Capítulo 1

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Quando abri os olhos estava ainda em minha cama.

Então aquilo foi apenas um sonho?

Eu estava suando, o despertador tocava.

Levantei ainda sonolenta, tomei um banho e escovei os dentes, minha dor de cabeça havia voltado.

Abri meu guarda-roupa na procura de algo decente para vestir, e me deparei com ele vazio, então lembrei que minhas roupas ainda estavam todas nas malas de viagem. Eu e meu pai havíamos nos mudado para os Estados Unidos faziam dois dias, e ainda não tínhamos arrumado tudo. Pelo menos eu não.

Comecei a vasculhar as malas e encontrei uma calça jeans preta, uma blusa de mangas compridas cinza e meu all star, ou seja, o básico de sempre. Normalmente uma garota levaria mais tempo para se vestir, mas nunca consegui levar mais do que quinze minutos.

Deixei meu cabelo solto, fiz leves tranças nas laterais e passei um delineador. Em seguida, peguei minha mochila e fui em direção a cozinha, meu pai estava lá, fazendo o café.

- Bom dia! - Eu disse. - O que tem para o café?

Ele levou um susto e quase derrubou a frigideira.

- Não entre na cozinha assim de fininho, eu posso ter um treco, sabia?

Eu ri.

- Então, o que tem pro café?

- Pão com ovo mexido. - Disse, animado.

- O cheiro está ótimo.

Sentei no balcão da cozinha, queria conversar com meu pai a respeito do sonho, mas eu tinha medo da sua reação porque sempre que eu falava de sonho o clima ficava meio estranho.

- Bom apetite. - Ele colocou o prato na minha frente.

De repente, a comida não me pareceu tão gostosa assim, fiquei encarando-a, mas não dei uma mordida sequer.

- O que foi? Tem algo errado com o pão? - Meu pai perguntou.

- Não, e que...

Fiz uma pausa.

- Se não quiser contar tudo bem.

Uma das coisas boas no meu pai e que ele não fica me pressionando.

- E que... desde que chegamos aqui eu venho tendo uns sonhos estranhos.

- Sonhos estranhos? - Disse, um pouco assustado demais para.

- Sim.

Era verdade, sonhei sobre coisas estranhas com pessoas que nunca, mas o sonho de ontem a noite foi de longe o mais esquisito e o mais vívido até então.

Ele passou a mão na barba, como sempre fazia quando estava nervoso.

- São só sonhos, não precisa se preocupar.

Dava para sentir a mentira em sua voz. Meu pai sempre fica na defensiva quando entramos em assuntos desse tipo. Sinto que ele me esconde alguma coisa.

- Tem uma coisa que eu ainda não entendo. - Falei, tentando instigar a curiosidade dele.

- O quê?

- No sonho eu fico lá, parada sem me mexer, só observando, e nunca consigo ver os rostos das pessoas, apenas seus olhos, o que não faz sentido.

- Luce, é apenas um sonho, não precisa fazer sentido.

Ficamos em silêncio por um minuto, vi que ele não tentaria me ajudar e eu resolvi encerrar o assunto.

- Estava muito bom pai, mas tenho que ir, estou atrasada.

Levantei e peguei minha mochila, já estava quase saindo quando ele disse:

- Você vai sair assim? - Bufei, esperando que fosse algo importante.

- Assim como? - Olhei minha blusa para ver se tinha alguma mancha ou coisa do tipo.

- Com essa roupa. - Ele cruzou os braços.

- Você nunca ligou para as roupas que eu uso, por que isso agora?

- E que... - Ele parecia arrependido por dar uma de pai ciumento.

- O quê?

- É seu primeiro dia nessa escola, você devia ir mais feminina, quem sabe faz amizades dessa vez? - Foi oficialmente a coisa mais estranha que meu pai disse pra mim em toda a minha vida, mas não questionei.

- Pai, não vou fingir ser quem não sou só para agradar os outros. Eu gosto dessa roupa, e se alguém quiser ser meu amigo de verdade vai me aceitar pelo que eu sou.

- Você é igualzinha à sua mãe. - Ele desviou o olhar, como se não quisesse lembrar.

Eu sabia que esse era um assunto delicado, minha mãe nos deixou quando eu ainda era uma criança, fugiu com algum idiota três anos mais novo que meu pai, e embora ele nunca tenha me contado a história com todos os detalhes, sei que isso o machucou muito, por isso não deixei que ele dissesse nem mais uma palavra, peguei a chave do carro e sai.


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