Capítulo 50

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Assim que coloquei os pés dentro da casa, Anna me parou em frente a porta e me entregou uma mala.

- Use isto. - Ele disse, enquanto debruçava a mala prateada em cima dos meus braços.

- Usar o quê? - Perguntei, mas ela já tinha ido.

Vasculhei a casa em busca de alguém que pudesse me ajudar, mas todos estavam correndo de um lado para o outro, pegando bolsas e as enchendo com coisas úteis.

Me sentei no sofá com a mala ainda em meus braços.

- Luce! - Ben gritou da cozinha, sem nem se quer olhou pra mim. - Não é hora de ficar sentada, pegue as roupas que estão na mala e vista!

Revirei os olhos. Era um saco todo mundo me dizendo o que fazer.

- Eu vi isso. - Ele disse, ainda sem se virar pra mim, no exato momento em que revirei os olhos.

Enfurecida, peguei a mala e fui para o meu quarto. Pelo menos lá ninguém me encheria a paciência.

Joguei a mala em cima da cama, tirei as roupas que estavam dentro dela e as vesti. Não vi nada de mais para falar a verdade. Lá dentro tinha uma calça preta, uma camiseta cinza de mangas compridas e um gorro.

- Elas são bem mais poderosas do que parecem. - Marcos disse, entrando no quarto.

- Você nunca aprendeu que se deve bater antes de entrar? - Encarei seu rosto.

Ele deu de ombros e ignorou meu comentário.

- Essas roupas são feitas de um tecido especial. - Continuou. - Praticamente nada pode rasgá-lo.

Seu rosto fitou minha perna esquerda por um momento, como se estivesse pensando seriamente em algo.

- Algum problema com a minha perna? - Tive que perguntar.

Ele desviou o olhar.

- Não, eu só...deixa pra lá.

Bufei. Já estava cansada de tudo aquilo, de todos aqueles segredos.

- Olha só Marcos... - Comecei.

- Você Luta? - Uma voz vinda da porta perguntou, interrompendo meu sermão. Olhei na direção do som e vi Bem entrar no meu quarto.

- Acho que vou providenciar um cadeado. - Fitei seu rosto sardento. -Você não sabe bater?

Cruzei os braços, mas fui ignorada completamente.

- Vai me responder ou não? - Ele arqueou as sobrancelhas.

- Antes de me mudar pra essa cidade, eu fazia Muay Thai três vezes por semana. - Marcos me olhou, surpreso. - Meu pai insistiu depois que fui assaltada na rua de casa.

Falar aquilo trouxe lembranças da minha antiga cidade, do meu antigo bairro... do meu pai. Mas dessa vez não fiquei triste, dessa vez eu estava determinada a salva-lo.

Ben me olhou nos olhos por quase um segundo inteiro.

Me perguntei como ele poderia supor que eu praticava algum esporte.

- Da pra ver pela forma como você se movimenta, deixando sempre a guarda alta. - Levei um susto, quase esqueci que meus pensamentos estavam desprotegidos perto dele. - Seu corpo atlético também ajudou a perceber.

Corei no mesmo instante. Eu não podia negar que fazer Muay Thai por quase três anos tinha trago alguns músculos definidos, mas era tudo muito sutil. Ele foi um idiota em dizer isso assim, bem na minha cara.

- E por que você se importa se eu luto ou não? - Retruquei.

- Será que esqueceu? - Ele se virou para ir embora. - Estamos saindo em missão, e existe a possibilidade de pessoas não voltarem. - Engoli em seco. - Precisamos estar preparados.

Ele saiu do quarto, me deixando sozinha com Marcos.

- Eu não pratico já faz um tempo. - Encarei o rosto da única pessoa no quarto. - Além do mais, eu nunca lutei com alguém pra valer.

- Assim como nunca atirou de arco e flecha.

Ele andou até a saída, sorriu e atravessou a porta de madeira, fechando-a atrás de si.

Será mesmo possível?  Me questionei. Eu realmente conseguiria lutar pra valer com alguém?

Eu descobriria a respostas dessas perguntas dentro de algumas horas, e isso me apavorava.

Fitei a parede do meu quarto por alguns minutos, que na verdade pareceram uma eternidade. Minha cabeça estava a mil.

Meu corpo se contraiu quando ouviu batidas na porta.

- Pode entrar, está aberta. - Lucas apareceu segurando o arco que eu usara mais cedo. - Até que enfim alguém que sabe bater.

Ele riu e me entregou o que estava trazendo nos braços.

- Está na hora.

Assenti, colocando o arco nas costas e saindo do quarto em direção a sala.

De repente me deparei com uma confiança que veio do nada. Eu sabia o que iria acontecer, mas mesmo assim não estava com medo, eu me sentia diferente, quase como se estivesse em êxtase puríssimo. Eu não conseguia parar de sorrir.

- Vamos? - Perguntei, assim todos se reuniram em frente ao sofá.

Eles assentiram e então saímos pela porta da frente em direção a picape. Comtudo, Gabriel, Leo e Ana não nos acompanharam.

- Vocês não vem? - Fiz cara de interrogação.

- Nossos dons não tem serventia para a missão de hoje. Então ficaremos em casa. - Ana, sorriu.

- Mazel Tov! - Grabriel gritou na minha direção. - Significa boa sorte em hebraico.

Sorri em agradecimento e encarei a noite chuvosa assim que saímos da casa, me perguntando o que peça o destino iria me pregar dessa vez.







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