Possession

Capítulo 37

Anahí

As risadas incessantes de Dulce e Christopher me incomodavam de tal maneira, que obviamente não pude disfarçar. Mesmo assim os dois me ignoraram e continuaram nas suas trocas de carícias no sofá da sala, bem ao meu lado, como se não houvesse ninguém além dos móveis.
Eu já teria me tornado parte da solidão?
Era uma boa pergunta, levando em conta o fato de eu estar vestida com uma calça e blusa larga, e o cabelo preso num coque de rosto limpo.
Não era agradável me ver, ou estar ao meu lado, mas também não culpei minha amiga por estar feliz. Ela no mínimo merecia aquilo. E se ele conseguiu fazê-la bem, a resto eram detalhes.

- A sua amiga parece uma múmia perdida.

- Christopher! Deixe ela em paz.

- Calma gatinha, só falei o que ela já deve saber, ou não tem espelhos aqui?

- Você não devia dizer essas coisas.

- Com licença, estou bem do lado de vocês e posso ouvir tudo - ressaltei revirando os olhos, abocanhando a fatia do sanduíche natural que tinha nas mãos.

- Me desculpe por ele Anahí.

- Se alguém me disser o que aconteceu ficaria grato, porque essa expressão também esta na cara do meu irmãozinho antiquado. Duas múmias.

Deixando de observar o comentário imaturo de Christopher, foquei apenas na minha angústia por notícias. Eu queria vê-lo e saber algo sobre ele. Engoli a comida quase que sufocando e me virei para o os dois. Meu olhar foi direto nele que pareceu saber o que sairia da minha boca.

- Você o viu? - foi uma pergunta cercada de expectativas, porque até onde eu sabia nem os membros da família o viram depois do natal.

- Sinto muito, mas essa informação veio da mamãe. Ela conseguiu atravessar pelos leões que o cercam e o viu por alguns segundos até ele mandá-la de volta pra casa.

Senti uma fina onda de compaixão ao recordar de quão determinada era aquela mulher e de como Alfonso reclamava do fato dela sempre conseguir distrair os seus seguranças, chegando nele sempre. Numa dessas lembranças, veio à primeira vez em que vi Helena entrar triunfante por mais uma das suas invasões serem bem sucedidas, até ela me notar sair do quarto apenas com uma camisa masculina cobrindo o necessário.
Onde você está Alfonso?
Recolhendo os pés novamente para cima no sofá, voltei ao meu declínio.

Quando a porta se fechou, Dulce veio na minha direção e sentou ao meu lado logo após deixar Christopher na saída. Ele saiu alegre e nos deixou em plena privacidade.

- Como vou embora agora? Você precisa de mim.

- Não quero que fique Dulce. Seu trabalho é muito importante e você merece. Eu vou ficar bem, só preciso de um tempo para retomar a vida.

- Vai voltar para aquele lugar? - ela perguntou temendo que a resposta fosse positiva.

- Eu jurei nunca mais fazer nada daquilo, e vou cumprir.

- Fico mais tranquila em saber disso. Alfonso realmente te faz bem.

- Fez bem - corrigi entristecida - Não tenho mais nada dele além da indiferença.

- Não sei mais se devo compartilhar isso contigo... - falou receosa - Mas Christopher acabou de dizer que vai trabalhar na mesma cidade que eu. Parece que lá tem um aeroporto e ele vai continuar as aulas de piloto.

- Meus parabéns! Espero que dê tudo certo.

Engoli a minha dor para poder abraçá-la com sinceridade. Fiquei feliz por ela, e triste pelo meu desastre em tentar fazer a mesma coisa. Seguir a vida limpa...