Ventava, e a areia passeava pela calçada até chegar na estrada de asfalto. Tiro meus sapatos. Caminhar pela praia descalço, sentindo a areia quente tocando minha superfície plantar sempre foi algo próximo a uma terapia para mim. Ver o pôr-do-sol nem se fala. Depois que quase morri — pela segunda vez — prometi a mim mesmo que nunca mais perderia o sol se pôr ou ele nascer. Então, todos os dias, como uma religião, venho à praia. O vejo se pôr, lentamente, deixando para trás seus rastros nas nuvens em forma de contínuas ondas em um tom laranja vivo no céu azul escuro de Fortaleza.
Nessas horas lembro de minha mãe, e o que ela falaria se estivesse ali, do meu lado.
"Como Deus é perfeito", diria ela
Sento em um banco e espero. Espero o vento morno se tornar frio e as luzes da cidade começarem a ganhar vida assim que o sol desaparece. Tudo ganha um novo visual quando a noite cai, inclusive as pessoas. Agora andam vestidas pela praia, algumas namorando de mãos dadas e outras sozinhas, apenas curtindo o momento como eu. As observo, felizes e contentes, sentindo a mesma sensação que sinto com a ponta dos pés afundados na areia.
Meu celular vibra no bolso.
— Oi Anna!
— Ah, oi. Você ainda está na praia? — pergunta ela do outro lado da linha, um pouco eufórica.
— Sim. Aconteceu alguma coisa? — pergunto, preocupado já.
— Hm. Não querido. Só perguntei, por, precaução?
Ergo a sobrancelha esquerda.
— Está afirmando ou perguntando — retruco, desconfiado.
— Ah, deixa pra lá. Tchau.
E desliga. Na minha cara.
Resmungo, intrigado. O que minha digníssima melhor amiga está aprontando dessa vez? Respiro fundo e dou uma última olhada no mar, que agora ganha tons negros devido a noite que se aproxima rápido. Hora de ir para casa.
Meu celular vibra outra vez. Um e-mail. Resposta de uma empresa no qual fiz entrevista mais cedo. Eles querem que eu vá amanhã de novo. Fico ainda mais contente. Um novo emprego agora nessa nova fase é tudo que preciso. Assim supero para sempre meu passado. Supero Júnior. Supero não superando, porque a verdade é imutável. Mas tentamos.
"Você precisa seguir em frente, sem comprometimento. Ele disse um talvez, e não uma certeza", disse Anna.
Eu a escutei. Segui em frente. Não chorei, não atrapalhei meus planos. Fiz o que deveria ser feito. Nunca mais toquei em seu nome. Mas não o esqueci.
Respiro fundo e desligo a tela do celular. Procuro sentir o aroma quente que ainda vem do mar. Tento me concentrar no barulho das ondas assim que elas se chocam contra a areia. Eu gosto daquele som. Me lembro a primeira vez que o escutei. Prometi a mim mesmo que nunca esqueceria daquele som, nem se eu vivesse cem anos. Foi uma promessa no qual eu tenho certeza que vou conseguir cumprir.
Promessas. Tantas promessas fiz a mim mesmo quando pisei nessa terra. Não me arrependo de ter as feito, só me arrependo de não ter conseguido realizar todas. Eu falhei.
Fecho os olhos e continuo a me concentrar no som do mar. O perfume de Júnior invade minha mente de uma forma que me faz sorrir.
— Esse é o meu segundo lugar predileto — uma voz que eu conhecia bem invade meus pensamentos pesarosos.
— Meu também — sussurro a mim mesmo e à lembrança da voz de Júnior.
Mas não pode ser uma lembrança, pelo simples fato de Júnior nunca ter dito isso para mim. Me ouso abrir os olhos e lá estão meus olhos verdes prediletos me encarando. Seus cabelos pretos estão maiores do que eu me lembrava. Ele usa uma camiseta regata branca e calça jeans. Parece que Júnior Louis havia se reencontrado.
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O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)
RomanceMe chamo John Kennedy e tudo começou quando conheci o filho do meu novo patrão. Alto, forte e muito bonito, Júnior despertou em mim os mais obscuros desejos. Agora esconder essa forte atração que sinto do meu patrão religioso e chato enquanto tenho...