Uma Gota De Sangue

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Dois meses e sete dias depois de ela ir embora

Eu e Ariane tentamos ficar o máximo de tempo possível perto de Wallace. Infelizmente não nos deixavam entrar no quarto deles e pra piorar ainda mais, eu era o suspeito número um. Precisei responder a intermináveis perguntas na delegacia.

— Como você chegou até lá?
— Ele me ligou. No meio da madrugada.
— Como você sabia onde ficava? Onde ele estava?
— EU JÁ DISSE QUE ELE ME LIGOU.

Como se tudo isso já não fosse ruim o bastante, quando Wallace acordou ele não se lembrava de nada. Não tinha ideia de quem foram os agressores e não tinha a remota lembrança de ter ligado pra mim.

— Você tem certeza que não lembra de quem te agrediu? — Perguntava o policial pela décima vez. — Pode me falar, providenciaremos sua segurança.
— Se eu soubesse eu teria dito. Ninguém mais quer tanta justiça quanto eu.

Depois de ele ter acordado finalmente pudemos fazer companhia a ele. Ainda fui idiota o suficiente pra perguntar a ele quando estávamos a sós se ele realmente não lembrava.

— Foi o Ricardo?
— Ed. Eu não sei. Eu juro. Eu só quero que esse pesadelo termine. Quero ir pra casa e não pensar mais nisso, entendeu? Só quero paz. Só isso.
— Ninguém vai ficar sabendo de nada — garantiu Ariane.

Wallace virou-se para o lado e se pôs a dormir. Não demorou muito pra ele tomar alta do hospital e ir pra casa, apesar de ele ter de ficar em repouso. Eu e Ariane conversávamos em frente a minha casa em como nós iriamos nos vingar de Ricardo.

— Tu tá certo — disse ela. — Só pode ter sido ele.
— Tens a arma ainda. Vamos na casa dele.
— O pai dele é da brigada militar.
— Foda-se. Olha o que ele fez com o Wallace.
— Quando foi que tu ficou tão parecido comigo?
— Eu te entendo bem mais agora.

Ariane tirou o revólver da mochila.

— Tu carrega assim pra todo lado?
— Nunca se sabe quando eu vou precisar.
— Então vamos.

Atirei o cigarro no chão e começamos a andar na direção da casa de Ricardo. Ele morava na rua General Teles, era uma casa de dois andares, mas simples. A camionete estava parada na frente de casa. As noites pareciam todas iguais já fazia um tempo. Não tinha certeza se o problema era o mundo ou eu que não conseguia mais notar o mundo mudando. Só sei que naquela noite eu estava pronto pra matar aquele desgraçado. Ariane arrombou a porta de trás da camionete e nós ficamos lá dentro esperando.

— Ed. Tu não tá legal — ela sussurrava.
— Eu tô ótimo.
— Não. Já faz um tempo que tu não é mais tu mesmo.
— Bobagem.
— Ed?
— Que foi?
— Desculpa se eu fiz alguma bobagem. Sinto que isso é tudo minha culpa com esse negócio dos Nuncas e tal. Só deu problema isso tudo.
— Nada disso é sua culpa. As coisas só saíram do controle.
— Pois é. Até a gente.

Me calei. Eu não conseguia lidar com toda aquela dor na minha cabeça. Minutos depois Ricardo abriu a porta e entrou na camionete. A primeira coisa que ele fez foi ligar o rádio. Foi nessa hora que Ariane colocou o cano da arma na cabeça dele.

— Seu filho da puta. Eu te avisei.
— Ari? O que foi? Eu já aprendi a lição, beleza?
— Ah é? O Wallace discordaria de você, seu filho da puta. — Eu disse.
— Do que tu tá falando?
— Do que tu fez com o Wallace, seu bosta — Ariane forçou o cano da arma na cabeça dele.
— Eu não fiz nada com o amigo de vocês. Eu aprendi a lição tá? Eu levei a merda de um tiro no saco e fiquei lá agoniando. Chega pra mim. Eu sou um bosta, ok?
— Fala a merda da verdade — eu disse.
— Eu juro. Tu mesmo disse que eu gosto de aparecer, não é? Se eu tivesse feito algo eu estaria me gabando. Porra. Para de apontar essa arma.

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