Alfonso Herrera
— Porque estamos nessa sala?
Mesmo sob o olhar ríspido da mulher eu continuei. Ela parecia ter medo das minhas intenções. Convencê-la de me acompanhar foi quase uma maratona.
Uma coisa era inegável. Eram incríveis as semelhanças entre as duas. Anahí parecia muito com a mãe, e uma das coisas que menos consegui desviar a atenção foi da intensidade no olhar. Elas tinham o mesmo tom de azul nos olhos e por instantes vi um pouco da delicadeza da minha esposa naquela mulher.
Eu precisava entender toda aquela historia.
— Eu sou Alfonso Herrera... — iniciei, mas ela me interrompeu.
— Sei quem é você.
— Então deve imaginar porque estou aqui.
— Na verdade, não tenho certeza se sei.
— Então vou ser claro — rebati — Anahí é minha esposa agora e eu quero vê-la feliz, por isso, vou ajudar que vocês duas se reaproximem.
Ela deu uma risada triste, quase que desgraçada, enquanto apertava os dedos num cesto estranho.
— Se quer mesmo vê-la feliz, ao que parece isso seria mais fácil longe de mim. Anahí me odeia.
Sim, ela te odeia. Mas eu preferi não dizer aquilo.
— Está amargurada, magoada, desconfiada. Mas não odeia você.
— Porque quer fazer isso agora? Devia me odiar igual ela. Eu assisti minha filha virar... — a mulher serrou os punhos como se quisesse se mutilar, antes de enterrar o rosto nas mãos. — Eu não a impedi de se perder! Que tipo de mãe eu fui? Se é que tenho direito de me considerar uma...
— Eu ainda não sei o seu nome.
— Berta.
— Escute, Berta. É muito importante que se entendam, mas antes eu preciso saber se é isso que você quer.
— Claro que sim! — saltou a mulher — Eu só vim parar nessa cidade somente por ela. Meus outros filhos já têm suas vidas feitas e por sinal estão muito longe de mim. Anahí é a única que tenho.
Ela lacrimejava durante o discurso. Enquanto ela fazia isso eu a observava buscando algum indicio de falsidade, fingimento, e por incrível que parecesse ela realmente estava sendo sincera. Era notável o quão abalada estava. Aquela mulher queria mesmo a filha por perto, e eu queria que ela ficasse.
— Não posso mais ficar aqui, tenho coisa a fazer, mas quero que vá nesse endereço amanhã à tarde. — esclareci enquanto terminava de escrever todos os dados no pedaço de papel que retirei de dentro do bolso lhe entregando logo em seguida.
A mulher esticou a mão e o pegou.
— Vá — reforcei em ordem.
— Eu irei.
Depois de me certificar de que todos os meus planejamentos do dia tinham sido executados com sucesso. No percurso de volta mandei o motorista pausar num bar pouco movimentado, e silencioso. Era estressante ter que depender de motoristas para coisas tão banais quanto ir resolver meus próprios problemas. Eu gostava de dirigir, mas aquela maldita doença me roubou até aquele prazer. Os remédios contraindicavam o volante. Andando pela extensão no lugar, notei que havia alguns casais em mesas reservadas. Eles riam trocando confidencias ao pé do ouvido, com certeza palavras ousadas ou apenas um simples elogio galanteador. Todos previsíveis. Quem não foi um dia na vida um casal como aquele. Quem nunca começou um relacionamento, ou simplesmente o terminou repentinamente. Era uma reflexão voltada ao fato de que eu não tive tempo. Sentei-me no banco de frente ao balcão e o garçom me encarou limpando um copo com um pedaço de pano braço. Pedi uma boa dose de tequila e esperei ser servido.
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Possession
Fanfiction*Fanfic Ponny (Concluída) Madness... Foi esse o nome que Anahí admitiu após sua vida se perder no mundo e em meio a prostituição de luxo. Ela era apenas uma garota quando isso aconteceu e nada foi capaz de impedi-la de se tornar tão impetuosa, reque...