Nunca Mais

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Um mês depois dela ir embora

Balancei a cabeça para me livrar das memórias que me prendiam a um passado do qual eu precisava me esquecer. Peguei a garrafa vazia de wülerberg e subi novamente as escadas. Mais uma vez minha mãe não notou minha presença. Wallace e Ariane conversavam perto da janela. Eles me encararam.

— Que demora pra pegar uma garrafa, hein — reclamou Ariane.
— Cala a boca.
— Ele foi fabricar — debochou Wallace.

Sentamos formando um triangulo no chão. Coloquei a garrafa no nosso meio e girei pela primeira vez. A ponta da garrafa ficou apontada para Wallace e o fundo para mim.

— Certo. Eu pergunto — disse eu. — Wallace, verdade ou consequência?
— Verdade.
— Você é apaixonado por alguém?
— Sim.

Eu ri, olhei para Ariane, que também riu e revirou os olhos. Wallace girou a garrafa. A ponta ficou virada para mim e o fundo para Wallace.

— Isso dai tá viciado — reclamou Ariane.
— Verdade — disse eu.
— Hm... você já mentiu pra gente?

— Sei lá. Acho que não. — Eu disse, Ariane revirou os olhos mais uma vez, parecia entediada e irritada.
— Que se foda — disse Ariane girando a garrafa. A boca caiu virada pra ela e o fundo para mim.
— Verdade — ela disse.
— Certo... bem... você gosta de alguém?
— Sério que essa é sua pergunta? Você não tem criatividade, Ed? Eu quero consequência. E é bom escolher algo legal.
— Tá certo. Te desafio a quebrar um ovo na sua cabeça.
— Meu deus — disse ela enquanto se levantava. Saiu pela porta, eu e Wallace nos entreolhamos. Um minuto mais tarde ela entrou pela porta novamente segurando dois ovos de galinha que estavam na geladeira. Ela sorriu e quebrou um ovo no cabelo, sorriu novamente e quebrou o segundo. — Prefiro isso do que suas perguntinhas de criança.

Não respondi. Girei a garrafa. Boca para mim e fundo para Ariane. Ela sorriu.

— Arrá — ela esfregou as mãos imitando os malvados dos desenhos animados — Verdade ou desafio, jedi?

Pensei bem. Se eu escolhesse desafio, provavelmente escolheria algo muito horrível para se vingar dos ovos no cabelo...

— Verdade.
— Você já... — ela fez um triangulo com suas mãos e colocou a língua no meio, mexia de um lado para o outro. — Deu uma lambida?
— Que merda, Ariane. Por isso que eu não gosto de jogar essa porra de jogo com vocês — eu disse. Wallace riu. — Não vou responder essa droga de pergunta.
— Pelo jeito já — ela disse. — Enfim, se não vai responder, vai ter que enfrentar a consequência.
— São as regras — disse Wallace.
— Tá certo. Qual é?

Ela riu e puxou o Wallace para perto de si. Sussurrou algo em seu ouvido, ele também riu. Mais murmúrios. Comecei a ficar irritado.

— Você é muito má — disse Wallace.
— Pois bem — começou Ariane. — Eu te desafio a tirar sua roupa to-di-nha. Sair pela janela e fazer uma dança no meio da rua. Bem sexy. Depois você pode entrar.
— É brincadeira, né?
— Olha, já conta como um Nunca.
— É verdade — disse Wallace. — Ainda bem que não sou eu.
— Isso é ridículo, vai todo mundo me ver pelado.
— Não tem ninguém na rua Ed. É só pela zoeira.
— Porra Ariane. Com uma amiga que nem tu, quem precisa de inimiga?

Ela riu.

Fiquei de pé e suspirei fundo. Tirei minha camiseta, Wallace riu e Ariane fingiu estar comendo uma pipoca imaginária. Abaixei a calça e fiquei só de cueca na frente dos meus do meu melhor amigo e minha melhor amiga. Os dois riram.

— Vai lá, garanhão!

Coloquei uma perna para fora e me segurei na calha que ia até o chão. Felizmente ela era bem resistente e eu constantemente a usava para sair de casa sem ser notado, embora nunca fosse muito longe. Desci devagar me segurando bem e tendo cuidado para não cair. Quando cheguei no chão e olhei pra cima, Ariane e Wallace estavam na janela rindo. Ela fez sinal de positivo com o dedão.

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