Eu preferia não estar nessa bosta

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Austrália, 11:00, Quarto de Becca

Ah fim de semana, amado fim de semana que não segue as proporções do resto da semana, dois dias pra cinco, por que isso heim? Enfim, apesar de só dois dias, essas eram as mais preciosas 48 horas de todos nossos personagens, que podiam aí sim mostrar suas verdadeiras faces com a vida.

A pequenina fechou a porta atrás de si, calma, colocou o celular no bolso do shorts, apertando o laço no cabelo, ela colocou-se a andar, não tinham ninguém nos corredores, todos os alunos ou tinham saído e voltariam na segunda de manhã, ou estavam nas casas dos pais recebendo mimos de saudade, ela, pelo contrário, não tinha nada para esse dia, até que passou por seu cérebro que tinha esquecido algumas compras do dia anterior com Kook, o qual tinha a obrigado a deixar algumas sacolas com ele, a memória dela consegui ser tão ruim que deixou o menino levar as compras embora, e agora ia buscá-las.

Desceu as longas escadas, passou pelo grande pátio, ela podia ir para a ala dos meninos? Não, não podia, claro que não, mas ela ligava? Não. Tinha algum meio de vazar? Claro. Ela ainda amava a ideia de que um simples giz causava tanto estrago em algumas pessoas, e nada como sempre ter alguns consigo, se alguém abrisse sua bolsa, acharia que ela fazia contrabando de drogas, mas não, esse não era o papel DELA.

Encarou a porta a sua frente, engolindo em seco, voltando a ser a simples menina com medo do inevitável, bateu três vezes, andando alguns passos para trás, esperando resposta.

- Eu não tenho mais aquele... - O menino calou-se assim que a viu, fazendo uma cara surpresa. - Becca! - Ele exclamou, recebendo um tapa dela. - Ah, desculpa, você não podia estar aqui né? Entra aí, antes que te vejam.

Rebeca adentrou o quarto, nunca estivera lá antes, e não se impressionava com o que via, era um verdadeiro ninho de um garoto viciado em jogos, de todos os tipos, ela sorriu, sentando-se na cama, esperando ele voltar-se a si, sentando na cadeira a frente dela.

- Acho que vim em uma hora ruim... - Ela começou a falar.

- Que nada, eu só estava esperando mais algum menino chato me enchendo o saco, mas eu não estava fazendo nada. - Ele olhou ao redor, o ambiente ficou em silêncio e um clima estranho começou a se instalar... Ela olhou para os próprios pés, procurando algum assunto.

- Kookie, ontem nós saímos... E eu esqueci algumas compras com você. - Ela decidiu enfim ir direto ao ponto, suspirando frustrada. - E eu tenho que levá-las ao clube.

- Ah, era por isso que você veio aqui. - Ela percebeu o tom desapontado na voz dele, ela só não sabia por quê. - Esqueceu que sou do mesmo clube? Eu posso levar.

- Eu sei, mas eu achei que você ia esquecer, não sei, me passou isso pela mente. - Mentira.

- Ah, relaxa, não vou, enfim, aproveitando que está aqui... E para não fazer dessa caminhada uma viagem perdida... - Ele se levantou, segurando algumas caixas. - Quer jogar alguma coisa?

- Opa, agora eu vi vantagem! - Ela se levantou excitada, aproximando-se dele. - O que você tem aí?

- Hum... Eu acho que podemos nos dar bem nesse. - Ele estendeu uma das caixas para ela, SCV (Soul Calibur V), os olhos dela brilharam, amava muito aquele jogo, e não jogava desde que saíra de casa para ir a escola, há quase dois anos.

- Bora! - Ela tentou pegar a caixa, mas ele estendeu o braço para o alto no último segundo, ela o olhou com uma cara confusa, nem tentando pegar, porque saberia que não ia prestar. - O que houve?

- Vamos fazer algo legal, a cada luta perdida, temos que pagar algo um ao outro. - Ela deixou um sorriso sair, ele o devolveu. - Quer saber o que é?

- Não, eu posso descobrir daqui a pouco, quando você perder pra mim.

- Só nos seus sonhos. - Ele colocou o CD no console, entregando um controle a ela. - Quero ver quantos beijos vou ganhar de você, Senhorita Becca.

