Capítulo 65

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Anahí

Meus olhos pesados e cansados abriram ao receber a fina luz da fresta na janela. Me espreiguicei e olhei em volta já ciente de que não havia mais ninguém comigo. Olhei o relógio e era mais de oito horas. Cedo talvez. Para alguém que demorou a dormir, no mínimo eu devia ter passado mais tempo na cama.

Levantei depressa e fui rumo ao banheiro, escovar os dentes e tomar um bom banho. A água morna caiu no meu corpo como um beijo de Afrodite. Meu Deus, como eu precisava daquilo. Escolhi um vestido na altura dos joelhos, com listras brancas e pretas na vertical para usar.
Atualmente eu parecia apenas querer usar vestidos. Devia ser algum extinto de grávida que apitava toda vez, inconscientemente, dizendo que aquela era a melhor opção. Pensando nessas coisas aproveitei para me checar frente ao gigante espelho do closet, que agora, dividia com Herrera. Olhei, toquei e deslisei a mão por toda aquela extensão como um cego faz para reconhecer um rosto.
Era divino me imaginar mãe. Uma mãe solteira.
Anahí pare de se machucar!
Foi uma repreensão dolorosa. Eu sempre fazia aquilo. Sempre fazia questão de lembrar a mim mesma que a minha felicidade tinha data de validade. Uma que eu jamais queria saber a data.

Por mais que Alfonso tenha tentado negar ou disfarçar, não era fácil esconder seu rosto pálido, e corpo cada vez mais emagrecido, de mim. Eu sabia que ontem a noite ele estava um caco. Destruído e exausto. Muito diferente do homem que eu conheci a alguns meses atrás.
Aquele que corria veloz com a força de um cavalo, me deixando para trás no que decidisse fazer. Eu era fumante, bebia muito, tinha uma vida de exercícios, sim, mas nada que ultrapassasse a necessidade de manter o corpo rígido para vende-lo, apenas.
Alfonso era diferente. De tudo o que esperei. Nos meus sonhos mais remotos eu via nós dois na varanda de um chalé no campo, olhando nosso filho aprender a andar, prontos para segurá-lo caso ele fosse ao chão e chorasse. Eu o via acalenta-lo. Mostrar aquele sorriso grande e cheio de vida, capaz de transmitir uma tranquilidade sobrenatural.

Quem foi que disse que não ia mais se machucar?

Aquela altura eu já havia deixado as lagrimss teimosas escorreram mais uma vez. Quando vou parar de chorar?
Era uma pergunta estúpida, porque eu sabia muito bem a resposta.
Nunca Anahí. Você nunca vai parar.

Balancei a cabeça e limpei o rosto com o dorso da mão, colocando-o de volta nos eixos.
Não pense nisso agora.
Não pense nisso agora.
Não pense nisso agora.
Repeti para ver se encaixaria na mente, aproveitando para colocar alguma cor no meu rosto. Usei um lápis de olho, preto, um pouco de blush, pó e rímel. Minha pele era extremamente limpa e não era necessário usar muitas coisas.

Meu estômago rosnou e eu corri até a cozinha. Precisava comer. Por dois. Não era isso que diziam?
Assim que cheguei haviam duas mulheres andando de uma lado para o outro, dividindo suas tarefas. Uma delas me serviu um prato com panquecas e cappuccino quando mencionei que queria comer.
Ataquei tudo e comi até os farelos. Depois peguei mais algumas porções de biscoitos de dentro de um pote. Eles eram deliciosos. Olhei a embalagem que dizia serem cobertos de chocolate belga. Pode ser por isso.
Só depois de tantas distrações foi que me dei conta da falta que um certo alguém fazia.

- Alguma de vocês viu meu marido? - ambas se olharam sem resposta.

- Não senhora.

- Mas eu seu onde ele está - disse a governanta dos remédios, entrando articulada. Cheia das manhas.

- E então.

- O senhor foi ver um amigo para tratar de negócios. Mandou lhe avisar que o motorista lhe espera para as compras que a senhora precisa fazer.

Claro. Em algum momento da nossa viajem de lua de mel, na ilha, Alfonso mencionou que eu precisava renovar o guarda roupa já que a gravidez me fez aumentar de medida.
Eu achava aquilo precipitado demais. Era apenas três meses e três semanas. Onde podia existir tanta barriga assim?
Tudo bem que meu corpo magro denunciava bem mais rápido, mas não o bastante para mudar um guarda roupa inteiro.

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