19. Do Céu ao Inferno

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Júnior Louis

O inferno começou. Está ali na minha frente. Tomando conta de mim, me consumindo de um modo lento e rápido ao mesmo tempo. Tudo em minha volta pareceu se fragmentar no instante em que o vi jogado no chão todo ensanguentado. Ali eu pude ver o quanto o amava.

— John!!!!! — gritei com toda força — Aí meu Deus, alguém me ajuda!!! — o desespero dominando.

A distância entre mim e ele pareceu ser infinita. Era como nos meus pesadelos quando criança, correndo pelo bosque mas não saía do lugar. Aqueles segundos correndo até ele demoraram séculos.

— Socorro!!! Alguém ajuda!!! — o alcancei. Ajoelhei em seu sangue e a coisa só piorava. O odor de ferro fez meu estômago embrulhar e minha cabeça rodar.

Levei sua cabeça em meu colo, as lágrimas desciam, um grito de dor surgiu em meus pulmões. Meu John.

Um casal ouviu meus gritos de socorro e vieram ver o que estava acontecendo. Chamaram a ambulância. Não sei se demoraram minutos ou horas, eu tinha perdido a noção de espaço e tempo.

— Se afaste. Eu preciso que o senhor se afaste — uma voz disse, então percebi que a ajuda havia chegado.

Dolorosamente me afastei dele. Um gesto que achei errôneo, indevido.

Eles conferiram os sinais vitais de John, depois o colocaram na maca. Um dos rapazes avisou no rádio que se tratava de um caso grave.

— Em qual hospital vão levá-lo? — perguntei, ofegante pela adrenalina. Ou seria o pânico?

— Você conhece ele? — perguntou o rapaz.

— S-sim! O conheço.

— Você pode acompanhá-lo, se quiser — avisou.

Não pensei duas vezes e entrei na ambulância. Segurei a mão de John, que agora estava cheio de aparelhos mesmo o cara pedindo para que eu não o tocasse, se eu não fizesse tinha a sensação de que ele pudesse partir a qualquer momento. O pensamento me dilacerou por dentro. Eu não conseguiria viver em um mundo sem John Kennedy.

O maldito trajeto parecia demorar uma eternidade, a ambulância estava a alta velocidade com as sirenes ligadas.

Algum aparelho pitou. O rapaz pediu para eu me afastar. O desespero mais uma vez tomou conta de mim, minha única reação foi fazer o que o rapaz ordenou.

Parada cardíaca!!! —   gritou o cara.

As portas de trás da ambulância se abriram, vários médicos na porta prontos para pegá-lo.

— Se afaste senhor — gritou um deles.

Tudo que eu fiz, mais uma vez, foi me afastar dando tempo de ver o rapaz pegar o desfibrilador.

Fique comigo John. Por favor — implorei.

O levaram ás pressas para dentro do hospital e eu tentei segui-lo mas era impossível seguir uma multidão desesperada. Mais uma vez me senti tão inútil, correr e correr e não chegar a lugar nenhum. O inferno só havia começado e provavelmente não terminaria tão cedo.

Um dos médicos voltou e pediu para eu ir à recepção preencher os dados de John. Só que sua voz estava tão distante e era apenas um eco em meio à luz local misturado ao branco da decoração.

"Você está me ouvindo?"

Eu estava? Aquilo era real? Ou só um maldito pesadelo como qualquer outro?

"Escute. Você precisa preencher os dados do garoto na recepção"

O cara me passou alguma coisa e eu apenas o coloquei no bolso. Era frio, pouco pesado.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora