Capítulo 51

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Anahí

Sons...

Eu ouço sons de vozes tristes, clamantes, elas pedem por mim. Chamam o meu nome, mas é como se uma cápsula estivesse recobrindo todo o meu corpo, abafando o som da minha voz.
Não há como responder muito menos obedecer seus pedido, e isso é um grande fardo.

Depois de tantos anos, tantas dores e solidão, naquela mesma porta do mesmo hospital que mudou toda a minha percepção de vida e existência estava a mulher que era responsável por uma grande parte da história.

A história em que tinham, eu, como protagonista. Unicamente.

Ela me encarava como uma criança no supermercado sem os pais, perdida e de olhar amedrontado.

Como era possível prever que durante um simples gesto de buscar café resultaria naquilo?
Nunca.

Era a minha mãe e ela estava parada, esperando algum som sair da minha boca silenciada pelo horror de vê-la, e instantâneamente recordar de tantas coisas.

No fundo eu sabia que tinha sido reconhecida de imadiato, mas como?
Eu mudei com o passar dos anos e aquilo estava mais do que óbvio.
Da última vez que nos vimos eu era apenas uma garotinha, bagunçada e de cabelos curtos.

- Anahí?

O meu nome veio em tom de pergunta, mas era claro que ambas sabiamos as nossas identidades, e que aquele timbre apenas contornava o tempo e a coragem dela em ser mais objetiva.

Permaneci sem responder aquele chamado, me virando para o sentido oposto com a xícara de café apoiada cuidadosamente sobre a minha mão.

- Volte aqui, preciso falar com você!

Continuei com os passos apertados e rápidos, tentando desviar dos pacientes que se locomiviam no hall de entrada.

Mas foi em vão.
Num único deslize o homem de terno preto e calça social esbarrou em mim distraído com o celular no ouvido. Me equilibrei com a xícara nas mãos impedindo o incidente do café e com isso um grande tempo no meu cronômetro de fuga foi perdido. Ele se desculpou as pressas para poder dar continuadade ao seu compromisso e eu de brinde ganhar a minha desvantagem.

A mulher mais uma vez estava proxima de mim, mas desta vez a nossa proximidade teria alcançado um nível desagradável demais. Ela ganhou tempo com a minha má sorte e me pegou pelo temor.

- Vai falar comigo querendo ou não, e acredite, não me importo de perseguir você por esse hospital o dia inteiro.

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