Capítulo 34 - Bernardo

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Seguro Jane pela cintura e a puxo mais para perto. Seu corpo no meu me faz sentir em casa, menos ansioso, e afasta todas as inúmeras possibilidades de eventos que poderiam dar errado. É claro que Jane ter compartilhado algo apenas para ficarmos quites me deixa furioso, mas duvido que haveria algum outro cenário em que ela me contaria algo pessoal por livre e espontânea vontade. Não tão cedo.

Deixo a frustração de lado e, sem pensar, beijo o topo de sua cabeça sobre meu peito. Contra todas as experiências passadas, Jane se ajeita ainda mais em mim, enquanto brinca com um fio solto, puído, da calça jeans. Tomo seu rosto em minhas mãos, levantando-o para encará-la, e contorno seu maxilar anguloso. A forma como ela se inclina sem resistência para meu toque me faz esquecer de uma boa parte dos meus medos. Faz com que pareçam mais irracionais que nunca.

– Eu gosto de você, Jane.

– Te desafiei a enfrentar o que parece ser seu grande trauma – responde, balançando a cabeça negativamente.

– Não foi sua culpa.

– Que tipo de distúrbio é esse? Estocolmo em menor escala? – ironiza, sem se afastar.

– Não fiz nada que eu não quisesse.

– Num desafio! Que eu propus! – Jane revira os olhos, como se não pudesse acreditar em tamanha irracionalidade. Nessas horas eu gostaria de saber o que se passa na cabeça dela. Como alguém pode ser tão evasiva assim, tão escorregadia?

– Jane, ninguém além de mim poderia ter me feito entrar naquele portal do inferno – digo, tentando soar o mais sincero possível, porque é a verdade. Eu não sabia o que iria acontecer e realmente quis acreditar que conseguiria. E de certa forma consegui, apesar de terem sido os seiscentos e cinquenta e sete segundos mais longos que me lembro.

Jane desvia o olhar, tentando se decidir se acredita ou não em mim. Sem esperar resposta, encosto o nariz em seu pescoço, acariciando-o de leve e sentido seu cheiro feminino e gostoso, misturado com meu suor. Afasto seu cabelo para ganhar melhor acesso e descubro uma tatuagem de uma nota musical atrás da orelha, coberta por alguns finos fios de cabelo. Eu beijo o lugar imaginando quando deve ter sido feita.

– O que você quer? – pergunta Jane meio rouca. Seus dedos deixaram em paz os puídos da calça e seguram meu rosto, delicadamente. Puxo a barra de sua camiseta sob a jaqueta, tocando em sua pele quente, para trazê-la ainda mais para perto. Há pouco tempo, o ônibus poderia ter tombado ilogicamente, nós poderíamos ter sido improvavelmente assaltados, eu poderia ter deixado o desespero tomar conta de mim e esquecido de respirar. Tantas coisas poderiam ter acontecido (e algumas aconteceram repetidas vezes em minha mente) que a ideia de esperar para ter algo de verdade com Jane parece ridícula.

– Você vai se arrepender depois – Jane sussurra, quando encosto minha testa na sua. Seu tom é sério, mas eu não poderia me importar menos. Estou desenvolvendo a teoria de que o que Jane mais quer é aquilo de que ela mais se proíbe. Apesar do seu carro chamativo, suas roupas pretas e atitude que combinam, Jane se guia pelo equilíbrio, evitando ao máximo sair de sua zona de conforto.

– Impossível – digo, controlando um riso descrente. Antes de poder ter alguma reação Jane acaba com os poucos centímetros de distância entre nós. Sem abrir espaço para dúvidas, ela inibe qualquer resposta que não seja nossos lábios unidos, fazendo promessas implícitas. Jane me puxa para si, em um emaranhado de mãos, roupas e gestos irresistíveis.

Os primeiros instantes são dedicados a encontrar o ritmo certo e não ceder a impulsos mais primitivos. Seus lábios macios e quentes se afastam dos meus, seus dentes roçam minha boca, numa mordida firme, antes de voltarem à confusão deliciosa de línguas. Levo uma das mãos do pescoço para sua cintura, trazendo-a ainda mais para perto.

A fórmula matemática de Bernardo e JaneOnde histórias criam vida. Descubra agora