8. Presente De Desculpas

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Acordei bem disposto na segunda-feira. Acho que foi a folga que o meu patrão me deu com o domingo inteiro livre, leve e solto. Aproveitei para dormir. Sim, para quem trabalhou igual um burro de carga durante duas semanas, dormir seria a mais viável das opções.

Segunda, enquanto estava organizando a agenda interminável do Sr Louis, me aparece Júnior na porta.

— Com licença — diz ele após bater três vezes na porta, um gesto meio desnecessário já de quem se tratava.

Ele estava tão perfeito, pela primeira vez usava terno e gravata, um deus grego social. Perdi o fôlego ao vê-lo assim na minha frente, até esqueci o que estava fazendo.

— Seu pai acabou de sair...  — disse assim que consegui encontrar meu raciocínio.

— Eu sei. O vi saindo. Vim falar com ele, mas queria antes te entregar isso... — Júnior estendeu um pacote que até o presente momento não tinha notado em suas mãos.

Peguei o pacote sem entender nada. Lendo minha expressão abobalhada disse:

— Eu queria me desculpar. Por tudo. Abra, e diga se gostou. — os olhos dele pareciam duas chamas vivas de expectativa.

Sorri gentilmente, pela primeira vez. Fazia tempo que eu não recebia um presente. O embrulho era simples mas elegante: uma caixa embrulhada em um papel vermelho sangue, me pergunto como não tinha notado antes em suas mãos. O abri sorrindo, como uma criança prestes a abrir seu presente no dia de Natal, o olhava de vez em quando tentando decifrar alguma coisa em seus lindos olhos verdes.

Quando abri não acreditei. Um iPhone de última geração. Fiquei perplexo. Foi então que me lembrei quantas vezes o tinha culpado por ter quebrado meu celular. Mas um iPhone? Era um grande exagero. Aliás, meu celular antigo era bem mais inferior, não valia nem 10% desse.

— Não posso aceitar.

— Pode sim. Por favor. Se não aceitar vou entender que não gostou do presente.

— Mas esse é o problema. O celular é perfeito, até demais pra mim.

— Eu estava devendo um celular para você, lembra? — ele arqueou as sombrancelhas como se quisesse me lembrar das vezes em que eu joguei na cara dele isso. Isso me fez ficar envergonhado.

— Sim. Mas meu celular antigo não vale nem a metade da metade que esse deve valer — contestei.

— O fato é que eu te devia um celular, a escolha da marca ou do preço foi minha. Então se não aceitar vou considerar que não gostou nadinha do meu presente — ele pareceu fazer uma cara de triste e decepcionado para forçar suas palavras. Eu sabia que tudo aquilo era forçado, mas quem se importava?

Mesmo com sua péssima atuação para tentar me sentir culpado conseguiu me convencer. Quem conseguia dizer não àqueles olhos verdes maravilhosos?

— Tudo bem, eu aceito.

Um sorriso bobo surgiu no canto de seu lábio direito. Era o tipo de sorriso que fazia qualquer um ficar de pau duro.

O pai dele chegou logo em seguida e me pediu pra sair da sala pois queria conversar com seu filho a sós. Graças a Deus não notou o presente recém ganhado. Enquanto Júnior e meu patrão conversava na sala, eu fiquei andando pelo escritório mexendo no meu novo celular. Notei que ele já estava ligado pronto pra uso. Mexendo aqui e mexendo ali vi um número em particular — o único nos contatos — nomeado como Júnior Louis. Eu não sabia se pulava de alegria ou se ficava triste. Agora eu tinha seu número. O que isso significava? O mais importante: o que isso significava pra ele? Talvez nada. Apenas ficou com pena e achou melhor adicionar um número em minha lista telefônica vazia.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora