Capítulo 45

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Anahí

- Como assim doente? - perguntei tremula - Explique agora!

Ele silenciou como se pensasse a maneira mais simples de me contar tudo o que exigi saber. Alfonso não tinha o hábito de desabafar como muitas pessoas faziam.

- Eu fui atrás de você dois dias depois no hospital, mas no meio do caminho passei mal e fiquei desacordado por uma semana. Quando tornei, recebi o diagnóstico de Anemia hemolítica.

E a bomba foi lançada. Fiquei calada por um tempo, odiando não saber nada a respeito. Nunca ouvi falar sobre aquela doença, mas o nome estranho e complicado me deixou ainda mais nervosa. De frente para ele, posicionei as pernas como numa posição de Yoga tentando manter a calma.

- É muito grave? - a duvida quase não saiu na minha voz.

- Eu estou bem agora.

- Você não me pareceu bem há alguns segundos atrás.

- Isso é só um sintoma - disse cansado.

- Ela tem cura não é?

- Estive tomando uns coquetéis, mas parei por odiar eles. Agora vou iniciar uma medicação nova. Não se preocupe quanto a isso.

- Mas sua vida me importa. Se algo de muito ruim acontecer o que vou fazer? - perguntei desesperada - O que eu vou fazer sem você?

- Anahí... Foi você - esclareceu ele - Você salvou minha vida quando a única coisa que eu sabia fazer era viver no meu mundo de riquezas mesmo com um passado marcado pelo abandono. Sou filho legitimo do meu pai, mas minha mãe era uma drogada que soube muito bem se desfazer de mim. Eu sempre tive sorte, em tudo. Em ter um pai que me resgatou, uma madrasta que me ama como um filho, uma vida cercada de luxo e bens materiais, duas mulher que me amam mesmo eu tendo sido um canalha com ambas. - dando mais uma pausa, ele baixou a vista e escondeu seus olhos mareados - A doença foi como um castigo por ter tanta sorte. Eu tinha que experimentar o azar...

- Isso não é verdade.

- Claro que é - reafirmou - Não fique triste por isso. Seu significado esta além de 'a melhor relação amorosa da minha vida'. Quando te encontre naquele dia, eu me vi nos seus olhos. Vi o garotinho largado na rua com o mesmo medo, a mesma vergonha e repulsa por si próprio no olhar. Por isso que daquele dia em diante me obriguei a ser alguém melhor.

- E você é - frisei chorosa - E eu o amo por isso.

Numa tentativa de me tranquilizar ele deu um beijo suave e gostoso nos meus lábios, acalmando a minha euforia. O som do celular fez com que parássemos e olhássemos paro o lugar de onde vinha o barulho.

- Um minuto - disse antes de pegar o celular.

Alfonso não saiu de cima da cama para falar com quem quer que estivesse do outro lado da linha. Durante a conversa, captei algumas palavras como: 'Amanhã' e 'Nove horas'.

Ele se despediu agradecido e virou para mim com uma expressão divertida.

- O que foi?

- Parece que o meu médico nos ouviu - disse sorrindo.

- Por quê?

- A medicação chegou mais rápido e ele exigiu que eu vá amanhã de manhã até o hospital.

- Posso ir junto? - perguntei esperançosa.

- Se quiser.

- Quero muito.

Eu precisava tirar todas as minhas dúvidas e entender o que estava acontecendo realmente com Alfonso.

Antes de voltar pra casa, falei com Dulce e ela parecia feliz por saber o desfecho da minha história.

Quando cheguei no meu apartamento, dei de cara com Christopher carregando algumas caixas de papelão, sorridente como um garoto de três anos. Achei aquilo estranho, a julgar que pensei que ele poderia muito bem pagar alguém para fazer aquele serviço. Ri internamente em pensar que Alfonso jamais faria aquilo. Ele era muito 'recatadinho' para funções braçais.

- Mulher que roubou o coração do meu irmão! - essa era a forma que ele resolveu se referir a mim.

