Uma Ligação Inesperada (Smal Capter)

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Por Júnior

O celular tocou em algum momento da madrugada. Minhas mãos apalparam a cama e encontrou John dormindo ao meu lado e fiquei aliviado por não ter sido um sonho. Era uma sensação que eu sentia falta, sua companhia nas horas mais calmas.

Porra cara, onde está o maldito o celular. Antes que John acordasse eu o encontrei e o atendi, ignorando o nome pois a luz da tela faziam meus olhos doerem.

— Alô? — minha voz era ronca, falha. Tentei falar baixo por causa do John.

A voz do outro lado não era nem um pouco delicada. Pelo contrário, estava mergulhada em ódio. Só havia uma pessoa na face da terra capaz de suportar tal sentimento.

— Você acha que eu não descobriria?

Meu corpo ficou ríspido no mesmo instante que escutei a voz dele. Pânico e pavor me inundaram.

Porra, porra, porra....

Eu só vesti uma calça e peguei minha jaqueta e fui direto para o escritório onde o grande e poderoso Sr. Louis me esperava, eu sentia medo, mas eu sabia que ele não mataria John.

— Você me enoja, sabia? — eu não saberia porque ele estava com raiva, se era por causa do chute na bunda que levou do partido, por ter descoberto que eu ainda dormia com o John ou... se tinha descoberto tudo.

— Oi para você também, papai. — é claro que eu fui irônico. O que mais poderia fazer? Precisava descobrir o que ele pretendia fazer agora.

— Qual foi o combinado Júnior? Você quebraria o coração da bicha que você comeu algumas vezes e eu evitaria de mata-lo.

— Acordo? — disse, começando a ficar irritado — você arruinou minha vida e ainda exige que eu seja fiel?

— Você não está me dando escolhas — seu tom era de ameaça.

Eu ri. Ele se irritou ainda mais.

— Você não vai mata-lo — eu parecia confiante, eu blefava e torcia para que não notasse.

Ele se aproximou de mim. Meu pai, um reflexo de mim, só que mais velho e mil vezes mais mau. Infelizmente eu nunca poderia dizer que fui adotado ou que minha mãe o traiu. Éramos muito parecidos fisicamente. Eu odiava isso, porque por dentro éramos tão diferentes quanto o preto é do branco.

— E porque não? — ele sussurrou em meu ouvido ainda mais ameaçador — me dê um motivo para que eu não mate seu namoradinho.

— Porque você precisa dele para poder me controlar — minha voz era mórbida — e seria burrice matar sua galinha dos ovos de ouro, principalmente quando se está perdendo.

Agora foi ele que riu. Na verdade gargalhou.

— Acha mesmo que estou perdendo?

Dei de ombros.

— Você foi chutado da política antes mesmo de entrar. Acha que algum outro partido vai te querer depois do ocorrido? Acha que algum dia vai ter chance de ser governador ou qualquer outra coisa?

Seus olhos brilharam.

— Foi você não foi? — ao invés de ódio, seus olhos expressaram... admiração? E o que era aquele sorriso em seus lábios? Eu não estava entendendo nada — o meu Deus! Foi você!

Ele bateu palmas enquanto caminhava de volta à sua mesa. Eu estava paralisado sem saber o que fazer com a sua reação. Deveria me preocupar? É claro que deveria.

— Foi você que o gravou? Foi você que o ameaçou?

Como ele sabia disso? Minha cara de espanto me denunciou.

Ele se acomodou em sua cadeira e disse, em um tom quase que orgulhoso:

— Quem diria, meu próprio filho ser o autor de um ato tão... perverso!

— Eu fiz o que era preciso. E considerando o monstro que você é, eu fiz um bem para a população de modo geral.

Seu sorriso foi ainda maior, para meu desespero.

— Não me refiro a isso. Digo, ao incriminar outra pessoa para sair ileso dessa.

Eu não havia entendido. Vendo minha reação, continuou:

— Priscila, a ex secretária e ex amante do Presidente do Partido nessa hora deve estar fazendo uma visita ao inferno, graças a você.

Minhas pernas bambearam. Acho que minha pressão tinha caído ou algo do tipo.

Não....

Eu não havia pensado nas consequências para Priscila. Porra, será que era realmente verdade? Aquele velho maldito teria coragem de matá-la? Ou era um blefe dele? Antes que eu saísse da sala correndo, ele ainda disse:

— Eu me pergunto como você fez isso? A seduziu? Ou se aliou a ela?

Parei na porta, e sem virar pra ele e com o punhos cerrados, perguntei:

— Isso realmente importa? — minha voz era sombria mas ao mesmo tempo de pânico.

Ele riu, novamente. Estava se vangloriando pela sua pequena vitória.

— Não. Com certeza não importa. Tá vendo filho? No fundo, não somos tão diferentes assim. Ambos fazem de tudo para chegar aos seus objetivos.

— Eu não sou como você! — gritei, enojado. Os olhos ardiam, mas não, não daria esse gosto para aquele monstro — eu nunca serei como você.

— Você sempre será parte de mim, sempre será alguma coisa relacionada a mim. Não adianta fugir, filho.

Saí dali quase correndo, precisava respirar, mas não conseguia. O ar não conseguia chegar aos meus pulmões mesmo que eu tentasse.

Ela não está morta, não. Tive a ideia de ligar pra ela e para meu desespero a mulher do outro lado da linha disse que o número não existia mais.

Porra, porra, porra...

Não sei ao certo onde eu parei, só sei que encostei em uma parede e comecei a socá-la. A cada soco o sangue pintava os grafites gravados na parede. E eu fiz isso até quase desmaiar de dor. Era tudo que eu tinha naquele momento. Dor.

Será que ele estava certo? Éramos assim tão parecidos? Eu também era um monstro? Eu tinha medo da resposta.

Então foi aí que percebi o quão irresponsável fui. Para atingir meu pai eu sacrifiquei outras vidas. Coloquei a vida de John mais uma vez em perigo. Eu era o culpado de tudo. Não sei o que passou em minha mente ao achar que venceria o poderoso Sr. Louis. Mesmo que eu pensasse em algo para atingi-lo, ele estaria um passo a minha frente. Sempre.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora