O lugar estava frio, o que era de se esperar se tratando de uma cadeia. Podia-se ouvir alguns gritos de dor à alguns metros de distância, eles ecoavam pelo corredor até os ouvidos de Júnior. Aquela foi de longe uma das piores noites de sua vida. Não conseguia dormir. Acreditava que nunca conseguiria, e nem era por causa do colchão mais fino que seu dedo sobre a cama de concreto, ou o frio avassalador do local, ou os gritos dos outros presidiários. Seus pensamentos o atormentavam mais do que as coisas físicas. Ultimamente sempre fora assim, sua mente tornou sua tortura infinita. As vezes achava que iria enlouquecer.
Um carcereiro surge.
— Você tem uma visita — diz o homem sem nem um pouco de ânimo na voz.
Júnior se levanta, atordoado. Olha pela janela quadrada, sua única fonte de luz. Não faz sentido algum, a não ser que tenha se esquecido de como é o dia em menos de 24 horas de reclusão total. A escuridão lá fora ainda indicava ser noite.
Um senhor de terno entra na cela. Júnior o conhece muito bem, mais do que gostaria.
— O que faz aqui?
O velho dá uma vistoriada em volta, com olhar de nojo e reprovação. Tira um lenço do bolso do terno e enxuga a testa enrugada. Não responde diretamente a pergunta do filho. Oferece apenas um acordo:
— Eu tenho qualquer advogado à minha disposição. Até amanhã você estará livre. Se você estiver de acordo com meus termos.
O garoto que um dia foi considerado como playboy e esteve estampado nas capas de revistas famosas diversas vezes pelas suas loucuras ri, em uma versão exausta, judiada e debilitada de si mesmo. Depois deita de costas para o pai, o ignorando totalmente.
— Eu preciso que você me ajude, filho — seu tom de voz é melancólico e se ele não o conhecesse bem, diria preocupado — por sua mãe.
O Sr, Louis apela, porque sabe que apesar de tudo, Júnior ainda se importa com a mãe.
Mas Júnior já havia previsto isso. E o único momento que hesitou foi quando pensou em sua mãe. Mas o garoto estava cansado de fugir dos seus problemas. Já perdera muita coisa e muito tempo. Precisava, necessitava fazer alguma coisa pelo seu amado. Tentar resolver tudo sozinho uma última vez.
— Eu disse que haverá consequências — seu tom ameaçador agora é bem mais familiar para Júnior do que seu tom melancólico. Quase o garoto se sentiu em casa.
— Eu disse que estou disposto a enfrentá-las — resmunga, mas não tem certeza se o velho ouve.
— Não vou deixar você levar o nome dessa família para a lama.
— Tenho certeza que não — havia uma morbilidade em sua voz, como se o garoto dos olhos verdes tivesse morrido, o que não era totalmente mentira.
Durante todos esses meses Júnior morreu um pouquinho a cada dia, ainda era surpresa o garoto estar reagindo com o mundo exterior depois de tantos óbitos silenciosos.
— É uma pena que termine assim — sussurra o velho depois de um longo segundo.
Algo dentro de Júnior diz que essas serão um das últimas palavras que ouvirá do pai.
O sentimento de choro vem, o que é estranho, já que cadáveres não choram.
— Pai — ele não viu, mas o som chicoteou o velho do outro lado da cela.
— Sim? — pela primeira vez, a voz de seu pai não continha qualquer fingimento. Aquele era quase que um momento mágico. Para os dois.
— Você algum dia me amou? — não era isso que queria perguntar, em sua mente ele o xingaria ou o amaldiçoaria, mas dessa vez seu coração insistiu em assumir e perguntar aquilo que realmente queria saber durante toda sua vida.
Um grande silêncio se instalou. A ausência poderia significar tudo, mas todas as conclusões levariam a uma resposta: O Sr. Louis nunca amou ninguém, apenas o poder. Demorou um tempo para Júnior se convencer disso, e aparentemente demorou um tempo ainda maior para o próprio velho se convencer do mesmo.
Algumas verdades são mais fáceis que outras. Algumas mentiras também.
A cela se fechou com um ranger grave metálico que assustou Júnior. Era o fim. O garoto de olhos verdes se fechou e mergulhou em algo próximo ao medo e ansiedade. Diferente das outras vezes, ele sabia que isso ele nunca conseguiria suportar. Júnior Louis nunca mais seria o mesmo. E nunca foi.
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O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)
RomanceMe chamo John Kennedy e tudo começou quando conheci o filho do meu novo patrão. Alto, forte e muito bonito, Júnior despertou em mim os mais obscuros desejos. Agora esconder essa forte atração que sinto do meu patrão religioso e chato enquanto tenho...