Capítulo 58

959 81 8
                                    

Alfonso Herrera

Com um belo terno sendo ajustado no corpo, posicionei a gravata borboleta enquanto o homem dava os últimos retoques na peça.

Num ato de levantar a cabeça rapidamente minha vista foi escurecida, dando uma sensação de cegueira momentânea. Pus os dedos sobre os olhos tentando equilibrar o corpo.

Agora não.

- O senhor se sente bem?

A voz de medo do estilista foi ignorada por mim.

- Sim, está tudo bem - recobrei a visão e ao fazer isso não pude deixar de notar o porquê de o homem me olhar com tanto pavor. Eu estava branco como algodão - Vá chamar alguém para colocar mais cor no meu rosto. Agora.

- Vou chamar a moça da maquiagem.

Ele saiu e acabou esbarrando em Maite que acabava de entrar. Quando ela me viu o sorriso que tinha no rosto se desfez.

- Você está...

- Bem. Estou bem.

- Mas a sua pele.

- Normal ficar descorado, a final minha doença é no sangue Maite. Logo volto ao normal.

Ela não parecia convencida, mas também não estava disposta a discutir naquele dia. Era uma ocasião especial para todos da família.

- Não acredito que você vai casar.

- É o que parece.

- Nossa, ela está muita linda! Acabei de vir de vir de lá, e olha, você também não esta de se jogar fora. Talvez num bueiro, mas não totalmente.

Maite conseguiu arrancar de mim uma gargalhada. Foi inacreditável. Desde o inicio do dia eu estava nervoso com o casamento. Tivemos apenas quinze dias para preparar tudo e organizar o evento. Mas junto com os preparativos também havia se intensificado os sintomas da minha doença, e como consequência, tive que aumentar as doses diárias de remédios o que me deixou um pouco mais abatido e emagrecido. Naquele momento mesmo o alfaiate ajustava a roupa perdida junto do peso.

- Estou muito feliz por você meu irmão - ela tentou conter algumas lágrimas, mas não conseguiu.

Maite enxugou os olhos com a ponta dos dedos, tomando cuidado com a maquiagem. Eu segurei seus ombros e lhe dei um abraço.

- Obrigado. Estou mesmo muito feliz.

- Ela já sabe?

- Maite, não é momento.

- Não sabe. Suspeitei. - contra mim, minha irmã afastou-se cruzando os braços.

Dava para notar a forma como seus ombros subia e descia rapidamente.

- Nem a nossa mãe sabe, - continuou - então porque não me poupou também?

Questionou me encarando um pouco amarga.

- Começo a me arrepender disso. - afirmei - Alguém tinha que ser forte pelo resto e você é a única de todos que realmente tem uma boa base.

- Base?

- Você é casada há algum tempo, já tem uma rotina mais afastada. Você é a mais forte Maite.

- Que injusto da sua parte. Porque concluiu as coisas sem me perguntar antes? Eu não sou a mais forte Alfonso, não tem como ser. Por Deus, você é meu irmão! Crescemos juntos, vivemos juntos, brigamos, sorrimos. Tantas coisas.

- Calma. - falei pegando-a nos braços, totalmente arrependido por ela ter razão. Fui injusto - Eu ainda estou aqui. Não precisa ficar assim. Olha para esse dia, o que vou fazer. Pareço triste com alguma coisa?

Quando perguntei aquilo ela me observou analisando a minha afirmação e sorriu devagar.

- Não - respondeu enxugando o resto do rosto.

- Porque não estou - confirmei novamente - Tudo vai ficar bem.

Estávamos num momento fraterno quando os dois chegaram. O homem que me arrumava entrou ao lado de uma mulher muito bem vestida, carregando uma maleta com rodas.

- Desculpe senhor, aqui está a maquiadora.

- Minha irmã vai primeiro. Precisa se recompor, eu espero.

Fizemos a maquiagem e por sorte meu rosto ficou um pouco mais apresentável. Eu parecia corado. Tanto que acreditei nisso. Aquela devia ser a minha cor.

Depois de longos minutos em pé, sobre aquele altar, os olhares preocupados dos poucos convidados clamavam a presença de Anahí. Ela demorava e aquilo já estava me deixando com os nervos a flor da pele.

- Tenha calma. Noivas sempre atrasam. - sussurrou Dulce no meu ouvido.

Sinceramente eu sabia disso, mas não consegui pensar assim, pelo menos não até o som dos violinos anunciarem a marcha nupcial. Todos se puseram de pé, e olharam para a entrada da capela.

Anahí saiu agarrada a Christopher, andando na minha direção. Lentamente, como se quisesse prolongar aquele momento. Numa coisa Maite tinha razão. Ela estava linda. O seu vestido era justo, de mangas longas e um decote discreto nas costas, sem muitos detalhes, mas o suficiente para ser belo. Era ideal no seu corpo e o buque com rosas vermelhas destacavam a luz. Mesmo de longe dava para notar que seus quadris tinham um novo desenho. Estavam mais largos e com uma pequena barriga saliente.

Só acreditei que nossos corpos seriam unidos de uma vez quando ela segurou minha mão e a partir daquele momento apenas eu a conduzi. Dissemos o que devia ser dito, com pressa, eufóricos, desejando o fim. E com um beijo selamos o nosso matrimônio.

_________________________

Acompanhe a autora pelas redes sociais:

SNAP: samia-reis

INSTAGRAM: imagineunahistoria

Possession Onde histórias criam vida. Descubra agora