Capítulo 49

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No instante em que ele disse aquelas palavras eu me lembrei da visão, lembrei de ter visto meu pai, de ter visto pessoas apontando armas para mim, de ter me oferecido em troca da vida de todos os meus amigos. Mas teve uma coisa que não consegui ver. Não pude ver o que acontece comigo quando entro naquela casa, não pude ver se meus amigos realmente foram poupados. Saber disso me causava enjoo.

- Vai acontecer hoje Marcos. - Eu o encarei. - Hoje é o dia da minha visão, posso sentir. - E podia mesmo, não saberia explicar se ele perguntasse, mas todas as células do meu corpo gritavam dentro de mim, dizendo que era hoje.

- Eu sei. - Ele disse, me fazendo arregalar os olhos. - Você não é a única que prevê o futuro Luce.

Antes que eu pudesse me pronunciar, ele entrou na casa com o guarda-chuva, me deixando sozinha na varanda, com meus nervos a flor da pele.

Poucos segundos depois ele voltou, trazendo em suas mãos um arco e flecha, o mesmo que eu tinha visto na previsão.

- Se conheço meu irmão, ele com certeza te ensinou a usar.

Neguei com a cabeça.

- Eu nunca se quer toquei em um desses em toda a minha vida.

Ele me olhou intrigado.

- Você deveria pelo menos tentar, acho que vai se dar bem.

Duvido!  Eu quis dizer a ele, mas ao invés disso peguei o arco.

- Tente acertar aquela flor ali. - Ele apontou para uma flor em um galho de árvore à 20 metros de distância.

Olhei pra ele sem entender. Fazer aquilo era impossível, e a chuva só piorava as coisas.

- Marcos, eu não vou conseguir.

- Nunca diga isso antes de tentar primeiro.

Suspirei alto, mostrando minha indignação.

- Vamos Luce, é só mirar na flor. - Ele ajeitou o arco nas minhas mãos.

Respirei fundo, mirei a ponta da flecha na flor e tencionei a linha até  suas penas ficarem rente a minha bochecha, mantive os braços parados e o mais na horizontal que pode. Senti o vento a minha frente, percebi o peso da chuva. Em seguida, apontei a flecha para exatamente 10 cm acima flor. Meu corpo me dizia o que fazer sem que eu pedisse a ele. Respirei uma última vez.

Soltei a flecha, que para minha surpresa acertou a flor em cheio.

Olhei para Marcos, incrédula.

- Eu não faço a menor ideia de como fiz isso. - Falei enquanto Ben e os outros saíram pelo porta.

- Isso o quê? - Lucas perguntou.

- Luce acertou, com o arco e flecha, uma flor de tamanho médio à uns 20 metros daqui. - Marcos disse sem nem sequer parecer impressionado.

- Com essa chuva?! - Lucas me encarou.

Fiz que sim com a cabeça.

- Isso é estranho, eu nunca peguei em um desses antes.

- É a sua ancestral Luce - Ana me disse, enquanto tocava meus ombros. - Ela foi a maior arqueira dos Minguantes até hoje.

Eu ia perguntar como ela poderia saber daquilo, mas então me lembrei que eu não era a única com habilidades.

Houve um leve murmúrio entre eles e assim que ficaram quietos Marcos disse:

- Todos vocês me ouviram de manhã não é? - Ele perguntou e todos fizeram que sim com a cabeça, menos eu. - Pois bem, vai acontecer daqui a alguns minutos, estejam preparados.

Assim que ele terminou todos voltaram pra dentro tão rápido quanto saíram.

- Eu ainda não entendi.

Ele se virou pra mim.

- Estamos nos preparando pra sair em missão, acho melhor você se preparar.

Assenti e entrei na casa.

Eu finalmente tinha entendido, estávamos nos preparando para resgatar o meu pai, ou melhor, me dar de bandeja para o inimigo, seja lá quem ele fosse.





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