Ela gelou, e virou a cabeça a ele, vocês podem dizer: Não era óbvio? Era, porém não para nossa pequena garota, que já achou que teria que reunir dinheiro pra comprar comida, não para dar uns beijos, em um segundo, ela se viu destinada a ganhar tudo.

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Austrália, 11:30, Terraço

- Acho melhor sair daí. - Kidoh aproximou-se da garota na beirada da grade do último andar da enorme escola. - Não quer morrer agora quer?

- Você sabe que não vou morrer. - Ela desceu da grade, flexionando os joelhos, colocando o pirulito na boca. - Tá fazendo o que aqui?

- Vim atrás de você ué, estamos no sábado, nada pra fazer, ninguém pra atrapalhar, tem muitas coisas que eu posso vir a querer fazer aqui. - Ele passou um braço pela cintura dela, que tirou o pirulito da boca, sentindo os lábios do garoto sobre os seus, que quando se afastou, lambeu os mesmos. - Morango... Não é meu preferido, mas vindo de você, aceito qualquer coisa.

- Você é um depravado, Kidoh. - A ruiva andou com o mesmo até a sombra, tomando os lábios dele para si novamente, sentindo as mãos dele apertarem suas cochas, mas tudo que era bom, acabava rápido. - Pera, que é isso?

- Ah não, o que quer agora? Você passou com aquela chatice do "não to afim" e agora foi pra do "que é isso"?

- Não, eu to falando sério, seu imbecil, que merda é essa? - Ela correu de volta a beirada, inclinando o corpo para frente, deixando-o quase todo do lado de fora, o menino correu atrás dela, a segurando, os dois olharam para baixo.

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Austrália, 11:20, Ruas.

Morar em Port Pirie não fora uma boa decisão, fora uma decisão péssima, mas quando se é enganado por anúncios e propagandas, aqueles que são inocentes fazem de tudo, essa cidade era habitada por mais ou menos 13 mil pessoas, pouco perto de uma capital que se encontrava no Sul da Austrália, e era onde exatamente nossos personagens moravam, agora você quer saber, por que não fora uma boa ideia? Simplesmente porque aquela era uma cidade com uma fama ruim, não ruim avassaladora, era uma cidade boa? Claro. Era desenvolvida? Era. As coisas públicas eram boas? Eram. Mas os debaixo dos panos matavam, e matavam tudo o que tinha pela frente, até isso ultrapassar o tecido, e vir parar as custas dos inocentes, aqueles que falei antes, normais, que viviam suas vidas, divididas entre trabalho e escola, ganhando seu pão de cada dia sossegados, ou quase isso.

- Jay! - O som de um tiro foi escutado. - JAY!

- Que foi?! - A garota gritou de volta, sentindo braços a sua volta. - Eu já entendi o que aconteceu aqui, agora cala a boca e não se mexe. - A menina esgueirou-se sobre a mesa, tentando passar sem ser vista, o som de passos ecoando pela casa se tornavam cada vez mais próximos de onde ela estava, na sala de jantar, ela respirou fundo, analisando o que podia fazer, seu  pai estava desacordado ao seu lado com um olho roxo, sua mãe e suas irmãs a olhavam aterrorizadas do outro lado do ambiente. Do outro lado da sala, estava uma porta, a garagem, dentro da garagem, um armário, dentro do armário, um extintor, ela sorriu, era bom simplesmente ser a que cobria, porque ela tinha uma habilidade extra, gravar os mapas muito bem, mesmo que fosse sua casa, ela não voltava ali há anos, e rezava para que seu pai ainda fosse o mesmo. Ela virou-se para a garota que antes tinha gritado seu nome e falou muda.

- Eu preciso de você. - Sua boca formava as palavras sem nenhum som, os passos continuavam vindo, e o desespero começava a tomar conta. Sua irmã assentiu, prestando atenção nas palavras dela. - Garagem. Porta. Abrir. Sem barulho.

Assim foi feito, a menina estendeu o braço, desviando da mais velha ao seu lado [A mãe delas] e encostou na porta, fechou os olhos, nenhum barulho foi ouvido, quando a porta se abriu.

Jay correu.




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