Prólogo

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Gotas de chuva caiam sobre mim, já passava da meia noite e eu ainda não sabia que lugar era aquele por onde eu caminhava. Tudo em volta parecia estranhamente familiar, como se fosse um lugar que eu sempre frequentava quando criança.

Eu estava em algum tipo de bosque, um lugar úmido e frio, com árvores distantes umas das outras. O medo tomou conta de mim.

Continuei caminhando, na procura de alguém que pudesse me dizer que lugar era aquele, e o que fazia ali? Eu não sabia. Não me lembrava.

Estava prestes a gritar por socorro quando ouvi vozes, um pouco à frente de onde eu estava.

Corri em direção ao som o mais rápido que pude e cheguei à uma clareira. Lá, avistei uma garota sentada com as costas apoiadas em uma árvore, sua cabeça estava era sustentada por suas pernas. Ela parecia chorar.

Me preparei para chamá-la, ia gritar por socorro, mas assim que abri a boca ela se levantou e olhou diretamente em minha direção.

Levei um susto.

Ela era idêntica a mim. O que estava acontecendo?

Vasculhei minha mente em busca de lembranças de alguma irmã gêmea que eu pudera ter, mas era só eu, pelo menos até onde eu sabia.

No mesmo instante quis correr até lá e perguntar o que estava acontecendo, mas meus pés não se moviam, nada se movia, por mais força que eu fizesse.

O pânico começou a invadir meu corpo molhado pela chuva.

De longe, pude ver alguém se aproximar, um garoto, mas não consegui prestar atenção em seu rosto, apenas em seus olhos, cor de avelã, e no guarda-chuva azul turquesa que ele segurava nas mãos.

- Não deveríamos estar aqui. - Indagou minha gêmea, com certo receio na voz. E eu me perguntei como estava conseguindo escutá-la em meio a chuva e a distância entre nós.

- Está tudo bem Luce, não há nenhum animal selvagem nessa parte da floresta, não precisa ter medo. - O garoto disse, sentando-se ao lado dela.

Naquele mesmo instante senti um calafrio percorrer meu corpo.

Aquele era o meu nome, eu tinha certeza que era. Eu podia estar perdida e confusa, mas eu sabia, tinha certeza, aquele era o meu nome.

Não podia ser coincidência. Minha mente não conseguiu processar tudo aquilo. O que estava acontecendo?

- Não é disso que tenho medo. - A menina olhava em volta, como se estivesse procurando alguém.

Os dois iniciaram uma conversa, mas não prestei atenção, meus olhos estavam focados no grupo de pessoas que estavam se aproximando. Usavam todos as mesmas roupas: calças jeans, blusas brancas e bandanas vermelhas na cabeça. Com isso desisti de tentar entender a cena que se formava a minha frente.

O grupo atravessou a clareira e foi em direção ao casal, que agora calados, observavam o grupo se aproximar.

- Você é a Luce, não é? - Perguntou o mais alto deles, enquanto encarava meu clone perfeito.

Ninguém se moveu.

Apesar da distância, reparei que ele tinha no braço esquerdo a tatuagem de uma lua. Não sei a razão, mas por um instante, meus olhos se prenderam ao desenho.

- Sei que é você! - Ele continuou. - Não temos tempo para explicar, mas é necessário que você venha conosco. - Sem que nenhum de nós pudesse processar qualquer coisa, ele agarrou o braço da garota e começou a arrasta-la pela chuva.

- Quem é você? E como sabe meu nome? - Ela perguntou enquanto se debatia e tentava se soltar.

- Sei de muitas coisas sobre você. - Ele fez uma pausa. - Logo entenderá.

Eu queria ajudar, queria correr, queria gritar! Mas estava literalmente paralisada. Meu corpo não me obedecia.

O menino dos olhos de avelã pareceu sair do transe em que estava e gritou para o bando:

- Larguem ela! - Parecia estar disposto a lutar.

- E o que você vai fazer? - Disse o provável líder, esboçando um sorriso irônico.

A coragem do garoto pareceu escorrer com a chuva.

- Eu...eu...

- Poupem-me dessa palhaçada! - Disse outro membro do grupo. - Vamos em bora!

Começaram todos a ir em bora, sem nenhuma resistência de ambas as partes.

Quando chegaram à beira da clareira pude ver quando o líder disse:

- Desculpe Luce, mas você não poderá estar consciente enquanto estiver com a gente, é muito arriscado. - E no mesmo instante colocou um pano no nariz dela, que começou a se debater.

Minha mente não tinha como ficar mais confusa, mas assim que vi a cena desisti de entender o significado de tudo aquilo.

Quando percebeu o que tinha acontecido, menino que parecia ter desistido recuperou a coragem, gritou e avançou para cima daquela facção esquisita, empunhando seu guarda-chuva azul turquesa. Se não fossem as circunstâncias, eu provavelmente teria rido daquela cena.

Inesperadamente, alguém do grupo correu para enfrentá-lo.

Em um movimento rápido o menino atacou com o guarda-chuva, mas seu adversário era ágil, ele desviou com facilidade do movimento e aplicou um soco no alto da barriga de seu oponente, que caiu sem levantar outra vez.

- Vamos! - Disse o líder, quando o vencedor da briga ameaçou golpear a face o menino caído ao chão.

Eu não sabia o que estava acontecendo, não sabia quem eram aquelas pessoas, só queria ir pra casa, mas eu nem sabia onde estava, ou se tinha uma casa.

- De qualquer forma, ele não vai nos seguir, vamos! - Disse alguém de dentro do grupo, ao mesmo tempo em que a garota foi pega no colo pelo seu agressor, que a carregava calmamente, enquanto a cabeça da menina balançava de um lado para o outro, totalmente desacordada.

Foi a última coisa que vi, então, tudo escureceu.

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