Um mês depois dela ir embora.
Acordei com o grito de Wallace. Ainda tinha o gosto de cerveja na boca e me sentia péssimo. Esfreguei meu rosto, estava em eu quarto porém não havia mais ninguém ali até que Wallace apareceu na porta todo molhado e manchado de vermelho.
— Eu acho que eu morri.
— Relaxa, toma um banho no meu banheiro, é só corante.Levantei lentamente e sai para o corredor. O chão estava imundo e melado. Garrafas e embalagens aleatórias estavam jogadas pelo chão. No fundo do corredor havia alguém atirado no chão, me aproximei para perceber que era o Fábio.
— Ei — chamei. — Acorda.
Mas ele nem se mexeu. Desisti e desci as escadas devagar, quando cheguei na sala quase não acreditei. Parecia que uma bomba havia explodido ali. Havia lixo para tudo que é lugar, garrafas quebradas, latas amassadas. Meu coração quase parou.
— O que aconteceu aqui?
— A festa — disse Ariane rindo.
— Isso daqui tá destruído.
— Não exagera — disse Israel. — Só tá um pouco sujo.
— Vocês acabaram com a minha casa.Israel levantou do sofá dando algumas risadinhas, eu não via o motivo para graça.
— Relaxa — disse Ariane, antes de gargalhar.
— O que foi? O que foi?Subi as escadas irritado. É claro que eles não se importavam com nada, ninguém aceitou que a festa fosse na casa deles. Eles não sofreriam nada. Maldito eles. Eu pensava. Me joguei na minha cama novamente, passava a mão na minha cabeça tentando de alguma forma impedir a explosão mental que estava acontecendo. Minha cabeça doía tanto. Tentei não pensar no caos que a casa estava, precisava relaxar.
Olhei para o rádio, ali parado. Me aproximei e sentei na cadeira, estava na hora de conhecer alguém novo. Puxei o fio e enfiei na tomada, apertei o botão de ligar e o Dinâmica, como escrito na lateral, ganhou vida. Coloquei o fone de ouvido bem a tempo de ouvir todas aquelas vozes e chiados se misturando ao mesmo tempo, de repente...
O silêncio.
E aquela voz.— Alo?
Aquela voz que eu poderia reconhecer em qualquer lugar, em qualquer momento, mesmo dali há cem anos. Era doce e aveludada, soava com um anjo cantando. Paralisei. Não consegui dizer nada, queria responder, tentei.
— Oi — eu disse.
— Ed? É você? Você sabe que eu não gosto de falar pelo telefone. Espere a próxima carta. Beijo, te amo.E chiado retorna.
Precisei tirar os fones e ficar de pé. Era ela. Falei com ela. Com a minha Valentina. É claro que aquela ligação estava conectada com o passado, quando ela ainda estava comigo. Sentei novamente, agora no chão. Levei minha mão até meu peito. Eu queria falar tantas coisas pra ela, queria me desculpar por tantas outras, mas não fiz. Não consegui.
Ela sempre teve o dom de me paralisar e me deixar sem respostas. Sem pensamentos. Quando ela estava envolvida, nada mais importava. Deixei uma oportunidade passar. Como sempre.
— Droga — eu disse retomando os sentidos.
Sentei novamente à cadeira e comecei a girar o botão na esperança de que o Dinâmica conseguisse de alguma forma se conectar novamente com a casa de Valentina. Se foi possível uma vez, por que não seria possível uma segunda?
Porém foi em vão, quando o rádio finalmente se conectou novamente, não foi com Valentina.
— Quem é que está falando? Eu preciso de ajuda.
— Olá — respondi. — No que posso ajudar?
— Meu nome é Jefferson. Eu não sei onde estou, tá calor. Muito calor. Meu deus, o céu é vermelho, tá tudo destruído, eu não sei o que está acontecendo.
— Qual o ano? — Perguntei.
— Não sei — ele disse. Quem não saberia o próprio ano? — Só quero ver o meu filho.
— Desculpe, não posso ajudar.
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88Hz
AbenteuerUma garota que foi embora, três amigos inseparáveis, uma promessa e um velho rádio. 88Hz conta a história de Eduardo Caravela, um jovem de dezessete anos que, depois que o amor de sua vida vai embora, conta com a ajuda de seus melhores amigos para...