Seis

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Assim que a tropa desapareceu de vista, Agoirá e Igaracê voltaram para onde os escravos ficavam.

Leonor ordenou para as outras índias voltarem para a cozinha e foi atrás deles. Mas Mãe Maria a seguiu.

- Agoirá?

- Sim moça Leonor.

- Eu acho que deveria contar o real motivo que me fez pedir ao meu pai que vosmecês ficassem. Eu não queria que participassem do ataque a uma aldeia tupinambá. Como vosmecês iriam se sentir se fossem obrigados a escravizar um irmão?

Agoirá e Igaracê olhavam para ela como se não compreendessem o que ela dizia.

- É mentira! – disse Agoirá dando-lhe as costas.

Igaracê segurou o braço do outro.

- Agoirá endoidou? Desrespeitar assim a moça Leonor?

- Eu não sei por que você pensa assim, Agoirá. Eu só pensei no sofrimento de vosmecês. – Leonor explicou.

- No nosso sofrimento? – índio voltou-se para ela.

- Sim! De pensar que vosmecês iriam ver seus irmãos escravizados.

- Agoirá vê seus irmãos escravizados cada vez que olha para ele mesmo. – o índio batia no próprio peito enquanto avançava na direção dela.

Leonor recuou assustada com a violência das palavras dele.

- Agoirá! – chamou Mãe Maria.

O índio parou a centímetros do rosto de Leonor e virou-se para a velha índia.

Mãe Maria começou a esbravejar com ele em tupi e Agoirá respondia na mesma língua e mesmo tom.

Embora compreendesse muitas palavras em tupi, Leonor ficou confusa com o diálogo rápido. Mas Agoirá disse uma palavra que deixou Mãe Maria pálida como se tivesse levado uma bofetada.

Ele olhou para a moça enquanto falava. A expressão em seu rosto era como se o índio tivesse falado a palavra em claro português.

Leonor sentiu que toda a compaixão que sentira por Agoirá desaparecera por completo. Enraivecida ela avançou contra o índio.

- Seu selvagem miserável! – ela tentou acertá-lo no rosto. – Eu lhe mostro quem é a rameira.

Agoirá segurou o pulso dela e o torceu trazendo o corpo dela contra o seu. Ele a segurou firme sob os olhares estupefatos de Igaracê e Mãe Maria. Leonor debateu-se, contudo sem conseguir se libertar.

Mas ela era filha de Dom Bernardo Duarte da Meira. E uma das primeiras coisas que Dom Bernardo deu para a filha foi um punhal do qual ela nunca se separava. E a ensinou bem como usá-lo.

Leonor retirou o punhal da cintura e passou pelo braço de Agoirá.

- Ai! – o índio a soltou olhando surpreso do talho em seu braço para a lâmina na mão da moça. - Então moça Leonor não precisa de Agoirá para defendê-la.

O índio movia-se de um lado para outro e Leonor só o acompanhava com os olhos.

- Sim, meu pai me ensinou muito bem como lidar com qualquer desgraçado que me ameace. Seja ele um gentil homem ou um selvagem como você. – ela brandiu o punhal para ele.

- Moça Leonor, por favor, acalma! – pediu Igaracê. Mãe Maria acompanhava tudo impassivelmente. Parecia até que a velha índia sabia porque aquele embate acontecia.

- Deixe Igaracê! Agoirá quer ver do que moça Leonor é feita. Mostre para nós que vosmecê é realmente filha de vosso pai. A senhora branca dos escravos. Igaracê diz que vosmecê é bondosa. Pois eu digo que moça Leonor não é bondosa. É filha de Dom Bernardo.

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