Anahí
Deixei a mala no chão da sala e corri até a entrada do quarto as pressas. Antes de chegar no destino topei com alguns homens saindo com caixas de papelão, vazias, sem nem sequer me olhar nos olhos. Me senti perdida até ver Dona Helena se mover para perto de mim, com o celular no ouvido.
- Sim, eles já instalaram tudo e já estão retornando... Certo, não se preocupe... O dinheiro está disponível.... Exatamente... - ao me ver, ela mostrou um sorriso tranquilizador e continuou - Obrigada pelo favor. Sei que não é fácil conseguir esses aparelhos para domicílio em cima da hora... Grata, até mais.
Pondo o celular dentro da bolsa, a mulher veio de braços abertos até mim e me agarrou num abraço confortável. Helena parecia tão cansada quanto eu.
- Que bom que chegou, querida.
- O que aconteceu? Vim as pressas de Nova York.
- Sinto muito por ter feito você correr, mas todos nós ficamos assustados.
- O que são essas coisas? - perguntei me referindo as caixas que ainda saiam.
Respitando lentamente, busquei dispersar a vontade de pular dentro do quarto e agarrar meu marido. Eu estava desesperada para vê-lo.
- Como eu disse a você pelo telefone há algumas horas, ele teve uma elevação na frequência respiratória e batimentos cardíacos. A enfermeira administrou alguns medicamentos, mas não baixou totalmente por que são fracos. Alfonso não aguentaria mais nem um medicamento, forte, do gênero..
- Como ele está agora?
- Essas caixas são de equipamentos específicos. Ele precisa ser monitorado a partir de agora. Diariamente.
- Dona Helena...
- Tenha calma minha querida, ele está melhor agora - por um minuto de silêncio ela me encarou e segurou minhas mãos ternamente - Chamei você porque a enfermeira disse que essa alteração não foi fisiológica, e sim psicológica.
- O que isso quer dizer.
- Quer dizer que meu filho sentiu muito a sua falta.
- A culpa é minha? - pensei aflita.
- Não! Não disse isso, apenas acho que está na hora de você passar mais tempo aqui e esquecer esse trabalho.
Ela não sabia... A final, ninguém sabia que eu ficava todo o tempo ao lado dele. Principalmente no meio da noite, quando todos dormiam sossesagados. Talvez eu estivesse pensando na possibilidade dele me ouvir, me sentir... Eu tinha fé que ele podia me sentir perto, e depois dessa notícia a minha certeza aumentou.
- A empresa precisa de mim Dona Helena. Não posso abandoná-la agora que estamos fechando licitações com o exterior. Alfonso ia querer isso de mim. Isso o deixaria melhor.
- Tem certeza?
- Meu erro foi não te-lo avisado que ia viajar... Farei isso agora!
Perdida, me soltei dela para voltar a caminhar, mas ela me segurou novamente, com o mesmo semblante piedoso de todos que me olhavam desde que meu marido ficou acamado naquela maldita cama.
- Anahí, você precisa dormir melhor. Minha filha, você está gravida, precisa descansar, relaxar... Pelo menos tentar fazer isso...
- Obrigada.
Foi o que eu disse antes de abandona-lá.
Assim que finalmente entrei no cômodo, ouvi os barulhos do aparelhos incomodarem os meus tímpanos. Aquilo era extremamente desagradável. O quarto não parecia mais com o local onde dormíamos grudados, fazíamos amor... aquilo aprecia uma sala de internação. E agora meu marido estava coberto de fios, que findavam no bendito aparelho multi informacional. Lá mostrava os batimentos dele, e realmente estavam mais acelerados.
Engolindo em seco, sentei na beira da cama, ao lado de Alfonso, e acaricie seu rosto, delicadamente. Ele parecia tão frágil.- Desculpe ficar ausente meu amor, mas eu precisei viajar a negócios. Tudo culpa sua. Quem mandou você querer uma esposa empresária.
Tentei brincar em tom sereno, e por mais incrível que parecesse, eu podia jurar que por dentro daquela capa silenciosa, ele devia sorrir ao me ouvir falar daquela maneira. Só de me imaginar uma mulher de negócios. Senti uma saudade imensa dos comentários sarcásticos, do deboche provocativo que terminavam em beijo ou cama, e obviamente do humor desinteressante dele.
- Quando vou voltar a ver a cor dos seus olhos? - perguntei para o nada - Eles são como esmeraldas, pedras de safira... Lindos. Os mais encantadores que vi na vida.
Me levantei porque precisava fazer aquilo. Meu corpo não aguentava mais o desgaste diário, e graças a uma boa sorte era sexta- feira, e no dia seguinte eu não trabalharia de forma alguma. Helena tinha razão sobre eu precisar de descanso. Mas com certeza o tipo dd descanso que ela havia citada não foi o que eu acabei fazendo. Me joguei no sofá do quarto e adormeci. Como era noite, as horas se passaram rapidamente.
"São oito horas e dez minutos, de um lindo sábado ensolarado no mês de agosto".
Esfreguei os olhos quase que com um sorriso pela voz de robô do relógio digital. Acabei comprando aquele troço por sugestão de Dulce, depois que ouvimos a enfermeira cogitar a possibilidade de Alfonso ter consciência de tudo ao seu redor mesmo de olhos fechados.
"Isso não é mais só um cogitar, eu já tinha certeza!"Pelo valor daquela coisa, devia mesmo ensinar até a cozinhar! Mas já estava em bom tamanho mostrar a previsão do tempo. Não queria que ele ficasse perdido no tempo e espaço quando acordasse.
Por que, lógico, Alfonso ia acordar.A minha gravidez estava indo bem, e de certa forma meu marido acompanhava cada etapa. Eu fazia questão de contar cada detalhe das ultra-som e de como nosso bebê crescia. Mesmo depois do pequeno sangramento que tive logo após a nossa última conversa, antes dele entrar em coma instantâneo, eu estava bem.
Sai do quarto e me encaminhei para tomar banho. Depois de pronta, me prontifiquei em ajudar a enfermeira com os cuidados matinais de Alfonso, como em quase todos os dias. A mulher de branco era de certa idade e sempre muito sorridente. Terminando, sai e deixei ela continuar seu trabalho.
Fui na cozinha, e logo que sentei, a empregada serviu meu café. A mesa foi coberta de guloseimas e aperitivos, tantos que suspeitei de Dona Helena tê-la instruído antes de ir embora.
Enquanto mordia mais uma fatia de sanduíche de peru, levantei a vista ao ouvir o som dos sapatos sociais do Dr. Colin machucar o assoalho.
- Bom dia. - Falei limpando os cantos da boca, estrategicamente.
- Bom Dia.
- Sente-se. Coma alguma coisa.
- Obrigado pelo convite Sr.Anahí, mas minha visita será rápida.
- Primeiro, é apenas Anahí, já falei diversas vezes, - ele ficou rubro com a minha repreensão - e segundo, qual o motivo da visita?
- Vim trazer os resultados do último exame de sangue do Alfonso.
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Possession
Fanfiction*Fanfic Ponny (Concluída) Madness... Foi esse o nome que Anahí admitiu após sua vida se perder no mundo e em meio a prostituição de luxo. Ela era apenas uma garota quando isso aconteceu e nada foi capaz de impedi-la de se tornar tão impetuosa, reque...