na cozinha, já preparando o café.

— Você está péssimo — disse ela enquanto me passava uma caneca.

— Às vezes sua sinceridade me machuca, sabia? — disse em tom de humor.

Ela sorriu e voltou ao seu trabalho na preparação do seu café.

— Como está você e o carinha? Como é o nome dele mesmo?

Ela revirou os olhos e disse:

— Carlos Eduardo. E estamos bem, saímos apenas uma vez. Isso quer dizer que ainda somos apenas amigos, entendeu?

— Nossa, tudo bem. E quando vai trazer ele aqui em casa para seu melhor amigo aprovar? — provoquei.

— Qual a parte do "somos apenas amigos" você não entendeu?

Comecei a rir da reação dela. Ver Anna como um pimentão de raiva em plena manhã de sábado era engraçado.

Sete horas peguei um táxi e fui direto à casa do Sr Louis. Sinto que meu primeiro salário será todo gastado em transporte. Chegando lá os seguranças permitiram minha entrada no mesmo instante, meu passe de entrada e saída da mansão já estava liberado.

Fui direto ao escritório. O Sr Louis estava em sua cadeira falando com alguém no telefone, assim que me viu fez um gesto para que eu entrasse e me sentasse.

— Já não é problema nosso, Thiago. O processo agora está nas mãos de outro setor, e não há nada que po... Escute, eu vou aí. Chego em trinta minutos.

Ele desliga o telefone e mexe em uma montanha de papéis que está em cima da mesa.

— Vou precisar sair. Fique aqui e examine esses processos. Volto assim que puder — ele se levanta da cadeira — agora é pra valer, Sr Kennedy.

Respiro fundo. Não sei se comemoro ou fico triste. Assim que ele sai, começo a examinar os processos, um por um. No vigésimo nono minha cabeça já doía. Resolvi dar uma pausa. Estava com cede, então resolvi ir até a cozinha. O Sr Louis disse que era proibido estar em contato com seu filho e sua esposa, provavelmente os dois estavam dormindo à essa hora. Era sábado e a maioria dos ricos que não precisam trabalhar para ganhar a vida dormem até o meio dia, certo? Além do mais, a cozinha não era uma das partes proibidas no qual eu não podia estar.

Aquela cozinha parecia ter tudo e nada ao mesmo tempo. Onde guardavam os copos? Abria as portas dos armários e encontrava de tudo, menos um decente copo.

— Está procurando por alguma coisa? — diz uma voz não muito estranha atrás de mim.

Me viro em um pulo, assustado. Quando vejo quem é, levo um susto ainda maior. Nós dois, eu e o garoto dos olhos verdes destruidor de celulares falamos "você?" ao mesmo tempo.

— Você seria a última pessoa que esperava estar aqui em pleno sábado — ele olha em seu relógio de pulso — às oito e quarenta e cinco saqueando minha cozinha.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ainda em estado de choque.

— Ei, eu é que deveria fazer essa pergunta, afinal, você é que está na minha casa.

Minha cabeça gira. Tudo começa a ficar lento e distante. Não, não, não... Eu chamei o filho do meu chefe de idiota na noite passada.

— Cara, você está pálido. Pode soar meio repetitivo mas, você está bem? — pergunta ele.

Me apoiei no balcão e fechei os olhos. Contei até dez, minha respiração voltou ao normal e eu pude raciocinar direito com as coisas não mais girando.

— Você ainda não me respondeu, porque está saqueando minha cozinha?

— Estou procurando um copo — digo com a voz mais calma que pude.

Ele vai até o armário, ficando ao meu lado. Agradeço por ainda estar apoiado ao balcão. Seu perfume é doce e intenso como as batidas do meu coração. Posso ver seus músculos contra sua camisa branca.

O garoto me entrega um copo, tenho dificuldade de segurá-lo mas ele parece não ter notado. Ele me observa atenciosamente, como ontem na rua, só que agora eu estou quieto e extremamente sem graça. A vergonha é tanta que nem cede eu tenho mais. Bebo água e vou em direção ao escritório torcendo para que ele não me siga.

— Espera aí. Não me disse o que está fazendo aqui? É algum tipo de segurança novo?

— Não — estou quase correndo, mas infelizmente minhas pernas são menores que as dele e o trajeto cozinha-sala-escritório é grande demais. Ele me alcança.

— Então você trabalha no quê? Aí meu Deus, você não é um ladrão, é?

— Não!!! — grito.

Ele levanta as mãos pra cima.

— Calma, era uma brincadeira.

— Desculpa.

— Nossa, você de ontem pra hoje evoluiu bastante. Está até pedindo desculpa.

— Não abusa — ameaço.

Ele ri. Como pode achar graça dessa situação? Ah é, ele é filho do dono. Caso vá parar nos ouvidos do paizinho dele, sou demitido antes mesmo de completar duas semanas de trabalho.

— Sou o assistente pessoal do Sr Louis.

Ele ficou sério. Não sobrou nenhum vestígio do sorriso que dera há trinta segundos atrás. Era tão ruim assim?

— Bom, boa sorte. Vai precisar — disse ele mais sério.

O que ele quis dizer com "boa sorte, vai precisar"?

— Aliás, meu nome é Júnior Louis — ele estendeu a mão para me cumprimentar.

— John Kennedy — cumprimentei de volta.

Sua mão contornou a minha e segurou forte. Sentir seu toque me deixava com o corpo em mil sensações. Nenhuma era apropriada para o momento. Gostaria que ele ainda fosse o garoto desconhecido de ontem, assim minha fantasia com um amor platônico seria possível. Agora nem isso eu posso ter. Ele era um Louis. Há duas semanas não teria tanta importância assim, até porque saberia que não teria a mínima chance mas agora eu trabalhava para seu pai. Apagaria esse desejo idiota e faria meu trabalho.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora