Capítulo 18

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Alfonso Herrera

Ricardo surgiu com a expressão carregada de ódio, mas assim que me viu se propôs a disfarçar, mesmo sendo tarde demais pra isso.
Ele foi para perto de mim mostrando novamente estar surpreso em me encontrar naquele corredor. Ultimamente estava se tornando comum encontrá-lo descontrolado .

Pus minha vista sobre a secretaria desatenta e lancei uma repreensão.Ela nem devia ter avisado ela sobre a minha presença ali. Percebendo sua gafe a mulher baixou a cabeça e fingiu estar checando alguma coisa. Ignorando-me.

- Não sabia que estava aqui.

- Já faz alguns minutos desde que cheguei.

- Me acompanhe - pediu dizendo alguma advertência para sua funcionária.

Ambos fomos até a sala dele e nos sentamos sobre um par de cadeiras com estofado vermelho, localizadas na parte afastada do cômodo.

Tentei ser objetivo e começar falando sobre o fato de quase todos os contratos estarem fechados, também com algumas novas fornecedoras de tecido que ele queria adicionar. Na contagem regressiva, toda aquela mercadoria estaria disponível no prazo previsto.

Ricardo podia ser qualquer coisa, menos desatento a negócios, e isso me deixou desnorteado. Desde o dia anterior ele estava longe, totalmente inerte ao que eu falava a mais de quinze minutos. Fui ignorado descaradamente e devia haver um motivo para aquilo acontecer.

- Você vai me obrigar a ser informal, mas se quiser dizer o que esta acontecendo, posso ouvir - Indaguei largando a pasta sobre a mesa ao meu lado.

- Se tiver a fórmula de obter uma mulher nas mãos, ajudaria muito - O tom sarcástico pareceu deprimente vindo da boca dele.

Ricardo deu um gole seco no copo de uísque que já tinha se servido e começou a andar pela sala. Foi então que percebi que nossa pequena reunião estaria sendo finalizada sem nem ao menos começar.

- Então estamos falando de uma mulher. - julguei interessado - Sinceramente não imaginava que você teria problemas com isso.

- E não tenho. Mas uma em especial me deixa de mãos atadas.

Automaticamente acabei relacionando o que  ele tinha acabado de dizer, com o telefonema da sua secretária um pouco antes da minha entrada. Ele estava encomendando flores. Talvez fosse para a justa mulher.

- Eu conheço?

- Com certeza não. Qualquer um que a conhece nunca é capaz de esquecê-la.

Ele parecia realmente perdido por aquela mulher. Sua voz soou fracassada.
"A mulher é capaz de conseguir tudo o que quiser. Ela enganou, Deus, porque não faria isso com nós? Meros mortais"
O sermão do meu pai nunca soou tão familiar como naquele momento. Eu tinha vindo de uma mulher, mas nunca tirei prova sobre sentimentos. Depois de ouvir tantas vezes aquele ensinamento, sempre tentei me manter a uma distância, segura, de qualquer uma que me despertasse mais do que o necessário.

- Foque nos nossos negócios. Isso é mais importante, Lafaiete.

- Somos amigos ,Alfonso, e por isso quero te pedir que tratemos desse assunto outra hora. Só te recebi por consideração a você, mas preciso resolver uma coisa antes.

- Sobre ela?

- Com ela - resmungou.

Pus meus papéis de volta e fechei a pasta preta. Levantei e apertamos as mãos. Ele fez questão de me acompanhar até a porta.

Antes de descer o elevador, decidi voltar alguns passos e ficar quase de frente a secretaria inconveniente. Pensei se devia perguntar, mas contive minha curiosidade. Talvez ela fosse muito discreta com aquele assunto.
Quem seria a mulher? A tal destruidora de corações que afetava Ricardo. Nós dois tínhamos conhecido mulheres cativantes.

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