Capítulo 27

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Anahí

Correndo sobre a calçada, nós desviávamos das pessoas que também praticavam exercícios no local.
O fluxo ali era intenso, como em um desfile de barrigas saradas e belas formas, incluindo claro, os que ainda pretendiam ficar assim. Alfonso e eu não nos falamos, apenas trocávamos olhares sempre que possível.
Tanto eu quanto ele tinhamos fones plugados aos nossos Ipod's ouvindo seleções toscas.
Estava frio, e eu costumava preferir fazer aquilo em cima de uma esteira dentro do ambiente aquecido de uma academia, mas ele havia me convencido a inovar com a desculpa de que o ar puro e o sol "que não fazia diferença" eram uma boa combinação para caminhadas.
Não tive muita escolha a não ser acompanhá-lo no fim das contas. Vendo pelo ponto positivo, até que aquela experiência estava sendo prazerosa.
Eu sorria por estar tão despreocupada e por fazer algo ao lado dele. Herrera também parecia bem relaxado, mesmo tendo tantos negócios pendentes, ele se permitiu sorrir e curtir a companhia um do outro.

Ele desacelerou os passos e eu o acompanhei, orgulhosa, por não perder o pique para alguém tão bem treinado. Mas ambos éramos preparados fisicamente, tendo como vantagem a disposição. Eu dançava pendurada numa barra de ferro onde apenas a minha força me mantinha nela, ainda com a responsabilidade de me manter sorridente e sensual. Era óbvio que a aeróbica era "fichinha" para mim.
Depois de cinco minutos mais lentos,  paramos frente uma loja de aluguel de bicicletas. Ele se hidratou e se aproximou, dando um beijo na minha testa.

- O que acha de pedalar?

- Não gosto da ideia - rebati sorrindo sem jeito. Ele ficou surpreso com a minha resposta e não negou isso quando me olhou intrigado segurando sua garrafa de água.

- Fala sério?

- Sou péssima nisso.

- Anahí, você sabe pedalar?

- Em uma dessas de verdade, não. - A única bicicleta que eu utilizava era as de academia e durante o treino de cárdio.
Elas eram grudadas no chão, ou seja, risco zero de queda.

Eu não o culpei por estar surpreso com a minha falta de talento naquilo. Mas como eu poderia aprender a andar de bicicleta quando o principal responsável nisso são os pais? Eu não tinha pais presentes, nem irmãos solidários. Sempre fomos independentes e largados para viver nossas vidas, sozinhos.
Alfonso havia sido criado em berço de ouro, cercado de empregados que poderiam suprir a falta de seus pais, mesmo eu sabendo que disso ele não sofria. Sua mãe parecia bem preocupada, e pela forma como ele falava de seu pai, não era diferente na figura paterna.

Ele era um homem privilegiado sem sombra de dúvidas.

- Temos que dar um jeito nisso.

- Não se atreva Herrera! Prefiro ficar segura sobre o chão.

- Não vou soltar você, confie em mim.

- Eu sei que todos falam isso, mas sempre acabam soltando - rebati aquilo de uma forma desesperada e ele sorriu divertido com a situação - Todos vão olhar!

- Você devia confiar mais nas pessoas.

- E você devia ser menos persuasivo.

Mais uma vez lhe arranquei uma risada descontraída. Eu podia fazer aquilo o dia todo e não me cansaria de ouvi-lo sorrir.

Ignorando claramente a minha negação em pedalar, ele entrou na loja e alugou apenas uma bicicleta. Pensei que daquela vez a guerra havia sido ganha por mim, mas ele não demorou a colocar aquele objeto traiçoeiro ao meu lado.

- Suba.

- Pare com isso! Não vou subir!

- Se não subir, vou carregar você nos braços e jogá-la a força em cima dessa bicicleta.

- Alfonso...

- Não me importa o motivo de não saber pedalar até hoje, mas me importa que continue assim comigo aqui..  Eu estou aqui Anahí... Quero estar.

Meus olhos ficaram vidrados nele como uma garota assustada. Eu também queria desesperadamente que ele ficasse ali comigo. Alfonso estava a todo momento invadido todos os meus limites e me fazendo desafios constantes.
Temerosa, eu não subi lidar com as palavras dele, e por isso, resolvi sentar na bicicleta.
Ele segurou o guidão e o selinho e eu pus os pés no pedal. A força dele impediu que eu bambaleasse, e devagar, me ordenou para mexer os pés. Comecei a me movimentar e sair do lugar.
Vagarosamente, ele me dava instruções de permanecer fazendo aquilo até sentir necessidade de aumentar a velocidade.
Alfonso agora segurava apenas o lugar onde eu estava sentada.

Senti vergonha por perceber que algumas pessoas me olhavam intrigadas pela minha inexperiência. Eu não tinha coordenação sozinha, o guidão ia de um lado ao outro, desregular pela minha falta de controle.

- Continue pedalando. Você está ótima!

- Mentiroso! - gritei.

- Seja mais confiante Anahí.

Eu não olhei para aquela cara cínica, mas tinha certeza de que ele estava se divertindo muito com aquilo tudo. Alfonso adorava me ver sem saber o que fazer.

Continuei pedalando até perceber que o equilíbrio estava ficando melhor, eu já conseguia manter a bicicleta reta e seguindo uma margem bem alinhada sobre o calçadão. As pessoas que trafegavam por lá me davam espaço temendo serem atropeladas, com certeza.

Confesso que me empolguei com o meu avanço. Eu já conseguia sorrir estando em cima daquilo, sem tanto medo.

- Herrera! Acho que está dando certo!

- Isso mesmo. Continue - a voz dele soou distante e aquilo me alertou.

Me virei imediatamente, olhando para trás e vendo a imagem de Alfonso a alguns metros acenando feliz para mim. Praguejei irritada e foi ai que todo meu equilíbrio desapareceu instantaneamente.
Eu estava sozinha.

- Anahí, use o freio, ou os pés! - pude ouvir seus gritos de aviso enquanto ele corria para o meu lado.

Soltei um dos pés e me firmei no chão e a bicicleta parou.

Quando ele foi para o meu lado eu não notei o sorriso que tinha em meu rosto. Eu estava muito feliz por ter conseguido realizar aquilo.

- Você viu? Eu consegui pedalar!

- Eu falei que estava ótima.

Alegre, senti vontade de retribuir aquela felicidade lhe dando um abraço forte e apertado, beijando seus lábios algumas vezes, mas Alfonso me segurou pela cintura e me puxou para beijar da forma que queria.
Sua língua passeou discretamente na minha boca, enquanto segurava minha nuca. No lugar onde estávamos não tinha muita gente, era praticamente o fim da linha dos corredores, e isso nos deu mais liberdade para aquecer o beijo.

Meu coração bateu acelerado e meu ar foi limitado. Nossas bocas se afastaram com um suspiro, e eu percebi que já arfava sem muito fôlego. Ele fez questão de morder meu lábio inferior antes de se afastar completamente.

Ambos sorrimos quando fomos liberados.

- Quer que eu te pegue amanhã?

- Gostaria. Me sentiria mais confortável chegando com você.

- Esteja pronta antes das onze e meia.

- Onze horas - confirmei enlaçando minhas mãos ao redor do pescoço dele.

- Onze.

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Olá meus leitores amados :) Quero avisar que em breve postarei um capítulo novo, mas por agora vou precisar me ausentar por mais uns dias :/ Preciso ler alguns artigos e estudar um pouco mais.

Boa leitura e continuem me acompanhando, viu? :D

Beijos de luz

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