Capítulo 21

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- Muito bem então. - Marcos
disse. - Vou confiar em você.

- Vai me contar o que está acontecendo? - Perguntei.

- Vou. - Ele respondeu. - Agora sente-se.

Nós nos sentamos na grama do quintal, dobrando as pernas em forma de índio.

- O que você quer saber primeiro? - Ele perguntou, sem tirar os olhos da floresta.

- Quero saber o que vocês fizeram com o Thomas. - Eu estava mais preocupada do que curiosa.

Marcos olhou pra mim com um ar de surpresa.

- Ele está em casa, junto da mãe, nesse momento.

- Então ele simplesmente foi embora depois que vocês me "resgataram"? - Fiz aspas com as mãos pra dizer a última palavra.

- Exatamente. - Marcos concordou, inclinando a cabeça.

- Isso não faz o menor sentido. - E não fazia mesmo.

- Um dos nossos integrantes possuí um dom incrível. - Marcos disse, sem olhar pra mim. - Ele pode mandar uma pessoa fazer o que ele quiser, apenas tocando nela.

Com a última frase eu entendi tudo, eles tinham usado o dom de alguém para fazer Thomas ir embora.

Não sei se fiquei aliviada ou apreensiva.

- Quer dizer que existem mais pessoas com esses tais dons? - Perguntei.

- Sim. - Ele respondeu. - Existem muitas delas.

Fiquei em silêncio, tentando digerir aquela informação.

- E sabe de uma coisa? - Marcos perguntou, mas eu não me movi. - Nós somos os únicos no mundo todo que podem prever o futuro. - Ele sorriu.

Então era dessa raridade que eles falavam.

- Como pode ter certeza? - Perguntei.

- Quando nasce um novo integrante. - Ele começou. - Nós sentimos sua presença e sabemos que dons ele possuí.

De novo a palavra no plural. Dons.

- Então todos naquela sala já sabiam qual era o meu dom. - Observei.

- Nada disso. - Ele disse. - Aqueles são integrantes recentes, eles ainda não sabem como sentir outro dom, estão em fase de treinamento. Exceto Bem, ele provavelmente podia sentir.

Então esse era o motivo do riso?

- O que você quer dizer com integrantes? - Perguntei, ignorando meu pensamento anterior.

- Integrantes da nossa família.

- Família? Vocês são todos parentes?

- Tecnicamente, sim. - Ele respondeu. - Somos ligados por um laço de sangue.

- E agora eu faço parte desse laço.

- Sim. - Marcos respondeu, mesmo sabendo que eu não fizera pergunta alguma.

- E o que vocês querem dizer com Minguante?

Eu tinha enfim perguntado algo que realmente queria saber a resposta.

- É o nome da nossa família. - Ele respondeu.

- Mas por que esse nome? - Eu não ia aceitar qualquer resposta.

- Por que significa de onde vem a origem dos nossos dons.

- E de onde ela vem? Da lua? Como lobisomens?

Ele riu da minha última pergunta.

- Não. Não tem nada a ver com lobisomens.

- Com o que então?

- Anjos.

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