- O que sua mãe acha disso, Bê? – pergunta o pai, assim que termino de explicar o convite de Jane. Seu questionamento é retórico, pois ele sabe muito bem que eu lhe perguntaria primeiro e depois à mãe (no caso de não estarem os dois juntos, como agora).
- Sabe que ainda não falei com ela – digo, mantendo a voz baixa. Estou na biblioteca, aproveitando o wi-fi de graça, e mesmo que à minha frente esteja apenas uma enorme janela, não posso fazer barulho. Ao menos é o que a garota a alguns metros parece dizer com a reprovação em seu olhar. Imagina se eu não estivesse usando fones de ouvido?
- Me conta de novo quem são essas pessoas? – pergunta. Atrás do pai, consigo ver os quadros do seu consultório. Aproveitei seu horário de almoço para ligar, já que a chance dos meus pais concordarem com a viagem é maior quando estão separados, especialmente se estiverem prologando a discussão de ontem. – Não, espera. Essa hora sua mãe deve estar em horário de almoço, vou ligar para ela.
E lá se vai meu plano por água abaixo. A tela do pai se move, enquanto liga para mãe. Aguardamos em silêncio até que ela atenda. Bom, silêncio é algo relativo quando o pai murmura para si mesmo todas as suas ações. "Cadê você, amor?", "achei!", "agora vamos te ligar" e assim por diante.
- Recebi sua mensagem, querido – diz a mãe ao surgir na tela, ao lado do pai. Mesmo chamando a todos de "querido", sei que está falando com o pai, pois não lhe enviei nenhuma mensagem. – Então Bernardo quer passar o feriado com sua nova namorada?
- O que? Como assim? Ele não me deu esses detalhes! – Meu pai oscila entre curioso e ofendido. Ele é o único que se ofende se algo acontecer em minha vida sem ser ele o primeiro a saber. Quer dizer, não que Jane e eu estejamos namorando oficialmente, mas é tudo uma questão de tempo.
- Flávio me contou que Bernardo arranjou uma nova namorada... Jane, é esse o nome dela, querido? – pergunta, sem me dar chance de responder. Como sempre, Flávio, filhinho da mamãe, ataca novamente. – Ele descobriu isso quando foi visitá-lo no final de semana.
- Flávio foi lá essa semana? – A boca do pai faz um O, perplexo. – Quantos outros segredos minha família está escondendo de mim?
- Sim, querido. Tenho certeza de que te falei da visita.
- Tenho certeza de que não... e minha memória é muito boa.
- Querido, te falei isso no domingo à noite e, se minha memória não falha, sua resposta foi "morre, desgraçado, morre!". – E aí está a prova de que a discussão deles ainda não terminou.
- Você sabe muito bem que não deve falar coisas importantes no meio do jogo!
- O que você disser. – A mãe revira os olhos e, mesmo sem tirá-los da tela, sei que irá falar comigo. Posso perceber pela forma como sua testa e os cantos dos seus olhos se suavizam. – Bernardo, acho ótimo que tenha superado aquela loura de farmácia, como seu irmão diria. – Não é segredo que nunca gostou de Thaís. Ela, Flávio e Bruno fazem um excelente trio quando o objetivo é falar mal dela... ou de qualquer uma das minhas ex. – Mas gostaria que respondesse a duas perguntas antes. A primeira é simples: o que você quer, querido?
- Ir.
- Certo. – A mãe esboça um quase sorriso. – A última pergunta é aquela que seu pai irá me fazer às duas da manhã, longe dos seus ouvidos, mas estou cansada e acho que podemos resolvê-la agora. Você está indo nessa viagem apenas porque não vamos te visitar, como havíamos combinado?
- Não, é claro que não – respondo. – Mas esse foi o motivo para terem me chamado para ir com elas.
- Tudo bem por mim – conclui. – Agora vou desligar...
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A fórmula matemática de Bernardo e Jane
Tiểu Thuyết ChungJane nunca se rendeu às convenções sociais. Por isso, seus bens mais preciosos são seu carro (restaurado por suas próprias mãos), sua guitarra (por ser mais portátil que seu piano) e um caderno preto com todas suas músicas (às vezes) inacabadas. Ber...