Sabe em filmes de terror quando os personagens principais viajam durante horas, se perdem e acabam encontrando uma casa no meio do nada? Essa casa poderia ser a de Jane. Exceto pelas teias de aranha, tábuas nas janelas e uma assombração à espreita no sótão – ainda não encontrei esses símbolos do suspense na casa.
Mais de uma hora e meia depois, graças ao trânsito, chegamos ao lugar que de assombrada só tem o tamanho, a ausência de vizinhos e a quantidade de árvores e vida selvagem em volta. Não é como ela se morasse no meio de uma floresta, já que boa parte do terreno é formado por gramado baixo, mas as árvores ao redor da casa são altas e antigas.
As pouquíssimas casas que vimos no caminho se diferenciam apenas por serem cercadas por plantações de milho, café (as únicas coisas que consegui distinguir) e outras. Jane contou que não devemos nos surpreender se virmos vacas ou cavalos por perto, já que um dos vizinhos é bem displicente com seus animais. Quão legal é isso? Quer dizer, fui criado no meio da cidade e as únicas vezes em que vi coisas desse tipo foram na estrada e sempre à distância.
Até o ar daqui é diferente. Não é de espantar que Jane se recuse a morar em república, depois de aproveitar tudo isso diariamente.
Seguimos por um caminho em que a grama morreu, provavelmente pela entrada e saída constante de carros. Nos aproximamos da casa grande, com varandas em todo o primeiro andar, do lado um anexo, provavelmente a garagem. Jane estaciona em frente da porta desse galpão e desliga o carro ao mesmo tempo em que três cachorros enormes, cujas raças não consigo definir, circulam o carro.
– Não vai entrar na garagem? – pergunta Bia, tirando o cinto e se preparando para descer do carro. Não espero aviso para imitar seus movimentos.
– Se Raul não pegar no nosso pé, vou dar um trato no meu precioso. – Jane sai do carro, dá a volta, e começa a distribuir as malas. Antes de ajudá-las, preciso fazer carinho no cachorro malhado que me rodeia feliz com suas orelhas pontudas e pelo curto. Lídia imita meu gesto, acariciando o pescoço de cada um dos três, dizendo cheia de afeto "sentiram falta da Lídia, foi?".
Bia pega sua bolsa e meu cobertor e Lídia a imita, soltando o cachorro peludo relutantemente. Tento deixar o cachorro em paz, para ajudar a carregar as malas, mas parece que ele tem outros planos ao rodear meus pés sem me deixar sair do lugar.
– Parece que Fofo gosta de você – diz Jane, se abaixando e acariciando as costas do cão.
– Fofo? Que nem o cachorro do Harry Potter?
– Esse livro você leu?
– Não, mas assisti ao filme inúmeras vezes, cortesia de Júlia. – Jane abre um sorriso e solta o pelo curto de Fofo. – Aqueles são Baleia e Júnior – diz, apontando para um cachorro preto com patas brancas e para um peludo, respectivamente.
– Vocês precisam ajudar a carregar as malas também. – Lídia volta de dentro de casa sem tirar os olhos do celular.
– Já colocou as coisas lá em cima? – pergunta Jane.
– Não. Vim pegar o resto enquanto Bia leva as malas da sala para o quarto. – Sem nos encarar, Lídia se abaixa ao lado de Baleia, sorri de um jeito que poderia torná-la modelo de anúncio de dentistas e tira uma foto murmurando "xis".
– Não está cedo demais para alertar seus seguidores de sua vida?
– Que ideia boba, Jane... não existe isso de "cedo demais". – A garota sorri novamente e segura Baleia firme em seus braços. – E essa já deve ser a centésima foto do dia. – Sem pegar outra mala, Lídia cruza o jardim, de volta para dentro de casa.
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A fórmula matemática de Bernardo e Jane
Ficción GeneralJane nunca se rendeu às convenções sociais. Por isso, seus bens mais preciosos são seu carro (restaurado por suas próprias mãos), sua guitarra (por ser mais portátil que seu piano) e um caderno preto com todas suas músicas (às vezes) inacabadas. Ber...