Uma senhora rechonchuda abriu a porta, ela vestia um sweter vermelho e calça jeans. Seu cabelo castanho era liso e bonito, mas o corte chanel não combinava com seu rosto.
Ela olhou fundo nos meu olhos e arqueou as sobrancelhas.
- O que deseja?
- Eu queria saber se aqui é a aula de biologia.
- É aqui sim, qual é o seu nome?
- Luce Giffin.
- A aluna nova. - Ela bufou, como se odiasse aquilo. - Qual o motivo da sua demora?
- Eu não estava conseguindo encontrar a sala, e como você já disse, sou nova aqui.
Ela me examinou, procurando alguma brecha no que eu estava dizendo.
- Tudo bem senhorita Giffin, hoje vou deixar passar, acredito que já tenha decorado o caminho. Entre, sente-se e preste atenção.
Hesitei um pouco, haviam milhares de olhos curiosos focados em mim. Apertei a alça da mochila, tentando em vão, me reconfortar.
Tomei coragem e dei um passo à frente, avistei uma cadeira vazia e me sentei.
- Bom, continuando...
Ela começou a explicar sobre neodarwinismo (teoria sintética da evolução), mas eu não prestei muita atenção, minha cabeça estava explodindo de dor.***
O dia passou rápido, tive a sensação de que estudei nessa escola minha vida toda. Tudo que fiz pareceu natural, mas como sempre, ninguém falou comigo, sequer notaram minha presença, mas eu estou acostumada.
O último sinal tocou, todos saíram das salas como se estivessem esquecido suas panelas no fogão. Sai pela porta da frente e fui em direção ao carro, queria voltar logo para casa.
Entrei, liguei-o e comecei a dirigir. Lembrava bem o caminho, não precisei ligar o GPS.
***
Quando estava na rua de casa, um cachorro entrou na frente do carro. Entrei em desespero e virei o veículo bruscamente, entrando na calçada.
Vi algo bater no capo, e então freei.
Senti uma pancada na cabeça, mas a dor foi embora na mesma rapidez que surgiu.
Abri a porta desesperada e vi um garoto caído no chão, ele devia ter a minha idade.
- Droga! Será que eu o matei? - Falei, um pouco alto de mais.
- Faltou pouco. - Ele tentou se levantar, tinha um corte na cabeça e parecia estar prestes a desmaiar.
- Não fale, fique quieto, vou chamar uma ambulância.
-Não! Por favor, nada de ambulância. Eu estou bem.
Era óbvio que ele não estava bem.
- Esta certo, eu não vou chamar, mas você precisa parar de se mexer.
- Preciso... me levantar. - Ele custou à dizer.
- Não, fique quieto! Vou te tirar daqui.
Levantei-o com cuidado, coloquei seu braço em torno de meus ombros e o levei para o carro.
Faltavam poucos metros para chegar em casa.
Assim que estacionei fui até o outro banco buscá-lo. Entrei em casa com ele e deitei-o no sofá.
Em seguida peguei meu celular e disquei o número do meu pai.- Alô, pai?
- Luce? Você sabe que eu estou trabalhando e...
- Eu atropelei um garoto. - Falei rápido, esperando que ele não surtasse. - Eu estava voltando da escola e um cachorro apareceu na minha frente do nada, eu desviei, mas acabei acertando o menino na calçada. Sinto muito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minguante
FantasyLuce sempre foi uma garota esquisita, tinha sonhos e sensações sobre o futuro que as pessoas a sua volta não conseguiam entender, mas a verdade era que nem mesmo ela entendia. Tudo piorou quando seu pai recebeu uma proposta de emprego e eles se muda...