Quatro meses antes de ela ir embora
Já fazia duas semanas que Valentina tinha ido visitar a avó. Não recebi nenhuma ligação e nenhuma carta nova chegou na caixa de correio. Eu verificava todo dia pela manhã, tarde e noite. Vazia. Meus dias tinham um misto de agonia e tristeza. Era três de novembro e nenhuma notícia, temi que nunca mais a veria.
— Calma meu filho, ela está com a vó.
— É. Mas ela não deu noticia nenhuma. Ela não vai voltar. Com certeza não. Eu sei que não. Droga mãe. Por que ela fez isso?
— Eduardo. Conheço muito pouco essa sua namorada, mas se tem alguma coisa que posso afirmar com toda a certeza desse mundo é que ela não faria uma coisa dessas. Não te deixaria sem uma explicação. Você está paranoico filho. Ela te hipnotizou.
— Se tem uma coisa que eu sei, é que as pessoas sempre nos surpreendem. E nem sempre isso é uma coisa boa — pelo menos nisso eu tinha razão.
— Meu filho, você não sabe de nada sobre essa vida.Minha mãe balançou a cabeça negativamente e deu mais um gole em seu café com leite enquanto assistia qualquer coisa na televisão. Passei a mão no rosto e fui até a janela. Era três de novembro, um novo mês havia chegado e nada daquela garota aparecer novamente em minha vida. Eu não estava conseguindo suportar. Aquilo estava estragando totalmente as minhas férias.
— Vou pra garagem.Sai pela porta da cozinha. Era cerca de três da tarde, mas não havia sol. Densas nuvens cobriam seu brilho e impediam de chegar até o chão. O vento estava gelado e eu descobri que não estava preparado para aquilo quando ele bateu no meu rosto. Me apressei para chegar até a garagem e quando entrei fechei a porta atrás de mim. Por causa do forro cheio de entulho ali era sempre quente e agradável — no inverno. Me joguei no sofá de couro e estiquei as pernas por cima do apoio de braço. Estiquei o braço e peguei o controle do Mega Drive do chão. O videogame estava ligado à uma pequena televisão, mas era o suficiente para eu, Wallace e Ariane nos divertirmos. Porém não naquele momento. Desisti de jogar pois não tive vontade suficiente de levantar e ligar a televisão. Nada conseguia prender minha atenção.
Fechei os olhos e pensei em dormir até que o mundo me acordasse. Nesse momento ouvi a porta se abrir, mas continuei de olhos fechados. Meu dia tinha sido péssimo e eu não estava com vontade de fazer nada. Só... ficar no meu canto.
— Fez um belo trabalho aqui — disse aquela voz inconfundível.
Me assustei e fiquei sentado rapidamente. Encarei aquela garota de cabelos negros que tinha um sorriso tímido meio de lado. Vestia um blusão vermelho feito de lã e uma calça preta. Seu cabelo agora tinha um franja reta e meiga. Sorri.
— Você voltou! — Antes que eu pudesse perceber já estava abraçando-a, no segundo seguinte minha boca já estava junto a dela. Quando finalmente consegui pensar voltei a falar. — O que aconteceu? Eu estava tão preocupado.
— Me desculpe — disse ela. — Minha vó ficou internada, fiquei a maioria do tempo fazendo companhia pra ela. Sua casa não tinha telefone, tentei te escrever. Aliás, escrevi. Porém não consegui enviar. Desculpe.
— Tudo bem. Eu só fiquei preocupado. Pensei que você tinha me abandoando.
— Meu amor, estarei contigo até meu último suspiro — ela riu. Beijei-a.Nosso beijo se estendeu por longos minutos. De repente o ar tinha ficado quente, estávamos sentados no sofá quando minha mão encontrou sua cintura quente e fina por baixo do grosso moletom de lã.
— Gelado — ela disse. Sorriu.
Beijei seu pescoço e senti o cheiro de seus cabelos, aquele cheiro indiscutivelmente doce e delicioso. Minha mão foi deslizando por entre sua pele macia em suas costas, ela mordeu minha orelha de leve.
— Senti tanto a sua falta — confessei.
— Eu também senti a sua. Muito.Ela falava baixinho. Era quase um sussurro, sua voz era suave, mas cheia de sentimento. Eu acreditaria em qualquer coisa que ela dissesse. De repente ela me afastou com os braços e abaixou a cabeça.
— O que foi? — Perguntei. Ela parecia cabisbaixa.
— Você me ama?
— Sim. Eu amo. Eu te amo Valentina.Ela sorriu.
— Eu também te amo.
Ela pulou em cima de mim e me presenteou com um beijo inesperado. Levei minhas mãos novamente as suas costas. Era incrível como ela era quente. Fui subindo devagar, mapeando todos os ossos da sua coluna vertebral, até que cheguei no sutiã. Não sei bem o motivo pelo qual fiz aquilo, as vezes acredito que nem foi intencional, mas puxei os dois pinos que ligavam uma alça à outra e o sutiã de Valentina se abriu. Ela parou por um segundo. Estava em cima de mim, seu cabelo caído por entre seu cabelo e aquele pingente de Pedra Estrela suspenso no ar. Por um momento acreditei que ela ficaria ofendida, sairia dali e nunca mais falaria comigo. Aquele segundo em que ela me encarou sem nenhuma expressão pareceu ter durado duas horas. De repente ela se senta em cima de mim. Ainda estávamos no sofá e seus olhos estavam fixados nos meus. Então ela cruza os dois braços e puxa seu moletom. Tudo que eu lembro era que no segundo seguinte ele já estava no chão. Valentina estava sobre mim, usando aquela calça preta e na parte de cima nada mais do que aquele sutiã desabotoado na parte de trás. Sua expressão era séria, mas seus olhos estavam semicerrados. Eu não sabia como estava meu rosto naquele momento, mas consigo imaginar. Valentina então colocou as duas mãos sobre meu peito e se inclinou suavemente aproximando seus ombros. Seu sutiã deslizou suavemente pelos seus braços e eu fiquei sem expressão. Vi pela primeira vez aquele corpo pálido e quente com meus próprios olhos. Era a primeira vez que eu via uma mulher daquele jeito. Seus seios fartos e mamilos rosados eram lindos. Virei o rosto para o lado e tentei desviar o olhar, me sentia desrespeitoso, mas ela me puxou novamente e nossos olhares se encontraram. Nos beijamos.

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88Hz
AdventureUma garota que foi embora, três amigos inseparáveis, uma promessa e um velho rádio. 88Hz conta a história de Eduardo Caravela, um jovem de dezessete anos que, depois que o amor de sua vida vai embora, conta com a ajuda de seus melhores amigos para...