Capítulo 29 - Bernardo

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Sabe em filmes de terror quando os personagens principais viajam durante horas, se perdem e acabam encontrando uma casa no meio do nada? Essa casa poderia ser a de Jane. Exceto pelas teias de aranha, tábuas nas janelas e uma assombração à espreita no sótão – ainda não encontrei esses símbolos do suspense na casa.

Mais de uma hora e meia depois, graças ao trânsito, chegamos ao lugar que de assombrada só tem o tamanho, a ausência de vizinhos e a quantidade de árvores e vida selvagem em volta. Não é como ela se morasse no meio de uma floresta, já que boa parte do terreno é formado por gramado baixo, mas as árvores ao redor da casa são altas e antigas.

As pouquíssimas casas que vimos no caminho se diferenciam apenas por serem cercadas por plantações de milho, café (as únicas coisas que consegui distinguir) e outras. Jane contou que não devemos nos surpreender se virmos vacas ou cavalos por perto, já que um dos vizinhos é bem displicente com seus animais. Quão legal é isso? Quer dizer, fui criado no meio da cidade e as únicas vezes em que vi coisas desse tipo foram na estrada e sempre à distância.

Até o ar daqui é diferente. Não é de espantar que Jane se recuse a morar em república, depois de aproveitar tudo isso diariamente.

Seguimos por um caminho em que a grama morreu, provavelmente pela entrada e saída constante de carros. Nos aproximamos da casa grande, com varandas em todo o primeiro andar, do lado um anexo, provavelmente a garagem. Jane estaciona em frente da porta desse galpão e desliga o carro ao mesmo tempo em que três cachorros enormes, cujas raças não consigo definir, circulam o carro.

– Não vai entrar na garagem? – pergunta Bia, tirando o cinto e se preparando para descer do carro. Não espero aviso para imitar seus movimentos.

– Se Raul não pegar no nosso pé, vou dar um trato no meu precioso. – Jane sai do carro, dá a volta, e começa a distribuir as malas. Antes de ajudá-las, preciso fazer carinho no cachorro malhado que me rodeia feliz com suas orelhas pontudas e pelo curto. Lídia imita meu gesto, acariciando o pescoço de cada um dos três, dizendo cheia de afeto "sentiram falta da Lídia, foi?".

Bia pega sua bolsa e meu cobertor e Lídia a imita, soltando o cachorro peludo relutantemente. Tento deixar o cachorro em paz, para ajudar a carregar as malas, mas parece que ele tem outros planos ao rodear meus pés sem me deixar sair do lugar.

– Parece que Fofo gosta de você – diz Jane, se abaixando e acariciando as costas do cão.

– Fofo? Que nem o cachorro do Harry Potter?

Esse livro você leu?

– Não, mas assisti ao filme inúmeras vezes, cortesia de Júlia. – Jane abre um sorriso e solta o pelo curto de Fofo. – Aqueles são Baleia e Júnior – diz, apontando para um cachorro preto com patas brancas e para um peludo, respectivamente.

– Vocês precisam ajudar a carregar as malas também. – Lídia volta de dentro de casa sem tirar os olhos do celular.

– Já colocou as coisas lá em cima? – pergunta Jane.

– Não. Vim pegar o resto enquanto Bia leva as malas da sala para o quarto. – Sem nos encarar, Lídia se abaixa ao lado de Baleia, sorri de um jeito que poderia torná-la modelo de anúncio de dentistas e tira uma foto murmurando "xis".

– Não está cedo demais para alertar seus seguidores de sua vida?

– Que ideia boba, Jane... não existe isso de "cedo demais". – A garota sorri novamente e segura Baleia firme em seus braços. – E essa já deve ser a centésima foto do dia. – Sem pegar outra mala, Lídia cruza o jardim, de volta para dentro de casa.

A fórmula matemática de Bernardo e JaneOnde histórias criam vida. Descubra agora