Esse não é meu tipo de festa.
Não sei se tenho um tipo, mas esse com toda certeza não é o meu. Do sofá onde estou consigo ver Bruno na cozinha, conversando com a sua mais recente conquista, uma loira que reconheço de algum lugar, mas não sei de onde.
Meu colega de casa ri de qualquer coisa que ela diz e abre a geladeira procurando algo. Já passa de meia noite, mas ele ainda usa óculos escuros no topo da cabeça. Arrasto meus olhos entediados pela sala em busca de Igor.
Encontro seu cabelo inconfundível do outro lado da sala, conversando animado com alguns garotos da sua turma. Tudo fica mais animado para Igor quando tem alguns copos de álcool dentro do estômago. Até seu cabelo concorda, parecendo ainda maior e mais cacheado, balançando de um lado para outro quando ri. Estou pensando em cabelos de um garoto, isso só pode ser sinal de que tomei cervejas demais.
A quem estou enganando? Não existe isso de cervejas demais.
Ao meu redor, pessoas parecem brotar espontaneamente a cada dez minutos. Como Bruno havia prometido, a proporção de garotas por barba é promissora, se eu estivesse interessado na questão.
- Apreciando a vista? – pergunta Bruno. A garota não-identificada, ou Loura do Peitão (como meu amigo cavalheiro apelidou a nova namorada durante uma partida de Fifa, que eu ganhei) se aconchega sobre seu braço. – Falei que você ia gostar – acrescenta com um sorriso arrogante.
Ele ergue a mão e materializa uma cerveja em meu rosto. Coloco minha lata vazia em cima da mesa de centro, no topo da torre de latinhas que estou construindo. Tento calcular o tempo que a torre vai sobreviver, com garotas e garotos se achando bêbados e trombando em tudo.
- Valeu – agradeço, levantando a lata em sua direção.
- Oh, rapaz. Você devia ter deixado em casa esses olhinhos tristes de cachorro que caiu da mudança! – Bruno se abaixa e aperta meu queixo, me fazendo torcer o nariz em desgosto. – Você tem que esquecer a baixinha, cara! Já era! Acabou! Bola pra frente.
Tenho certeza de que a coleção de sinônimos não vai fazer a imagem da minha namorada se agarrando com outro cara ir embora. Especialmente suas mãos pequenas e delicadas, que eu adorava mais do que seria saudável contar, em todos os lugares obscenos possíveis do corpo dele.
- É, Bê – concorda a loura. – A gente sabe que ela foi uma vadia com você, mas já faz meses! Você tem que partir pra outra! – Encaro a garota em minha frente e tento buscar seu nome de algum confim da memória. A única coisa que me vem à mente é Loura do Peitão e eu começo a achar que combina com ela, por causa do cabelo, óbvio. É claro que eu levaria um bom "pedala, Robinho", se meus pais me ouvissem chamar uma garota assim.
- Já é passado, cara. Eu tô pronto pra outra! – Levanto a cerveja cheia na direção de Bruno e sua nova garota, numa tentativa de brinde, e entorno o conteúdo inteiro da lata garganta abaixo. A aposta da noite, comigo mesmo, era virar tudo a cada "É hora de partir pra outra, Bê" ou suas variações.
- É isso aí! – Bruno toma um bom gole de sua cerveja, aperta a loura e a beija na boca. Ela solta um gemido feliz, joga os cabelos por cima do ombro e envolve seu tórax num abraço. Cada movimento me invade com memórias da Thaís.
Talvez a culpa fosse a música de fossa tocando em algum lugar da casa, talvez fosse do casal cheio da chamego, talvez fosse do álcool. Minha única certeza é de que preciso ligar para Thaís nesse exato momento.
Ela pode ter sido uma vaca escrota desleal no final, mas quando queria era bem carinhosa. E gostosa. Eu deveria ligar para ela e falar que precisamos nos encontrar. Não, é claro que eu não quero voltar, Deus me livre, mas assim nós vamos poder ter aquela conversa que não precisa de palavras. É, eu preciso ligar agora mesmo.
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A fórmula matemática de Bernardo e Jane
General FictionJane nunca se rendeu às convenções sociais. Por isso, seus bens mais preciosos são seu carro (restaurado por suas próprias mãos), sua guitarra (por ser mais portátil que seu piano) e um caderno preto com todas suas músicas (às vezes) inacabadas. Ber...