- Christopher. - falei segurando uma risada.

- A futura mãe do meu filho está logo ali, na sacada.

Fiz uma ruga na testa, enquanto andava para ir atrás dela, pensando em como aquele homem parecia realmente feliz em ser pai, mesmo de uma mulher que ele mal conhecia.

Assim que me viu entrar na varanda, Dulce virou e me deu um abraço apertado.

- Como você esta?

- Estressada com a mudança - disse em tom divertido.

- Qual delas? - perguntei irônica.

- As duas!

Ela riu bastante quando respondeu a minha pergunta.

- O que faz aqui?

- Vou sentir falta dessa vista.

- Pode vir sempre que quiser, sabe disso.

- Sei - confirmou - Meu bebê de alguma forma ou de outra vai precisar ver a madrinha.

Dei um sorriso empolgado só de imaginar como seria aquele rostinho.

Conversamos durante horas, enquanto Christopher, junto do porteiro, carregavam todas as caixas. Ela me falava sobre eles terem decidido viver juntos e dos planos que já tinham em mente. Fiquei um pouco receosa pela decisão repentina dela, mas não me manifestei sobre, afinal, eu mesma não me importaria em viver junto do Alfonso naquele momento. Queria tê-lo perto a todo o momento, e conhecendo a minha amiga como conhecia, sabia bem que ela pensava igual com seu novo amor. Dulce transpirava por Christopher desde que os dois ficaram juntos na festa de natal. Eu sabia que aquele sentimento era real.

Nos despedimos com muitas lágrimas e uma ameaça minha sendo feita ao Herrera júnior.

- Se machucá-la Christopher, terá sérios problemas comigo.

Eles riram dos meus ciúmes, e se foram com uma promessa de fazer tudo dar certo.

Na varanda, recostei no batente e pensei em fumar um cigarro. Foi ai que percebi que desde a noite em que Herrera se livrou do meu Marlboro, nunca mais havia fumado. Me desfazendo da vontade, decidi que daquele dia em diante o habito de fumar ia ser descartado de vez.

Acordei bem cedo para estar disposta na consulta. Na mente, listei todas as perguntas que pretendi fazer assim que olhasse na cara no médico.

Existia certo silêncio por parte de Alfonso, mas não insisti em manter mais nem um contato. Sua face estava um pouco mais branca que o habitual e ele realmente parecia abatido. Minha mão não soltou a sua por nem um momento sequer. De vez em quanto nós nos olhávamos e sorríamos silenciosos, tímidos pela calmaria daquele hall triste.

Olhava em volta, de vez em quanto, contendo o meu pavor de hospitais. Era um motivo plausível.

Alfonso estava sentado junto comigo, mas quando nós nos levantamos ao sermos chamados pela recepcionista os pés dele pareceram fracos demais a ponto de não serem possíveis de se manter de pé. Ele veio ao chão rapidamente, sendo pego por mim e por outros clientes que também aguardavam a sua vez. Meu desespero fez parte da cena e tudo parecia rodar em câmera lenta. Como num filme antigo onde a imagem era borrada e o som não existia.

O médico saiu de dentro do consultório após ser clamado aos gritos, por mim e pelos demais. O homem exigiu uma maca, que surgiu em segundos, e eles o levaram. Tentei manter o ritmo para alcança-los, mas a minha presença parecia indesejada. Uma enfermeira apareceu na minha frente e pediu para que eu esperasse do lado de fora da sala. Ao contrário de muitas cenas mostradas em filmes, onde a mulher se recusa e exige ver o amado. Eu esperei. Ciente de que seria o certo e melhor a se fazer. Se Alfonso precisasse de mim, eu estaria lá, do lado de fora esperando para segurar suas mãos e lhe mostrar um sorriso. Maquiando o meu desespero.

- Sangue. Ele precisa de sangue agora.

Mesmo do lado de fora, consegui ouvir isso vindo do homem alto, de jaleco branco, antes da porta se fechar e bloquear a minha visão completamente.

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