Capítulo 67

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Anahí

Eu ainda estava lá, parada atrás daquela cortina, totalmente encurralada por Lafaiete.

Ricardo estava muito bem trajado, como sempre, e seus olhos azuis como os meus, pareciam mais nebulosos. Conforme as vozes dos clientes aumentavam ao nosso redor, ele cada vez mais se juntava a mim, fugindo da descoberta. Seu abdômen tocou minha barriga grávida e foi então que o semblante dele se tornou um pouco mais doloroso. Ricardo pode não ter me dito nada, mas eu sabia bem que aquele sinal em meu corpo o fazia lembrar que havia alguém ao meu lado. Alguém que não era ele.

Tentei de todas as formas possíveis fazê-lo esquecer das perguntas que havia feito, mas depois que o homem retornou do seu súbito transe elas foram refeitas.

- Porque você correu daquele jeito do meu apartamento depois de eu ter te colocado em meus braços?

Era aceitável a sua insistência. Como alguém poderia deixar de lado um fato, no mínimo inusitado. Sim, eu briguei com Alfonso, andei até a casa dele e lá procurei abrigo, consolo, nos braços de alguém que fez parte de um passado meu. Alguém que conhecia a minha essência, talvez, mas eu mesma não sabia explicar nem a mim mesma os motivos que me levaram até lá, e que me fizeram ir embora, quem dirá a ele.

Baixei a vista e juntei as pernas, equilibrando o fôlego árduo do perigo.

- Não sei - fui sincera.

Ele com certeza ia me instigar a dizer mais alguma coisa quando a cortina se abriu outra vez, exibindo nós dois, e deixando sua voz nula. A mulher magricela por nome Luna que me atendia nos rebelou e mostrou-se surpresa, quase que em choque.

- M-Me desculpe se-senhora. Eu não sabia que estava ai e...

- Luna, certo? - interrompeu Ricardo, lendo o nome bordado no peito da vendedora - Queria explicar que eu e a senhora Herrera somos bons amigos, e que esta situação foi embaraçosa, porém, acidental. Ela se sentiu mal e acabamos caindo atrás das cortinas. Não que isso seja da sua conta, ou que devêssemos explica-la alguma coisa, mas por via das duvidas - com um olhar rígido ele a encarou e serrou os dentes - Aproveite e suma daqui para buscar as peças de roupas dela.

- Mas eu já as separei...

- Então nos aguarde lá.

Sem titubear a mulher tropeçou desengonçada nos próprios pés, extremamente envergonhada pela repreensão de Lafaiete. Eu também seria contra a forma como ele a tratou, mas havia uma culpa nela em bisbilhotar o que não devia, e de certa forma agradeci internamente por termos nos livrado daquela situação.

- Como sabia que eu mandei pegar roupas?

- Isto é uma boutique, - rebateu com um riso desajeitado - isso é o que se faz aqui.

Ele tinha razão. Que pergunta idiota. Mas eu ainda tinha medo, e o medo não me deixava pensar.

- Preciso ir.

Me desviei dele alargando os passos, mas Ricardo envolveu sua mão no meu braço e me segurou, mantendo-me ao seu lado. Virei o rosto para encara-lo e foi ai que meus nervos saltitaram. Nós estávamos a menos de um palmo de distância.

- Sua gravidez a deixou ainda mais linda... - o ar que saiu da sua boca bateu no meu rosto, ressecando meus lábios. Era mentolado. - Ontem, estava escuro e eu não pude notar como já está nítida.

Não havia o que dizer. O que eu poderia dizer? Céus! Eu só queria sair dali, e foi o que fiz. Com as bochechas em chamas, liberei meu braço e pisei mais firme. Fui para o mais longe possível, e como a loja era grande e com dois andares, subi sem rumo algum, apenas para manter a distância.

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