Me Encontrando

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Talvez, se Valentina não tivesse falecido, nosso namoro não tivesse durado. Talvez tivéssemos namorado por mais cinco meses até que brigássemos por qualquer motivo idiota e nos separássemos para sempre. Então um dia nos encontraríamos em algum lugar, eu com a minha família, ela com a dela tudo voltaria em um segundo. Um filme sobre nós passaria em nossas cabeças e voltaríamos segundos depois para nossas próprias realidades individuais. Mas não. Acho que o realmente eternizou Valentina é que ela morreu. Deixou tudo inacabado, me deixou na terra pela metade. Nada se faz mais presente do que a ausência de alguém.

Enquanto Ava brincava no parque tirei a carta de Valentina no bolso. Eu estava com medo de abrir, porque sabia que depois que eu lesse, nunca mais teria o sentimento de ler algo que ela escreveu pela primeira vez. Abri com cuidado e puxei o papel do envelope. Sua caligrafia acendeu um fogo dentro de mim que não existia fazia muito tempo.

"Para meu Aventureiro.
Estou escrevendo de uma cama de hospital. Estão fazendo mais uma bateria de exames e eu estou exausta. Exausta porque não sei o que fazer, não sei o que pensar. Acabei de descobrir que não tenho muito tempo de vida e eu não tenho ideia de como te contar isso, não sei como posso deixa-lo. Meu coração dói, não por causa dessa doença, mas porque não quero viver em um paraíso sem você. Se eu te magoar, me perdoe. Se eu for embora, me perdoe. Tudo que eu fizer vai ser pra diminuir um pouco mais seu sofrimento, porque eu não me importo com o meu. Vivemos belos momentos juntos e eu só quero agradecer por tudo. Espero que você tenha uma vida plena, conheça alguém que te faça feliz, tenha filhos e viva sua vida. Um dia eu vou ser só uma memória distante, apagada como todas as outras que vão aparecer na sua vida. Eu não planejo te enviar essa carta, mas se você receber é porque já aconteceu. Eu fui, sabe-se lá pra onde. Não importa. Só quero que você nunca se esqueça que na minha vida só existiu uma certeza...
Que eu te amei até meu último suspiro. E a vida é cheia de surpresas.

De sua Enfermeira Cuidadosa."

Tentei não chorar ali mesmo. Coloquei a carta sob o meu peito e sussurrei ao vento.

— Até meu último suspiro.

Enxuguei as lágrimas e fiquei de pé. Estava ficando frio. Dei um pequeno beijo na carta antes de coloca-la no bolso do casaco.

— Ava, querida. Tá ficando tarde, vamos embora?
— Claro papai.

Ela correu até mim e me deu a mão. Quando me pus a andar para o outro lado esbarrei sem querer em uma mulher.

— Desculpe, foi sem querer — me expliquei.

Ela se virou pra mim e sorriu.
Ariane estava linda.
A vida é cheia de surpresas.



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