Caminho apressadamente entre os carros do estacionamento de um dos maiores Shoppings de Fortaleza. Passos barulhentos, desengonçados e até irritantes. Eu quero caminhar silenciosamente, tenho frio e medo transbordando em meus poros na testa. Está escuro e eu estou sozinho. Não quero ficar sozinho ali naquele lugar que eu sinto que um dia me fez muito mal.
Paro de caminhar mas os passos barulhentos continuam então eu percebo que não estou sozinho. Os passos aumentam e estão vindo em minha direção. Está tão escuro, não consigo enxergar de onde está vindo os ecos, as risadas que surgem, os xingamentos pejorativos.
"Se afaste de mim" quero dizer, mas minha voz é só um grunhido.
Tento correr mas alguém toma meu braço e me joga no chão.
Quero gritar socorro, quero fugir mas meu corpo não quer me obedecer. Então sinto um golpe no peito e acordo.
— Pelos céus, John. Você me assustou. Estava gritando. Está tudo bem?
Júnior está com as típicas olheiras de sempre, mas suas pupilas agora estão dilatadas. Eu ainda estou no hospital, um cenário que parecia nunca desaparecer enquanto eu respirasse.
— Tive um pesadelo — minha voz está trêmula e sinto falta de ar, foi tão real...
Ele esfrega os olhos, o cansaço parece ser parte de sua personalidade agora. Mas também, passou a trabalhar com o pai todos os dias e a noite vem para o hospital. Convenhamos que dormir em uma poltrona velha não te dá um descanso muito bom. Eu insisto para ele não se preocupar comigo, mas depois daquela noite em que Carla apareceu aqui, nada tira de sua cabeça que ela pode voltar e segundo sua hipótese, terminar aquilo que não conseguiu.
Já eu tenho as minhas dúvidas. Não acho que a loira seja capaz à tanto. Mas para quem roubou a própria mãe sabendo que ela precisava do dinheiro para sobreviver, não coloco minha mão no fogo por ela nunca.
Esse não foi o primeiro pesadelo que tive, e sinto que não será o último. Júnior e Anna já estão pensando em me levar a um psicólogo assim que eu ganhar alta. É, ultimamente os dois estão me tratando como criança, tomando decisões sem me consultar antes. Esquecem que eu já sou maior de idade e posso decidir minha vida sozinho.
Anna admira Júnior cada vez mais, pela sua dedicação comigo, pela sua persistência em querer sempre estar do meu lado.
"Ele realmente te ama" diz ela quase todos os dias, quando estamos sozinhos. Me contando mais uma vez como ele estava desesperado a noite em que eu fui espancado.
Vendo pelo modo de pensar de Anna as coisas até parecem fáceis: tenho um cara lindo que daria a vida por mim se precisasse, e eu, obviamente faria o mesmo. O que mais nos impediria de viver nosso grande amor? Nascemos um pro outro e fim.
Mas não é bem assim. Tem a família dele. Uma família conservadora. Apesar da péssima relação com o pai eu sei que Júnior o ama, assim como ama sua mãe. Se ele se assumir gay, isso os afastará para sempre.
Eu entendo como é. A dor, o medo da rejeição. Se assumir gay requer abrir mão de muitas coisas, mas também é o início de uma página em branco pronta para ser colorida com suas cores, desejos e amores.
O que importa é que eu o apoiarei em qualquer decisão. Contar ou não contar. E essa decisão não pode ser tomada de um dia pro outro. Escolhas difíceis requerem tempo e coragem.
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O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)
RomanceMe chamo John Kennedy e tudo começou quando conheci o filho do meu novo patrão. Alto, forte e muito bonito, Júnior despertou em mim os mais obscuros desejos. Agora esconder essa forte atração que sinto do meu patrão religioso e chato enquanto tenho...