41. Carla Findy

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Há duas coisas que são mais insuportáveis do que o velho babão Louis e sua esposa metida a rainha da Inglaterra? Não. Se souber me avise.

Entramos no salão principal. Todos os convidados nos observam. Estou em um vestido deslumbrante de cetim vermelho modelado no corpo — presentinho de chantagem do velho babão. E aqui está a cena: a mais perfeita família Louis entrando no imenso salão atraindo todos os olhares. A família Louis e eu. Não. Eu também serei uma Louis, certo? Então, é melhor me acostumar com o termo. Não que eu já não tenha me acostumado...no passado.

Carla Louis.

Deus, isso soa tão estranho.

Não soava há um ano atrás. Pelo contrário, eu adorava imaginar meu nome com o Louis na frente. As pessoas mudam, não é mesmo?

Aperto forte o braço de Júnior, que é meu par essa noite... e meu futuro marido. Ele me fita, perguntando o que está acontecendo. Meu toque o desagrada.

Não é nada, seu panaca. Estou apenas nervosa. Nunca viu uma garota nervosa?

Outra coisa que eu não imaginaria há um ano atrás: Carla Findy nervosa.

A Carla que eu costumava ser ficaria empolgadíssima em ser percebida em um lugar desses, ser o centro das atenções como estava sendo. Metade do PIB de Fortaleza estava presente ali. Empresários, políticos, líderes religiosos.

Ah, merda. Esse sapato está me matando.

— Que diabos está acontecendo? — pergunta Júnior ao ver minha inquietação.

— Nada. Apenas estou nervosa. Posso?

Ele sorri. Não, Júnior nunca sorri. Não perto de mim. Ele ironiza o que eu digo. Ele me odeia. E com razão. Nos últimos anos eu fui muito filha da puta com ele e John.

Sinto saudades daquele tempo, onde as coisas não se resumiam em ameaças e ironias. Não espera, naquele tempo era a mesma coisa. A diferença era que eu não era a vítima que sofria tudo isso.

Suspiro fundo. Dou mais uma vasculhada no salão. Ricos não costumam se sentar? Não existe uma cadeira por perto.

— Se você continuar se contorcendo desse jeito, eu vou largar você aqui — ameaça Júnior.

— Não diga que não gostará disso — sibilo pra ele.

E lá está em seus lábios a ironia novamente. Eu já desejei muito esses lábios. Já desejei esse corpo também.

— Eu nunca direi.

Agora sou eu que sorrio. Sem ironia de minha parte, é claro.

— Sabe — digo depois que um casal de velhos estranhos, como a maioria ali presente, nos cumprimenta — metade desses idiotas, se não todos, se matariam para estar no seu lugar. Algumas de suas esposas também.

Ele dá de ombros. Júnior não liga. Nunca ligou. Nem na época, antes de conhecer John. Quando transamos. Tudo que ele fazia, era pegar as mais absurdas garotas e ter amizades pesadas, tudo para provocar o pai.

Quando John chegou e eu percebi sua aproximação com o garoto gay, achei que a história se repetiria, apesar de achar que ele estava sendo muito extremo só para atiçar o pai. Então quando peguei ambos trepando na sala do Sr. Louis e ameacei contar, Júnior entrou em desespero. Aí que percebi: Júnior não se envolveu com John por causa do pai. Júnior se apaixonou por John. Eu senti tanto ódio na época. Ódio e inveja. Um pouco por ser Júnior, e outro por eles saberem o que é amor. Algo que particularmente nunca conheci. Nunca até conhecer Daniel. Por ironia do destino, Daniel é mais pobre que os garçons dessa festa. Mas sinceramente, eu não ligo. Assim como Júnior. Então eu o entendo mais do que qualquer pessoa presente nessa maldita festa. Mais do que isso: compreendo e respeito.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora