Capítulo 56

1.1K 94 8
                                    

Alfonso Herrera

O som alto do celular tocando me despertou o sono. Acordei limitado a limpar os olhos e encarar o objeto fino e brilhante.

- Diga.

Com a voz gritante dona Helena e Maite diziam juntas alguma notícia relevante. Mas não dava para entender muita coisa. Eu ainda estava com sono e as suas vozes se cruzavam como dois animais berrantes.

- Viajem? - questionei depois que ouvi essa palavra, mas ainda não dava pra entender muito. - Me mande um e-mail e eu entenderei melhor. Vocês duas juntas é impossível.

Pigarreei desligando a ligação.
Já completamente desperto olhei para os lados e levantei da cama confuso. Busquei por Anahí, mas ela parecia não estar em lugar nem um.

"Essa mulher adora sumir".

Andei pelo chão com os pés descalços, vestindo apenas uma calça de moletom cinza. Fui até a cozinha e não havia ninguém. Aproveitei para separar algumas coisas e cozinhar.
Decidi fazer uma massa coberta de molho barbecue, queijo e alguns pedaços de frango talhado. Era o suficiente para manter o estômago cheio até o resto da noite. Olhei na adega reservada no canto da cozinha e separei um bom vinho chileno de safra selecionada para acompanhar.
A empregada deu de cara comigo sentado no banco alto do balcão, comendo e bebendo relaxadamente.

- Não faça isso! - repreendeu na liberdade de puxar minha taça ainda pela metade.

- O que está fazendo?

- Já bebeu quantas dessas? - perguntou olhando o material de cristal, cheirando e analisando como se fosse alguma especialista.

- É a primeira.

- Seus remédios estão no canto da bancada, já ia levá-los ao senhor.

Revirei os olhos e recebi das mãos dela as três medicações de cores diferentes e as tomei. Pronto, estou dopado mais uma vez e por coisas que nem sei o que são.

- Você viu Anahí?

- Sim. A senhorita saiu a pouco mais de uma hora dizendo que ia ver uma amiga.

Ela pareceu sentir que falávamos seu nome. Anahí entrou na cozinha poucos segundos depois da minha pergunta. Ela usava um vestido justo, delineado, e nas mãos carregava um casaco preto.
Nossos olhos se cruzaram seguidos de um sorriso suave. Era bom vê-la e saber que ainda estava ali, ao meu lado, disposta.
A empregada saiu devagar, invisível, nos dando privacidade.

- Oi. - disse intimidada.

- Olá.

Anahí estava assustada. Assim como eu. Ambos éramos acostumados com a solidão e aquela nova fase era um belo desafio. Queríamos estar juntos, porém ainda precisávamos dr tempo para conviver. No sexo era fácil manter diálogos, conversas, brincadeiras, mas a rotina de imagina-la todos os dias acordando e dormindo ao meu lado, preenchendo uma cama antes tão vazia, era desafiador.
Silenciosa como um servo, seus movimentos ao redor do ambiente foram todos cautelosos. Ela se livrou do casaco sobre uma cadeira e foi até a geladeira.

- Como foi o seu sono? Conseguiu descansar? - disse por fim.

- Consegui o suficiente.

- Eu estava com Dulce. - Não sei se teria sido impressão, mas a voz dela pareceu falhar enquanto falava aquilo. - Fomos jantar aqui perto.

- Porque ela não veio junto?

- Infelizmente teve que voltar para o trabalho, e como a cidade é um pouco longe, ela foi mais cedo.

Possession Onde histórias criam vida. Descubra agora