Capítulo 38

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Ele estava em pé, bem na minha frente, andando de um lado para o outro, como se estivesse pensando.

Parecia estar em perfeitas condições de saúde, não usava mais a tala, nem mesmo mancava, só esboçava um sorriso calmo e tranquilo.

Depois de todos aqueles acontecimentos achei que ele nunca olharia na minha cara outra vez, mas eu estava enganada.

Assim que me aproximei, senti uma energia percorrer o meu corpo, uma energia tamanha que por um momento quase perdi o foco.

E então eu soube. Era ele. Todo esse tempo tinha sido ele, e só ele.

- É você... - Deixei escapar, ainda sentindo eletricidade percorrer meu corpo.

- Sim. - Gabrielle disse com um sorriso enorme no rosto. - Achei que gostaria de vê-lo novamente.

- Não! - Tentei explicar o que estava acontecendo mas minha boca não formava frases. - Você não entendeu, ele...ele...

 Thomas se aproximou e senti como se um raio tivesse caído sobre mim.

- Relaxa Luce, não estou com medo nem nada, só quero te dar uma coisa.

Ele aproximou-se mais e a comida no meu estômago embrulhou, pude senti-la querendo sair pela minha garganta.

-  Tudo bem? - Ele me estudou com o olhar.

- Eu vou... - Coloquei as mãos na boca desesperadamente, empurrei Thomas para o lado e corri em direção ao banheiro.

Ao longe escutei Gabrielle gritando algo, mas não consegui distinguir, meu cérebro tinia.

Encontrei o banheiro em cima da hora, já sentia minha garganta queimar. 

Empurrei a porta com força e corri para dentro de uma das divisões.

Quase que instantaneamente, levantei a tampa do vaso sanitário e coloquei tudo pra fora, tudinho.

Depois de alguns segundos consegui me levantar e dar descarga, em seguida andei até a pia, lavei minha boca e meu rosto.

Dois minutos se passaram até que eu percebesse Gabrielle ao meu lado.

- O que aconteceu? - Ela perguntou.

- Thomas. - Consegui dizer.

- O que tem?

- É meu amuleto. 

Ela arregalou os olhos.

- Tem certeza?

- Absoluta.

E eu tinha mesmo, sabia com toda a certeza de que aquela energia emanava dele, pude sentir sua alma por inteiro.

- Foi assustador. - Revelei. - Quase não aguentei tanta energia. 

- Foi por isso que vomitou?

Fiz que sim com a cabeça, minha garganta estava ardendo demais para falar.

- Isso não faz o menor sentido. - Ela se inclinou na pia. - Amuletos são objetos, coisas inanimadas, sem vida, apenas um catalizador, não um ser humano.

- E isso é ruim? - Perguntei, lavando mais uma vez a boca. 

- Não sei, mas em toda história dos filhos de nefilins nunca houve um amuleto humano.

Aquilo não me pareceu bom, nem de longe.

- Bem, essas coisas não importam. - Ela disse. - O importante mesmo é que achamos seu amuleto.

- É. - Concordei. - Mas acho que não vou conseguir chegar muito perto dele sem querer colocar meu almoço pra fora.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas tudo o que ouvi foi o sinal incrivelmente alto da escola tocando.

Assim que o som sessou ela pegou minha mochila que estava no chão e me entregou.

- Acho melhor nós irmos.

Concordei com a cabeça, sequei meu rosto e peguei minha mochila.

- Vamos. - Ela abriu a porta.

Coloquei a mochila nas costas e sai relutante.


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