Capítulo 21

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Anahí

Corri como há muito tempo não fazia, e sem um bom tênis de auxílio.
Para minha sorte, Ricardo precisava atender a porta e graças ao meu particular hábito de vasculhar apartamentos alheios, eu sabia exatamente onde ficava uma saída  estratégica.
Um dia ele mesmo me informou que por trás daquela porta marrom escura havia uma escada e um elevador disponível para eventuais emergências.
Naquele momento optei pelo elevador.
Desci desesperada olhando o painel dos andares diminuir e com a respiração acelerada.

Só podia ser algum tipo de aviso do destino. Eu estava sendo testada ao ter aqueles dois homens no mesmo lugar.

Uma hora Alfonso descobriria a minha ligação com Ricardo, mas não estava preparada para ser daquela forma. Muito menos naquele dia.
Eu não o conhecia bem, não sabia sobre suas possíveis reações, e por mais estranho que parecesse, algo dentro de mim queria se esconder. Poupa-lo.

Depois de me refugiar segui em direção a saída principal. Ainda caminhando, cumprimentei o porteiro do prédio com um sorriso assustado. Ele acenou e apertou o botão abaixo da sua mesa. Assim que a porta automática se abriu meu corpo foi bruscamente atacado pelo ar frio que saiu da rua. Maldição! Repreendi relembrando que o meu casaco havia ficado no apartamento de Ricardo. Que mania de esquecer as coisas naquele lugar.

O vestido com um decote tão exposto ia me fazer pegar, no mínimo, uma pneumonia se resolvesse andar mais alguns metros lá fora.

Dei um passo para trás recuando rápido, puxando o celular para acionar Dulce.
Ótimo, ela ia me socorrer!
Porém, antes que eu conseguisse finalizar a discagem do número Matias gritou meu nome no meio do hall chamando a atenção.

- Senhorita, sinto muito por gritar- Retrucou envergonhado - Gostaria de uma carona?

- Por favor - Respondi após alguns segundos de reflexão se seria uma boa ideia.

Assim que entramos no carro, percebi que o motorista queria manter uma conversa mais longa que de costume.

- O patrão pode parecer ruim, mas ele demonstra gostar mesmo da senhorita.

- Prefiro não falar disso.

- Foi ele - justificou um pouco relutante - O senhor Lafaiete me pediu para leva-la em casa.

- Mas... - pensei em algo para dizer, e nada me veio na mente.
Apenas recuei o corpo e abracei meus ombros, observando a rua pela janela do banco detrás.

- De alguma forma, respeitou sua fuga.

Como Matias sabia que eu tinha fugido? Talvez fosse óbvio demais. Apertei os olhos pela curta raiva que me invadiu.
Ele me olhava através do retrovisor e percebeu como minha expressão estava carregada, e ao notar isso, tirou a vista e voltou a ficar apenas no caminho que devia seguir até a minha casa.

O motorista sabia que eu precisava ficar sozinha e em silêncio.

Dulce estava sentada no sofá esperando ansiosamente. Eu já tinha ligado no meio do caminho e explicado tudo. Assim que larguei as chaves ela veio na minha direção e me abraçou. Dizia coisas sobre estar preocupada e se me sentia bem.
Talvez fosse o meu semblante de funeral que fez ela se assustar ainda mais.

Após uma longa conversa, Dulce foi se deitar e eu decidi fumar um pouco próximo da sacada. Enquanto olhava o céu escuro e sentia o frescor da madrugada, meus pensamentos foram invadidos por um desejo incomum.

Joguei a bagana do cigarro e andei para pegar meu celular. Visualizei o número por muito tempo, pensando se devia ligar ou se seria certo vê-lo naquele momento.

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