Ele mantinha o revólver mirado em minha direção, seu olhar estava frio e distante. Eu tremia e não era de frio, a tarde estava abafada e o calor do mar irradiava entre nossas peles junto com os últimos raios solares do dia. Me lembro que aquela imagem do sol se pondo era uma das minhas prediletas, até hoje. Eu estava com medo, mas não por mim.
— Por favor, não faça isso — a angústia era minha parceira, meu único companheiro naquele momento.
Ele deu um passo para trás, ficando mais próximo do abismo que se encontrava a poucos metros. Uma martelada a mais em meu coração, a arma ainda apontada em minha direção.
— Você destruiu minha família — grunhiu ele.
Eu fiquei em silêncio, o que poderia dizer? Negar? Era verdade.
Mais alguns passos para trás, agora o penhasco e ele estavam mais íntimos que eu e minha angústia. E então o revólver disparou e ele pulou.
Tudo se tornou escuro e lento. Mistura de dor e êxtase pelas lembranças, pelos amores. Uma sensação que eu conhecia graças à Júnior, meu grande amor.
Dizem que quando você está prestes a morrer, toda sua vida passa diante os seus olhos. Não tive uma vida tão agitada, tirando os últimos meses, é claro.
Estou com dez anos novamente sentado na mesa de jantar escutando minha mãe pronunciar as orações que ela faz todos os dias. As mesmas palavras de agradecimento, como um mandamento, como uma profecia. Depois todos dizemos amém e começamos a refeição. Algo desnecessário de se lembrar nesse momento, mas há algo em especial na lembrança e é o modo como minha mãe me olha orgulhosamente. Um momento raro que aconteceu pouquíssimas vezes. Eu me sinto no paraíso por finalmente prender a sua atenção, nem que seja por alguns instantes.
Agora tenho quinze anos, meu primeiro beijo. Conheci um garoto pela Internet e marcamos para nos ver pela primeira vez no Bosque da minha cidade. Estamos sentados no banco de baixo de uma barraca, conversando sobre diversos assuntos como planos para o futuro, filmes, músicas prediletas. Ele é bonito em minha lembrança, possui olhos claros e um sorriso fofo. Conversa baixo, talvez pela timidez do primeiro encontro. Apesar de estarmos próximos, me sinto distante. De repente quero mais, quero beijá-lo, tocá-lo. Sentir seu cheiro de lavanda de perto e deixar que ele sinta o meu também. A chuva cai, e o cenário todo se torna incrivelmente mais bonito e romântico, seja pela água caindo entre os raios solares ou por causa do beijo que o garoto arrisca roubar de mim. Seu beijo é forte e delicado, molhado e desajeitado.
Agora estou com Anna, minha melhor amiga saindo para beber pela primeira vez. Após algumas doses sinto em minhas veias a liberdade que nunca experimentei. E quanto mais bebo, mais é a sensação de estar no paraíso. Em meu próprio mundo não preciso me esconder, não tenho que lutar contra o que sou, eu apenas existo e isso é bom.
Minha última lembrança é de Júnior. Estou em seu apartamento, seu olhar me ronda, fazendo-me sentir uma presa. As vezes gosto dessa sensação, outras odeio. Ele estende a mão em minha direção, um sorriso torto no rosto: um convite insano no qual nunca negaria. Eu agarro sua mão e sou conduzido até seu quarto e lá fazemos amor pela primeira vez. Não sexo, amor. O jeito como ele me toca, como seus dedos investigam meu corpo e seus lábios encostam nos meus me faz sorrir.
A escuridão invade minha mente e a dor finalmente passa.
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O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)
RomansaMe chamo John Kennedy e tudo começou quando conheci o filho do meu novo patrão. Alto, forte e muito bonito, Júnior despertou em mim os mais obscuros desejos. Agora esconder essa forte atração que sinto do meu patrão religioso e chato enquanto tenho...