Apenas Um Desabafo

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Atemporal

Eu sempre soube que não conseguia lidar com o meu próprio futuro.

Sempre pensei demais no que aconteceria a seguir, e isso me deixava um pouco louco, um pouco fora de mim. Mas é que eu nunca consegui entender essa linha direta de coisas que temos que fazer antes de morrer. Precisamos passar anos estudando, decorando coisas que nunca vamos precisar ou usar em nossas vidas, aprendendo sobre outras coisas totalmente inúteis, para poder passar em provas que não conseguem nem de longe medir nossa inteligência, para então ter um emprego, trabalhar de segunda à sexta, chegar em casa cansado, tirar os sapatos e ser feliz antes de dormir e nos finais de semana.

Para daí então acordar às seis da manhã e ir trabalhar novamente.
Porque é isso que somos: escravos, máquinas, operários, destinados a fazer a mesma coisa todo dia, pois é assim que o sistema funciona. Vendemos nosso tempo e nosso esforço por uma pequena fatia de dinheiro. Vendemos nossa paciência, nosso descanso e até nossa felicidade. Trabalhamos em feriados, em aniversários e até quando deveríamos estar dormindo. Observamos a vida através da janela. Acredito que a maioria das pessoas vivas hoje em dia irão morrer sem ter feito a mínima diferença no mundo. Não que as pessoas não tenham esse potencial, mas porque foram criadas para isso. Eu não quero isso para mim. Nunca quis. Nunca quis ter que acordar cedo, botar o mesmo uniforme com cheiro de sabão em pó e ir até algum lugar e ficar fazendo a mesma coisa durante nove horas seguidas, todos os dias. E foi exatamente por causa disso que a arte entrou da minha vida. É por isso que eu preciso da arte e já vivo ela. É o que tem dentro de mim, é o material do qual sou feito.
Todas as minhas experiências, as coisas que eu vivo, eu transformo em cenas e sentimentos para meus livros. Tudo que eu vejo ou admiro, eu transformo em pinceladas nos meus quadros. Tudo que eu escuto, o que eu sinto eu transformo em letra e melodias nas minhas músicas bobas. EU NÃO CONSIGO SENTAR E VER AS COISAS ACONTECEREM. Não consigo ser um mero telespectador da vida. Eu gosto de fazer, de criar, de pensar. Desde pequeno eu sempre desmontei todos os meus brinquedos, só para entender como funcionavam. Eu os pintava, quebrava só para colar de um modo diferente. Eu prefiro cortar a madeira e criar uma bancada sozinho do que comprar uma linda. Dou valor a criatividade e a vontade da criação. De fazer do zero.

Eu prefiro fazer os outros darem risada do que eu rir sozinho de uma piada. Sou feito de sentimentos, mas raramente sinto alguma coisa, afinal, todo esse sentimento escorre pelos meus dedos até os pincéis, teclados de computador e cordas de violões.

E principalmente: Eu não nasci para ser feliz somente nos finais de semana.



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