Capítulo 29

131 16 7
                                    

- Eu? - Perguntei, sem entender.

- Sim, você.

- Eu não estou entendendo. - E não estava mesmo. - O que eu tenho a ver com aquele bilhete?

- Pense comigo. - Ele respondeu. - Quando encontramos nosso amuleto, um véu de proteção se desfaz do nosso corpo e todos os outros descendentes podem nos sentir, assim como os humanos também podem reparar mais claramente em nossa presença. - Ele parou por um instante e meu cérebro raciocinou. - Foi assim que Marcos te achou, o que significa que as pessoas que pegaram seu pai são como nós, descendentes, pois foi por você que eles encontraram seu pai, já que ele era um perfeito mestre em esconder sua presença, já você.

Um nó se formou na minha cabeça.

- Então todos esses anos em que não consegui fazer amigos foi por causa desse véu de proteção? - Foi a única duvida que tive.

- Provavelmente. - Ele respondeu. - Mas não se preocupe, agora que você encontrou o seu amuleto todos vão poder te sentir e te ver, inclusive aqueles que não tem boas intensões.

Meu cérebro raciocinou uma segunda vez, e uma segunda duvida surgiu em minha mente.

- Mas o Marcos me disse que todos podem sentir nossa presença quando nascemos, inclusive qual será o nosso dom.

- Isso é verdade.- Ele disse. - Mas dura apenas alguns segundos, logo depois o véu cai sobre você, não dando chance de alguém te encontrar.

- Entendi. - Balancei a cabeça. - Mas o que tudo isso tem a ver com o bilhete?

- É simples. - Seu tom ficou sério. - O bilhete dizia que seu pai tinha quebrado um acordo, do qual não temos ideia, e também diziam que estavam a procura de uma tal Clara, certo?

- Isso. - Respondi.

- Ou seja. -  Ele continuou. -  Eles apenas procuravam por ela, mas não sabiam onde ela estava exatamente, o que significa que ela não é a garota que está supostamente conosco, por tanto, levando em conta que a unica pessoa que veio para nossa família que tinha ligação com esse bilhete era você, fica meio difícil acreditar que a garota mencionada não era de fato você.

Fiquei boquiaberta, o poder de dedução dele era incrível.

- Como deduziu isso tão rápido? É algum tipo de dom?

Ele sorriu.

- Não, é apenas meu cérebro trabalhando.

Fiquei intrigada, como eu não tinha pensado na possibilidade da garota mencionada ser eu? Mas acima de tudo, o que isso significava? E quem era Clara afinal?

Mais uma vez minha mente fervia de perguntas, todas sem respostas.

- Espero ter ajudado. - Leo disse, se levantando.

- Você ajudou muito Leo. - Eu sorri. - Mais do que imaginei.

Ele devolveu o sorriso e foi em direção a casa, lugar onde Marcos acabara de chegar, cheio de malas.

A curiosidade me venceu e eu levantei devagar, caminhei lentamente até Marcos, queria saber o que tinha nas malas.

Assim que me aproximei ele sorriu.

- Vejo que alguém está bem melhor.

- É, eu estou mesmo. - Respondi, seca, ainda estava com raiva dele por causa de ontem a noite.

Ele me olhou desconfiado.

- Ainda está com raiva por causa de ontem?

- Não.

- Que bom.

Ao contrário dele eu era uma ótima mentirosa, e usaria essa vantagem ao meu favor.

- O que tem nas malas? - Perguntei, mudando de assunto.

- Suas coisas. - Ele olhou pra mim. - Você vai morar aqui agora.

- O que? Por quê? - Perguntei, quase gritando.

- Porque o seu pai sumiu, e agora você pode estar em perigo também, sua casa não é mais segura.

Me enfureci.

- E quem é você para decidir onde eu moro ou não? Até onde eu sei sou menor de idade, e um estranho não pode simplesmente me levar embora!

Ele respondeu em uma voz calma e serena as palavras das quais nunca vou me esquecer.

- Sou seu tio.

MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora