Possession

Capítulo 47

Anahí

Maite era a pessoa mais tagarela que eu poderia ter conhecido na vida. Era incrível como ela falava pelos cotovelos, muitas vezes as mesmas coisas. Assim que saí do quarto de Alfonso na sua presença, havíamos topado com Dulce no corredor e a morena tinha feito questão de estar conosco na mesa do restaurante. Ela me encarava ciente da minha agonia em estar ali, ouvindo coisas que realmente não me interessavam, como por exemplo, saber quantos países ela e seu marido haviam percorrido ao longo de suas vidas. Eu gostava dela, de verdade, mas naquele momento a única coisa que era relevante para mim era saber de Herrera e de como ele podia estar, ainda mais depois de ver Christopher se aproximar de nos três deixando claro que Alfonso estaria apenas com a presença de Dona Helena.

- Maite, cale a boca - disse ao chegar à mesa - Santa paciência.

- Você é um idiota inconveniente Christopher.

Ela bufou por ser interrompida, e eu respirei aliviada por alguns segundos bebendo meu café em paz. Só não pude evitar arregalar os olhos e erguer a sobrancelha, admirada pela reação dele ao ouvir a crítica da irmã. O homem mostrou a língua como se estivesse no jardim de infância. Sinceramente pensei em como seria a disputa de infantilidades entre ele e o filho quando o bebê nascesse.

Dulce pareceu ler minha mente, porque quando olhei pra ela a minha amiga estava sorrindo sem jeito, desconfortável por meu semblante. Ela balançou a cabeça discretamente de forma negativa e sorriu da sua própria bobagem em amar alguém tão imaturo. Levantei deixando os dois discutindo algo sobre quem era o mais autoritário e fui até a máquina de lanches selecionar algo que me agradasse.

- Noite conturbada? - Dulce veio por trás de mim, segurando meu ombro.

- Você nem imagina - respondi cansada.

- Christopher pode ser meio estabanado, mas ficou em choque quando soube do irmão.

- Eles se amam com certeza. A suas maneiras, mas se amam.

- Verdade. - concordou com um sorriso - Realmente ele pareceu muito preocupado com Alfonso. É grave?

- Herrera é teimoso, mas vai se tratar direitinho a partir de agora.

- Espero que sim.

- Imagino que sua mudança foi interrompida - perguntei mudando de assunto.

- Até poderia ser uma dor de cabeça se eu não estivesse com ele.

- O que quer dizer?

- Quando chegamos ao interior, Christopher não me levou para o apartamento que eu havia alugado, e sim para uma casa cômoda e enorme, cheia de empregados e uma babá. Porque babá se o nosso filho nem nasceu ainda! - eu sorri quando ela disse aquilo.

- Ele se importa com você.

- Ele quer casar comigo Anahí.

- Casar?!

Aquilo me pegou de surpresa. Tudo bem que Dulce estava grávida, mas desde quando aquilo era motivo para um casório? Geralmente, os casais moravam juntos antes de se juntar ou no mínimo mantinham alguma relação bem duradoura para depois pensar em subir num altar e fazer votos eternos. Eu considerava o casamento um voto eterno. Era uma responsabilidade que poucas pessoas estavam dispostas a ter e eu era totalmente contra qualquer divórcio que não incluísse violência, abuso e traição 'extrema'. Incompatibilidades, no meu ponto de vista não deviam ser motivos de um termino. Quem é totalmente compatível a final?

Somos seres humanos criados e educados de forma diferente, por pessoas diferentes, de crenças diferentes. Seria muito injusto exigir que um parceiro fosse tudo aquilo que você espera, dentro das suas exigências, deixando de lado as coisas boas e qualidades importantes. As pessoas tem o hábito de desistir fácil demais de tudo, e cansam por não acharem digno ter que se "humilhar" algumas vezes para evitar transtornos maiores.

O mundo exige pessoas superiores, e o pior é que nessa 'superioridade' nós nos perdemos de nós mesmos.

- Não faça essa cara - ela apertou os olhos e andou para o lado esquerdo.

Eu a segui e tentei passar despercebida pelos irmãos Herrera, puxando-a para um canto mais reservado.

- Dulce, você quer casar?

- Eu gosto muito dele.

- A ponto de casar?

- Sei o que você pensa sobre casamentos, mas não me julgue. Eu estou grávida e o que me resta?

- Casamento não é solução para nada desse tipo.

- Sei disso, e de verdade quero ter uma família Anahí. Quero que seja com ele, já está sendo.

- Então faça dar certo. Lute por isso.

- Depois de tanto ouvir seus diálogos sobre casamentos, acredite, vou lutar até onde puder.

Ela riu só de imaginar como seria o meu sermão diário caso isso acontecesse.

Depois de um tempo distraída, eu voltei ao quarto de Alfonso para me despedir antes de ir em casa tomar uma ducha e mudar as roupas, mas quando entramos o clima estava tenso demais para uma conversa casual como eles tentaram fazer parecer. Olhei para todos os rostos que entraram ao meu lado e percebi que ninguém além de mim teria notado aquela situação. Encarei Alfonso e ele buscou desviar o olhar como um menino medroso.

Para evitar pensamentos ainda mais neuróticos, fui até ele e me despedi com um abraço e um beijo suave.

- Não demoro.

- Se demorar um pouco eu ficaria feliz.

- Quer se livrar de mim Herrera? - questionei indignada e surpresa.

- Quero que durma, - ressaltou - e descanse um pouco.

Dei-me por vencida e revirei os olhos por ser frustrada pela certeza dele. Realmente eu tinha que dormir. Meus olhos estavam pesados e inchados de passar tanto tempo a base de café e energéticos.

- Então tá - rebati - Vou demorar um pouquinho mais.

Com um sorriso mais ou menos, me afastei e fui embora, segurando a bolsa e o casaco pesado da Louis.

O motorista estava a minha espera abrindo a porta assim que fiquei mais perto do carro. Não deu para ver seu rosto já que o homem parecia se esconder por debaixo de um chapéu preto. Um pouco desconfiada, entrei e sentei ainda tentando ver sua face, que por um descuido ele deixou transparecer.

Arrepiei ao reconhecê-lo, mas já era tarde demais. A porta já estava travada e o carro em movimento.

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