Capítulo 44

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Era noite, chovia forte e uma lua minguante brilhava no céu.

Olhei em volta, eu estava na traseira da picape, exatamente como a três segundos atrás, todos estavam no carro e vestiam um uniforme preto, inclusive eu, que tinha um arco e flecha nas costas. Estavam todos preparados para fazer algo, mas o quê? 

- Tem certeza Luce?! - Marcos gritou de dentro da picape.

- Tenho! - Minha eu do futuro respondeu, tirando o arco das costas e pegando um flecha. - Nós vamos conseguir!

Ela olhou diretamente pra mim, como se soubesse que eu estava lá, e acho que sabia.

Marcos acelerou e eu me desequilibrei, fazendo a imagem mudar, como se tivessem embaçando uma poça d'água.

Agora eu estava no quintal de uma casa, ainda era noite e ainda chovia, o lugar era grande e protegido por muros altos, a casa cujo eu estava na frente era antiga e possuía uma lua crescente no topo do telhado.

Eu olhei pra trás e vi todos os meus amigos, exceto Marcos, ele não estava com eles.

Observei todos com atenção, eles pareciam não perceber que eu estava ali, nem mesmo a eu do futuro que estava apoiada em Ben parecia perceber.

Olhei para frente outra vez, a porta da casa começou a se abrir.

Todos olharam apreensivos enquanto um homem saia por trás dela, junto com meu pai, Lucio.

Prendi a respiração, meu pai estava ao lado daquele homem, ele estava vivo, estava bem.

- Eu quero uma troca! - O homem gritou em meio a chuva, segurando meu pai pelo braço. - Deixo Lucio ir embora, deixo todos irem embora sem sofrer um arranhão.

Houve uma pausa e só então eu percebi os inúmeros guardas em cima do muro apontando armas para os meus amigos.

- E o que quer? - Ben perguntou, quebrando o silêncio.

- Luce, eu quero a Luce. - Ele gritou. - Uma vida por todos vocês.

Todos ficaram em silêncio e tudo o que ouvimos por um tempo foi o som da chuva caindo.

- Eu aceito! - Ouvi a mim mesma gritar e me separar de Ben.

- Não Luce, você não pode! - Ben me segurou, mas eu me soltei.

- Eu preciso fazer isso Ben.

Ele me soltou e eu cambaleei até a porta onde o homem estava.

Assim que cheguei abracei meu pai.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa o homem o empurrou para fora da casa e me arrastou pra dentro.

- Pai! - Me ouvi gritar enquanto a porta se fechava com violência, deixando todos pra fora.

Um raio soou ao longe, clareando o quintal da casa por uma fração de segundo, foi a última coisa que vi antes de tudo escurecer por completo.

                         ***

- Luce... - Ouvi alguém chamar meu nome enquanto balançava meu ombro.

Tentei abrir os olhos mas nada aconteceu.

Respirei fundo, me concentrei e meus olhos começaram a abrir devagar.

Aos poucos consegui enxergar a imagem turva e confusa de Marcos.

- Ainda bem. - Ele soltou o ar.

- O que aconteceu? - Perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

- Você desmaiou na picape.

Levantei devagar, precisava digerir o que tinha acontecido, foi então que percebi onde estava.

- Como cheguei no meu quarto? - Perguntei, enquanto levantava da cama.

- Eu te trouxe.

Dei de ombros, não queria nada que viesse dele.

- Eu sei que teve uma visão Luce.

Aquelas palavras me fizeram arrepiar.

- É, eu tive.

Ele me ajudou a sentar, me deu uma xícara de café (imagem da multimídea) e passou a mão nos cabelos, exatamente como fazia quando estava nervoso.

- Quer me contar? - Ele perguntou.

Eu não queria contar, mas precisava.

- Aconteceu o seguinte...

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