Minguante

Capítulo 41

A biblioteca era mais difícil de encontrar do que eu imaginara, depois de errar o terceiro corredor, esbarrei em alguém que mexia em um armário, que pra minha surpresa era Ben.

- Não olha por onde anda? - Ele bufou, mas parou ao olhar pra mim. - É você Luce.

- Estou procurando a biblioteca.

- Não está nem perto. - Ele sorriu de lado. - Vem, eu te levo.

Ele me puxou pelo braço, seu toque me fez estremecer. 

- Por que você precisa ir a biblioteca mesmo? - Ele pareceu realmente curioso.

- Vou ler meu guia.

Sua expressão era confusa.

- Só quero ter privacidade enquanto descubro sobre os dons que me foram deixados por filhos de anjos.

Ele assentiu.

- Entendi. Privacidade.

- Isso. - Eu sorri, e por um momento o rosto dele pareceu tão puro e angelical que eu não consegui desviar o olhar.

Pisquei, me recompondo.

- É só seguir em frente por esse corredor, é a primeira porta. - Ben disse, me indicando o corredor a nossa frente.

- Valeu mesmo Ben, fico devendo essa.

- Não vou esquecer de cobrar. - Ele deu meia volta e voltou por onde tínhamos vindo, deixando a mostra as assas bordadas atrás do seu moletom, que não paravam de atrair minha atenção.

Olhei para frente e vi ao fundo do corredor a porta que me levaria à biblioteca. Andei a passos largos até parar em frente a porta, girei a maçaneta, que fez um rangido desagradável.

A porta se abriu, revelando a maior e mais bonita biblioteca que eu tinha visto em toda minha curta vida.

Entrei lentamente, e por um instante o som dos meus passos eram os únicos ali.

- Procurando algo em especial? - A bibliotecária perguntou, que surpreendentemente era jovem e bastante bonita. Ela usava um laço vermelho decorando o cabelo encaracolado, jeans e uma regata florida.

- Não, só estou dando uma olhada mesmo.

- Como quiser. - Ela sorriu.

Continuei andando, admirando o lugar. As prateleiras estavam repletas de livros com os mais variados títulos, haviam mesas redondas, alguns computadores e um espaço com poltronas no chão. Tudo cheirava a livros novos.

Aquele era, a partir de agora meu lugar favorito na escola.

Procurei uma mesa vazia, mas todas estavam lotadas, exceto por uma que abrigava um garota loura.

Me aproximei da mesa, ela estava tão entretida no que fazia que não percebeu minha aproximação.

Só quando cheguei mais pperto que a reconheci, ela era a garota loura que estava escrevendo coisas em seu caderno durante a aula de literatura.

- Posso me sentar? - Perguntei.

Ela levantou a cabeça, parecendo surpresa em me ver.

Notei que seus cabelos louros eram mais enrolados do que lisos, que seu rosto possuía algumas sardas, e a pele branca combinava com os olhos verde-água. Ela era adorável, essa era a palavra certa para descreve-la.

- Claro. - Ela sorriu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Quando me sentei, percebi que na verdade ela não estava escrevendo, estava desenhando, e eu nunca tinha visto nada como aquele desenho antes. Era uma caveira, mas uma diferente de tudo o que eu já vi.

- Incrível. - Não pude deixar de dizer.

Ele corou, se tornando mais adorável do que eu pensei que fosse possível.

- Não está totalmente acabado, ainda preciso arrumar os detalhes.

A voz dela era mais doce do que achei possível.

- Você é uma artista, seu desenho é maravilhoso! - Não pude deixar de admirar os rabiscos e tinturas que formavam o desenho perfeito de uma caveira tão amendrotadora que não parecia ter sido feito por uma garota tão adorável.

- E muita bondade sua, não sei o que dizer. - Ela sorriu, e meu coração quis derreter, ela era a garota mais fofa que tinha visto em toda a minha vida.

- Não precisa dizer nada. - Eu sorri. - Pensando bem, gostaria que me dissesse seu nome.

- Clarice. - Ela disse tão baixo que quase não ouvi.

- Sou Luce, muito prazer.

- Luce? - Ela perguntou. - Esse é um nome incomum.

Meu rosto demonstrou o espanto que eu sentia, ela fora a primeira a perceber isso.

- É só um apelido.

- E qual é o seu nome? - Ela perguntou, me deixando perplexa, nunca alguém tinha perguntado meu verdadeiro nome.

- Quer mesmo saber?

Ela assentiu.

Abri a boca para responder, mas...