Capítulo 73

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Anahí

Eu sabia que não ia dormir depois de tudo o que aconteceu naquele dia, muito menos na casa de Ricardo, e muito menos ainda na cama onde foram protagonizadas tantas noites quentes entre nós dois. Olhei para Lafaiete recostado numa poltrona, levemente relaxado, lendo uma folha do jornal local.

Ele não percebeu que estava sendo observado tão indiscretamente.

Automaticamente sofri um flash de imagens onde eu aparecia sobre ele, ele sobre mim, beijos, arranhões. Muitos momentos partilhados de risadas audaciosas, toques fogosos e luxuriosos. Nós éramos pura luxúria quando nos envolvíamos desde a minha pouca idade até o último segundo. Lafaiete tinha o prazer de jogar comigo, de me testar a todo o momento em busca de algum sinal de sentimento da minha parte, e se minha memória não falhasse, ele tinha insistido nessa ideia antes de Alfonso surgir.

Eu amava Alfonso Herrera, e aquela era a minha maior certeza na vida, mas também não podia ser hipócrita e negar que Ricardo me atraia absurdamente. Com tantas confusões, houve momentos que pensei odiá-lo, detesta-lo, quando na verdade era apenas um sentimento reprimido e incompreendido. Não era ódio, muito menos amor, era apenas um sentimento. No fim ele tinha conseguido ganhar aquela batalha. Tinha feito com que eu fosse capaz de pensar nele, sentir vontade de tê-lo perto e ouvir sua voz amiga em algum momento ruim. Aquele homem fazia parte da minha vida. Droga! Ele fazia mesmo.

Embora isso soasse estranho, confuso, se qualquer coisa ou situação me fizessem escolher, eu sem duvida nem uma escolheria Alfonso. Porque apesar daquela sensação mexer comigo, nada se comparava ao meu amor por Herrera. Nada se comparava as coisas que eu era capaz de fazer por ele. E se fosse necessário morrer com aquilo guardado dentro de mim, eu morreria. Jamais atreveria arriscar perder o eu casamento ou o meu marido. A pesar de naquele momento me sentir extremamente sozinha. Alfonso me deixou sozinha, mesmo que todos os dias nós nos víssemos na empresa, esse contato amoroso se tornou raro. E eu não estava disposta a forçar uma situação. A última fez que mantivemos uma relação amorosa foi no dia anterior a noticia dos meus novos encargos, e era aceitável entender o seu lado, principalmente pela debilidade do seu corpo. Não era justo exigir disposição dele. Às vezes eu apenas ficava ao seu lado, enquanto ele trabalhava, só para tê-lo perto de mim. Sentir seu cheiro. Olhar sua pele.

Dobrando o jornal, Lafaiete o colocou sob uma mesinha ao seu lado e me mostrou um sorriso tímido.

- Como se sente agora?

A voz amigável dele me deixou perdidamente sentimental. Sem deixar de encará-lo, comecei a chorar e enterrei o rosto nas mãos. Num segundo ele foi para o meu lado, sentando na cama.

- Porque você está chorando? Eu falei algo de ruim? - questionou apoiando meus ombros.

Numa tentativa de me fazer olha-lo nos olhos, Ricardo segurou meu queixo e o ergueu. A profundidade no olhar dele tiraram a minha atenção. Aquilo fez meu coração fisgar maltratado. Mas o pior de tudo foi à reciprocidade do acontecimento. Ambos estávamos anestesiados em pensamentos.

Algumas vezes a minha vista acabava involuntariamente sendo captada pelos lábios ressecados dele, tanto que ele os umidificou sensualmente, mesmo que não quisesse ser nada provocativo.

Foi uma reação que, pela primeira vez em todas as coisas que sucederam, me deu a clareza da nossa atração física.

Lafaiete retirou a mão do meu queixo e se afastou bruscamente. Como se a minha pele tivesse queimado os seus dedos.

- Fico tranquilo de saber que se sente melhor - Retrucou num gaguejar - Fique o tempo que precisar.

Dito isso ele simplesmente se levantou e praticamente correu do quarto. Correu da minha presença.

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