Oito

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Mal o dia amanheceu Leonor se levantou. João Guilherme dormia a sono solto e Mãe Maria também se levantava de seu canto.

- Minina Leonor? Já de pé? Deixa que Mãe Maria cuida de tudo.

- Sim Mãe Maria. Quero que a senhora prepare tudo para a nossa partida. Vamos voltar para Rio Santo.

- Sem a permissão de vosso pai?

- Quando ele souber o que aconteceu, ele me dará razão Mãe Maria. Eu não fico nesta casa nem por um minuto a mais.

- O que aconteceu, minina? Vosmecê tá alterada. Tá com febre?

Realmente a raiva tornava o rosto de Leonor corado como se ela estivesse febril. Falar de sua decisão com Mãe Maria fazia que a moça relembrasse os acontecimentos deploráveis da noite anterior.

- Não Mãe Maria. Eu não estou doente. – ela aproximou-se da índia. – Sim. Talvez eu esteja. Doente com a hipocrisia, com a devassidão dos homens. Nunca que alguém assim irá me tocar, Mãe Maria. Eu prefiro morrer.

Mãe Maria jogou-se aos pés de Leonor.

- Não! Minina não fala isso! Meu coração parte em dois.

A jovem ajoelhou-se e abraçou a velha índia.

- Desculpa Mãe Maria. – ela enxugou as lagrimas do rosto vincado. – Eu não vou morrer se vosmecê me ajudar. Anda, arruma tudo por aqui e acorde João Guilherme.

As duas se levantaram e Leonor foi na direção da porta.

- Minina, aonde vosmecê vai?

- Vou honrar o nome de meu pai. Assim como ele, eu nunca hei de faltar com a verdade. E D. Constancio precisa saber disso. – ela saiu do quarto.

Leonor desceu as escadas e, como esperava, encontrou D. Constancio as voltas com livros caixas.

- D. Constancio... – Leonor posicionou as mãos na frente do corpo.

- D. Leonor! – D. Constancio levantou-se da cadeira e foi ao encontro de Leonor com as mãos estendidas. - Eu sei que a senhora é uma moça prendada, consciente de seus deveres. Mas não precisaria ter se levantado tão cedo.

Ela desviou-se do toque dele.

- Eu levantei-me com o amanhecer, pois sei que o senhor também se levanta com o raiar do sol. E eu não teria sossego se não lhe falasse logo.

- Então diga, minha futura esposa. Por que é tão urgente que vosmecê falasse com tão humilde servo.

- Eu vim dizer ao senhor que estou deixando esta casa e voltando para Rio Santo.

Constancio a fitou como se ela tivesse falado em língua estranha.

- Como D. Leonor? Acho que não compreendi vosmecê.

- Estou a dizer ao senhor que estou voltando para Rio Santo. E eu vou contar ao meu pai de seu comportamento deplorável.

- O que?! D. Leonor eu estou tentando entender vossas palavras, mas eu só posso atribuí-las ao nervoso.

- Não, meu caro. – Leonor caminhou pela sala. – Eu estou tranquila e convicta de minha decisão.

- Sim, eu estou a ver. Mas de que comportamento deplorável vosmecê está a falar? Quando eu fui indelicado com vosmecê?

- Estou a falar da cena de devassidão sua e da índia chamada Carmo. – Leonor o viu ficar pálido. - Eu vi o senhor violentá-la. O senhor a machucou. E meu pai nunca permitiria o meu casamento com um hipócrita devasso como o senhor.

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