Quarenta e Um

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Após uma hora de caminhada da mata, o trio chegou ao que parecia um vale. Uma queda d'água cristalina dominava uma lagoa cuja superfície refletia a lua cheia que iluminava tudo ao redor com luz suave.

Vagalumes voejavam piscando sua delicada luz.

- Que lugar lindo! - exclamou Leonor esquecendo-se completamente do cansaço.

- Esse é Tachÿ. Meu povo vinha aqui na parada de caça. Agoirá vem pra lembrar povo.

Leonor sabia que o pai havia trazido Agoirá quando ele já era adulto. Mas as lembranças de sua vida antes do cativeiro permaneciam vividas na mente do índio.

- Agoirá cuida vigiar. Moço de longe precisa descansar.

- Eu cuido dele, Agoirá. - disse Leonor.

- Sim. Agoirá ajuda moça Leonor a levar moço de longe.

- Você não vai dizer meu nome mesmo, não é índio? - Thomas comentou com voz baixa. A cabeça doía horrores.

- Moço de longe tem nome estranho. Agoirá prefere moço de longe. Vem, Agoirá leva lugar pra descansar.

Os três começaram a circundar a lagoa em direção a um lugar plano encoberto por árvores, quase uma cabana.

Eles se sentaram e Thomas deitou-se imediatamente, fechando os olhos.

- Moço de longe precisa cura. Agoirá vai buscar erva. - o índio levantou-se e embrenhou-se na mata.

Leonor moveu-se para perto e Thomas e colocou a cabeça dele no colo

- Como vosmecê se sente?

- Agora bem. Com você assim perto. Mas minha cabeça dói como o diabo.

- Agoirá vai trazer algumas ervas para aliviar sua dor de cabeça. - Ela acariciava os cabelos dele, o relaxando.

- Leonor, por mais que eu esteja adorando esse carinho, é melhor você parar. Senão eu vou acabar dormindo e isso não é bom no meu estado.

Ela parou na mesma hora.

- Oh! Me desculpa!

Os dois ficaram em silêncio até que ela perguntou.

- D. Constâncio me disse que vosmecê seria enforcado pelo meu sequestro. Por que vosmecê não foi embora? Nada disso teria te acontecido.

- Eu nunca teria paz se tivesse ido embora e deixado metade de mim aqui. - ele segurou a mão dela e a acariciou com o polegar - E minha consciência não permitiu que eu deixasse homens de bem serem mortos sem ao menos poder se defender.

- Vosmecê preferiu ficar e se sujeitar a perseguição de D. Constâncio?

- Como você, que podia estar a salvo com seu pai e voltou para me tirar das chamas.

- O amor nos faz cometer loucuras. - Leonor acariciou o rosto dele.
- Então você entende por que eu fiquei. - Thomas a olhou diretamente nos olhos, fazendo o coração da moça acelerar.

Ela teria se inclinado e o beijado se Agoirá não tivesse chegado naquele exato momento.

- Pronto, moça Leonor. Agoirá trouxe ervas pra curar moço de longe.

- Obrigada, Agoirá. Vou preparar o remédio agora. - ela pegou as ervas e foi para a beira da lagoa.

- Moça Leonor corajosa, moço de longe. Luta como onça pra quem ama. - depois de dar seu recado o índio levantou-se. - Agoirá vai vigiar nas pedras lá alto. - ele apontou para algumas pedras perto da queda d'água. - Moço de longe fica junto moça Leonor.

A Terra e o Mar - o encontro de dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora