Capítulo 08

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Alfonso Herrera

Que infeliz chantagista. Pensei já sorrindo pelo meu próprio sarcasmo da situação. Eu não conseguia acreditar que realmente estava dirigindo na direção daquele coquetel. Quando foi que me tornei influenciável? Talvez no momento em que assinei aquele contrato milionário com o anfitrião da festa.

Ricardo era meu amigo, mas nada era capaz de fazer a cabeça de um Herrera sem ao menos um motivo mais que justo, e a julgar os anos de convívio com aquele ser humano, eu poderia jurar que compraria uma briga certa se negasse o pedido. Além disso, aquela seria uma boa distração depois de uma noite ao lado de Alice e sua ideia de volta.

Me olhei no espelho do carro, conferindo a gravata borboleta e passando as mãos nos cabelos para acomodar um fio teimoso bem próximo da minha testa. A desvantagem de se ter cabelos ondulados. Era difícil alinhá-los.

Desci do carro entregando as chaves para um dos manobristas, percebendo que logo na entrada havia uma espécie de tapete vermelho cheio de fotógrafos.

Era só o que me faltava.

Além da minha má vontade de estar ali, ainda teria que posar para fotos. Não adiantava reclamar, naquele momento os flashes já estavam turvando minha visão durante um sorriso discreto e algumas expressões sérias.

Endireitei as costas afetadas pelo sexo no carro e nem liguei não ter tomado banho. Nem deu tempo de suar. Não pretendia ficar ali mais que alguns minutos suficientes para que Ricardo me notasse.

Ele sabia organizar festas e isso sempre foi confirmado desde a época da faculdade de administração, quando a república lotava de calouros e veteranos dispostos a todas as loucuras dele. Toda a alta sociedade de Milão parecia ter feito questão de comparecer naquele coquetel, e dentre elas, eu cumprimentei algumas faces reconhecidas e segui na busca do meu amigo para não me demorar.
De longe vi que ele estava se posicionando em uma cadeira próxima da passarela do centro. Assim que me avistou, levantou as mãos e me chamou insistente.

- Muito bem, Herrera! - Disse eufórico - Chegou no momento exato. Sente-se que já vai começar.

Confuso, deduzi o que seria, mas decidi perguntar.

- O que vai começar?

- O desfile das garotas - respondeu em tom baixo - Apenas aprecie, e se conseguir, me diga sua opinião sobre as peças.

Ele gargalhou imaginado que meus olhos apenas se fixariam nas pernas e partes interessantes das mulheres. Talvez não fosse totalmente mentira. Eu era homem no fim das contas.
Sentei ao seu lado e as luzes se apagaram.

A iluminação era cheia de jogos de luzes coloridos, refletindo na passarela de vidro, como um espelho sensacional. Até me empolguei com tantos detalhes interessantes de se ver, e a vontade de ir embora pareceu minimizar.

Ao som de Artificial Nocturne, as modelos entraram com suas duas peças muito bem posicionas em corpos magros e altos. Elas usavam capas, máscaras e botas de couro preto. Ele tinha razão, eu não olharia para elas de nenhuma forma que não fosse sexual. Aquelas lingeries não me interessavam, mas ao contrário do meu julgamento, no nosso lado havia alguns diretores de revistas de moda anotando cada detalhe que por mim passava despercebido.

Ricardo cochichava no ouvido de alguns empresários, dando muitas risadas forçadas para parecer simpático. Ele sabia bem como lidar com todas aquelas pessoas excêntricas. Sim, eu era rico, mas estava longe de ser excêntrico. Podiam me considerar como: um dos poucos caras comuns com bastante dinheiro no bolso.

- Consegue ver como sou um bom amigo? - Ressoou sarcástico acendendo um dos seus incômodos cigarros.

- Pode fumar aqui dentro? - me esquivei de sua pergunta e foquei no que realmente me incomodava.

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